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Cris Peres é premiada no Foco ArtRio 2024

publicado: 01/10/2024 09h06, última modificação: 01/10/2024 09h06
Paraibana participou com duas exposições conceituais no evento fluminense
Créditos para Acervo Pessoal.jpeg

Cris Peres e a desconstrução da cadeira, base do experimento “Levante”, premiado no Rio | Foto: Arquivo pessoal

por Esmejoano Lincol*

A artista visual paraibana Cris Peres foi uma das vencedoras do Prêmio Foco ArtRio 2024, durante o festival de mesmo nome, ocorrido na capital fluminense. Ela foi premiada pela residência Cabra, espaço de exibição de arte e artesanato popular na Ilha do Ferro, no estado de Alagoas, competindo com cerca de 700 inscritos. Ela também participou do ArtRio 2024 como expositora, apresentando o experimento “Levante no 01” e “Memória do conforto”. Além do reconhecimento, ela foi convidada junto aos outros quatro vencedores para integrar exposições a partir do mês que vem, em uma das galerias parceiras da mostra. 

Cris trabalha a partir de múltiplos materiais, unindo em suas obras gravuras e esculturas, estas geralmente produzidas com objetos do dia a dia. Atualmente, ela chefia a Galeria Archidy Picado, da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), em João Pessoa, local que serve de pesquisa para suas próprias criações, segundo a artista. “Minhas práticas de trabalho se relacionam com o contexto histórico e a memória, com os binômios da presença e da ausência, do cheio e do vazio. Nesse sentido, o processo e a interação com a prática dos artistas e artesãos locais são os meus principais pontos de interesse”, definiu.

Experimento “Levante no 01” e “Memória do conforto”, apresentados durante o ArtRio 2024, relacionam-se, com o segundo perfazendo um desdobramento do primeiro. “Levante”, produzido em 2022, trabalha com a desconstrução de um mobiliário conhecido: a cadeira. “Ela deixa de ser um utensílio do design e passa a ser pensada como material. As formas extraídas são desarticuladas para reproduzirem a inoperância do uso a que estamos acostumados, como um convite a esse levante. Um protesto que se faz de pé”, explica Cris.

Já “Memória” utiliza o concreto e o poliestireno (usado em estofados) para tratar da dissonância entre materiais duros e maleáveis, numa narrativa que fala do descanso como uma “utopia”. “O contexto que envolve todos esses trabalhos está interessado em dar porosidade a determinadas relações de poder, inoculadas no símbolo da demarcação de um lugar no mundo, pré-agendado historicamente pelos grupos privilegiados”, pontuou.

Além da emoção de ter sido reconhecida, ela assevera que a presença no ArtRio ajudou-a a expandir o alcance de seu trabalho, “borrando” limites pré-existentes, para além da Paraíba e do Rio de Janeiro. “Minhas experiências com o mundo e com o que há de político atravessam minha vivência como mulher, artista, negra e nordestina: sem esses abrigos, não reconheceria a verdadeira importância desse prêmio na minha trajetória”, finalizou Cris.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 01 de outubro de 2024.