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Conceição Evaristo participa do evento Mulherio das Letras

publicado: 08/10/2017 00h05, última modificação: 07/10/2017 02h41
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Escritora nascida em uma favela de Belo Horizonte e que atualmente leciona na UFMG fará a palestra de abertura - Foto: Divulgação

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Linaldo Guedes

Será da escritora Conceição Evaristo a palestra de abertura do “Mulherio das Letras”, evento que deve reunir cerca de 500 escritoras de todo o país em João Pessoa, no mês de outubro, para discutir literatura e outros assuntos ligados às causas feministas. A palestra de abertura será no dia 12 de outubro (uma quinta-feira), na Fundação Casa de José Américo. Conceição Evaristo ganhou o prêmio Jabuti na categoria contos, em 2016, e vai falar sobre “Maria Firmina dos Reis e as mulheres negras nas literaturas brasileiras”. O evento é uma realização do Movimento Mulherio das Letras, em parceria com a Fundação Espaço Cultural (Funesc), Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba (Secult) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A história de Conceição Evaristo é emblemática. A escritora nasceu numa favela da zona sul de Belo Horizonte, vindo de uma família muito pobre, e teve que conciliar os estudos trabalhando como empregada doméstica, até concluir o curso normal, em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso público para o magistério e estudou Letras na UFRJ. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros. É mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Publicou, entre outros, “Ponciá Vicêncio” (2003), “Becos da Memória” (2006), “Poemas da recordação e outros movimentos” (2008) e “Histórias de leves enganos a parecenças” (2016). Suas obras abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Atualmente leciona na UFMG como professora visitante. Este ano, foi tema da Ocupação do Itaú Cultural de São Paulo.

Em sua palestra no “Mulherio das Letras”, a escritora vai falar sobre Maria Firmina dos Reis, que, nascida no Maranhão, em 1825, é considerada a primeira romancista brasileira. Em 1847, foi aprovada em um concurso público para a cadeira de instrução primária, sendo assim a primeira professora concursada de seu Estado. Maria Firmina publicou em 1859, seu primeiro romance abolicionista “Úrsula”, o primeiro escrito por uma mulher negra brasileira. O romance a consagrou como escritora, sendo também considerado o primeiro romance da literatura afro-brasileira. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publica o livro “A escrava”. Ao aposentar-se em 1880, fundou uma escola mista e gratuita. Maria Firmina dos Reis morreu aos 92 anos, na cidade de Guimarães, no dia 11 de novembro de 1917.

O I Encontro Nacional do Mulherio das Letras acontece de 12 a 15 de outubro. Além da palestra de Conceição Evaristo, no primeiro dia do evento serão lançadas as coletâneas de poesia e de prosa, que leva o nome do encontro, organizadas pelas escritoras Vanessa Ratton e Henriette Effenberger, respectivamente, e a coletânea poética “Outras Carolinas: Mulherio da Bahia”, organizada por Anajara Tavares, Ana Fátima dos Santos e Lia Sena. Em seguida, as compositoras paraibanas, Socorro Lira e Gláucia Lima, vão homenagear a escritora Maria Firmina, recitando seus poemas. Toda a metodologia do encontro será apresentada pela escritora paulistana-paraibana, Maria Valéria Rezende, no primeiro dia do encontro.

Maria Valéria Rezende conta que o “Mulherio das Letras” é um movimento que tem como proposta dar visibilidade aos trabalhos desenvolvidos por mulheres no mercado literário. “Queremos criar um movimento, algo que marcará a história e trará igualdade. É algo prático, além de ideológico. Um movimento que vai permanecer ativo até que ele não seja mais necessário, o que só vai acontecer quando as mulheres estiverem em pé de igualdade com os homens no meio literário.”, afirma.