Considerado um dos principais grupos orquestrais do Nordeste, a Filarmônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que é regida por André Muniz e formada por 50 integrantes, realiza única apresentação gratuita hoje, a partir das 20h, na Sala Radegundis Feitosa, instalada no Centro de Comunicação, Turismo e Arte (CCTA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de João Pessoa, encerrando a turnê pela região.
O repertório do concerto Excursão Filarmônica UFRN – Turnê pelo Nordeste, cujo solista é o trompetista Flávio Gabriel, tem quatro peças musicais, das quais o destaque é a estreia de ‘Concerto Negro para Trompete e Orquestra’, composta por Gílson Santos. Depois de 2001 e 2013, essa será a terceira vez que a Filarmônica UFRN se apresentará na Paraíba. “Agora será uma passagem com bem mais potencial, porque o repertório demanda técnica e precisão na execução das músicas, principalmente na ‘Sinfonia nº 8 em Sol Maior’, de Antonín Dvořák”, apontou o maestro-titular André Muniz.
O regente, que também é o diretor artístico da Filarmônica UFRN, desde a criação do grupo, informou que o concerto vai começar com a ‘Abertura Folclórica’, do potiguar Mário Tavares. Na primeira parte da música, o público vai escutar as cordas tocando em uníssono um tema rítmico, seco, ornamentado e imitado pelos outros naipes.
Em seguida, em contraste, a peça continua, mas de forma delicada, lenta, com as madeiras trazendo suavidade aos ouvidos. Depois, haverá a execução da peça ‘O Tear das Estórias da Terra do Sol’, do cearense Caio Facó, que se inspirou em aspectos sociais e culturais do Nordeste para a compor. “Essa música foi escrita especialmente para a Filarmônica, que a apresentou durante o Festival Internacional de Campos do Jordão, em São Paulo, no ano passado, e que é o maior evento do gênero, na América Latina”, disse o maestro.
A terceira obra que o público ouvirá é ‘Concerto Negro para Trompete e Orquestra’, do carioca Gílson Santos. “Essa música vai estrear em João Pessoa nesse concerto e foi composta neste ano de 2023 por Gílson para homenagear o seu amigo, o trompetista paulista Flávio Gabriel. É uma peça com ritmos afros, numa referência à cultura de matriz africana”, comentou o regente André Muniz.
A quarta e última obra do repertório é a ‘Sinfonia nº 8 em Sol Maior’, do checo Dvořák, que a compôs em 1889, por ocasião da sua admissão na Academia de Praga, na qual a conduziu na estreia, ocorrida em 2 de fevereiro de 1890. A propósito, também foi na capital da República Checa que o solista Flávio Gabriel, considerado um dos mais destacados trompetistas da sua geração, conquistou o 2º lugar no Concurso Internacional de Música Primavera de Praga, em 2010.
No Vaticano
“João Pessoa não podia ficar de fora dessa turnê da Filarmônica UFRN pela região, porque é a tradicional capital da música sinfônica do Nordeste. E eu escolhi esse repertório porque o grupo, formado por alunos da escola de música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tem um compromisso muito grande com a música sinfônica brasileira e da região. O compositor Mário Tavares, por exemplo, contribuiu muito para a música sinfônica no país, tendo colocado a orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro num nível muito alto, nos anos 1970”, afirmou André Muniz.
O regente ressaltou que, no dia 12 de dezembro de 2018, data da Padroeira das Américas, Nossa Senhora de Guadalupe, a Filarmônica UFRN se apresentou para o papa francisco no Vaticano. O maestro André Muniz relatou como esse evento pode ser realizado. “No dia 12 de dezembro de 2017, nós executamos para o cônego José Mário, na antiga catedral de Natal, a ‘Grande Missa Nordestina’, do compositor pernambucano Clóvis Pereira, escrita especialmente para o coral da UFPB. Ele disse que aquela era uma obra que o papa Francisco adoraria escutar, porque tinha o texto da missa em latim, mas com ritmos nordestinos. Aí eu disse para ele: por que o senhor não articula uma apresentação para o papa? E isso foi feito um ano depois. Foi um momento muito impressionante”, disse ele.
A Excursão Filarmônica UFRN foi iniciada no dia 14 deste mês, em Natal (RN), e já se apresentou nas cidades de Aracaju (SE) e Recife (PE). Ao longo dos anos, o grupo tem se destacado como um laboratório orquestral para o desenvolvimento de músicos com projeção tanto no mercado nacional quanto no internacional. A formação começa desde o processo seletivo, no qual os alunos passam por testes similares aos realizados por orquestras de renome internacional, com todas as etapas realizadas de forma anônima.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de outubro de 2023.