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Cores e carinho marcam exposição que estreia amanhã

publicado: 09/05/2024 08h54, última modificação: 09/05/2024 08h54
Mostra ‘Acalanto’, de Jo Cortez, fica em cartaz até 17 de maio na Fundação Casa de José Américo
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Passando para o lado, confira algumas das obras de Jo Cortez que estarão expostas na FCJA e evocam as músicas de ninar | Imagens: Divulgação
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por Esmejoano Lincol*

“O melhor lugar do mundo é no teu abraço”, diz legenda que compõe um dos tenros quadros de Jo Cortez abordando um tema que todos nós conhecemos – e sentimos – muito bem: o acalanto, prática de se cantar músicas de ninar para fazer os pequenos dormirem, é o nome da exposição que a artista plástica estreia amanhã, na Fundação Casa de José Américo (FCJA), situada no bairro de Cabo Branco, em João Pessoa. A vernissage começa às 14h e as obras permanecerão em exposição até o próximo dia 17 de maio, com visitação das 9h às 16h e entrada franca. O evento será promovido em homenagem ao dia das mães, a ser comemorado no próximo domingo. 

Os trabalhos selecionados para a FCJA já foram expostos em Lisboa, entre os anos de 2022 e 2023, mas esta nova exibição também inclui trabalhos inéditos, trazidos de Portugal – onde Jo reside atualmente. Serão 26 telas, 11 cerâmicas vitrificadas e alguns tecidos, que utilizam técnicas e materiais mistos (como tinta acrílica e aquarela) para pintar o aconchego entre mães e filhos com cores diversas – sejam nos motivos que compõem cada quadro, sejam nas etnias das pessoas retratadas. Todavia, as paisagens de fundo de cada obra são parecidas: casas dispostas de maneira “enladeirada”, ornadas por passarinhos, luas e estrelas.  

Débora Oliveira é assessora da presidência da FCJA e curadora do Acalanto em João Pessoa. Ela utiliza as palavras “afeto”, “representatividade” e “segurança” para definir o conjunto de obras que selecionou, comentando sobre outros detalhes que o público encontrará durante a visita. “Vamos ter uma ambientação com textos gravados de mães que migraram de outros países para o Brasil. Suas falas estarão sendo ouvidas dentro do espaço da exposição”, adianta Débora.  

Esse trabalho é definido pela artista-autora como sendo uma “investigação sobre a melodia da infância e vínculo cultural”. Jo, mãe de três filhos, acalantou ela mesma seus rebentos e tem memórias de ter sido ninada por sua genitora, quando era criança. “Me lembro de estar encostada no peito da minha mãe e ouvindo a voz dela através de sua caixa torácica, como se estivesse vindo do coração”, detalha a artista. Ela também busca nos registros da sua infância a inspiração para compor esta e outras obras. “Foi tudo muito simples, de pé no chão, tomando banho de chuva. Comecei a pintar para registrar o que tinha na minha mente e que não conseguia colocar para fora de outra forma” explicita. 

Pintando profissionalmente desde 2006, Jo é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e tem mestrado em Educação Artística pela Universidade de Lisboa (Ulisboa), para onde se mudou há cinco anos e pretende ficar – mas ela se fará presente na estreia de sua exposição em João Pessoa, amanhã. “Aqui em Portugal me aprofundei no tema da infância. O livro de histórias que utilizava nas minhas vivências foi editado e lançado pela Flamingo em 2021”, esclarece Jo sobre E Se Eu Voar..., publicação que possui ilustrações concebidas por ela mesma. 

Parte da inspiração de Acalanto também vem de outras histórias reais, colhidas em sua vivência como “cidadã do mundo” – a artista esteve em países da África, Américas e Europa desenvolvendo o “Sabiá”, projeto de arte-terapia para crianças em situação de vulnerabilidade. “Em Lisboa conheci outras mulheres imigrantes e percebi que o ato de acalentar é uma herança cultural de qualquer lugar do mundo. Recebemos muitas refugiadas de guerra e, além da roupa do corpo, essas memórias são algumas das poucas coisas que elas carregam consigo”, afirma a artista.

Jo atendeu a reportagem de A União no meio de uma produção artística: um bordado sobre um tecido previamente pintado.

“Não sei bordar, mas estou bordando uma palavra dentro de um coração. Neste momento me lembrei muito da minha mãe. Ela não sabia falar o ‘eu te amo’, mas ela amava. Demonstrando isso de outras formas, como o seu acalanto comigo”, finaliza. 

Acalanto
- Exposição de Jô Cortez
- Abertura amanhã, às 14h
- Na Fundação Casa de José Américo (Av. Cabo Branco, 3336, Cabo Branco, João Pessoa)
- Entrada franca

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de maio de 2024.