A riqueza cultural das tradições orais afro-brasileiras e uma coletânea de reflexões e memórias individuais se encontram em um evento voltado para o universo dos quadrinhos. A Comic House, gibiteria itinerante especializada em quadrinhos, recebe amanhã às 18h, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em frente à Gibiteca Henfil, sua 58a sessão de autógrafos, com os quadrinistas Hugo Canuto e Samuel de Gois. O bate-papo contará com a mediação de Manassés Filho, proprietário da loja. Ao final do encontro, Canuto dará autógrafos a Contos dos Orixás - O Rei do Fogo. Já Gois assinará o seu O Mundo É um Muído.
De acordo com Hugo, Contos dos Orixás é uma série de histórias em quadrinhos inspirada na mitologia e na cultura afro-brasileira, voltada para a difusão da diversidade desse universo através das histórias de heróis, seus reis e rainhas. “Nós temos dois álbuns lançados e um terceiro que vai sair no próximo ano. A ideia é justamente através dessa mídia, através dessa estética, mostrar a raiz dessa cultura, que é a chamada Iorubalândia. Hoje, a Nigéria, no Oeste africano, região do Benin, de onde vieram parte dos povos escravizados durante o período terrível que foi a diáspora”, explica Hugo.
O Mundo É um Muído se trata de uma coletânea de tiras que envolvem desde materiais do início da carreira de Samuel, até conteúdos inéditos, com foco nos trabalhos mais reflexivos do autor. O quadrinista afirma desenhar e consumir HQs desde a infância e diz que começou a publicar suas tirinhas on-line em meados de 2004. A partir daquele ano, vem acompanhando a evolução na internet e profissionalizando ainda mais o que começou apenas como um hobby, em produções que fogem do clichê das tiras humorísticas.
SAMUEL DE GOIS + HUGO CANUTO
- Amanhã, às 18h, no Espaço Cultural (R. Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho, João Pessoa).
- Entrada franca.
Tiras desconstrutivas
Xangô, Ogum, Oxóssi. Os terreiros do candomblé são parte indissociável tanto da vida quanto da arte de Hugo Canuto, em criações voltadas à conscientização do grande público a respeito das manifestações culturais e religiosas afrobrasileiras. “A gente cria uma obra que dialoga principalmente com as pessoas que não têm nenhum conhecimento sobre esse universo. A ideia é justamente chegar em um público que muitas vezes não tem conhecimento ou tem preconceito e mostrar, desconstruir, através da arte, esses preconceitos”, ressalta Hugo.
Contos dos Orixás é o primeiro projeto do quadrinista soteropolitano. Ele conta que está finalizando outro trabalho de fantasia épica, a ser lançado ainda esse ano, com inspiração nas culturas pré-colombianas, intitulado A Canção de Mayrube. Ambos os projetos foram lançados em campanhas de financiamento pela plataforma Catarse. Hugo participou, ainda, de uma mesa sobre narrativas negras no fim de semana, dentro da programação do Imagineland 2024, na capital.
“É uma honra ficar ao lado do Hugo, que é um artista que admiro faz muito tempo. Esse reconhecimento dos pares é a prova que percorri bem o meu caminho”, declara Samuel, partilhando da mesma expectativa de Manassés acerca do evento. “Sempre costumo afirmar que realizar uma sessão de autógrafos, vai muito mais além do que o leitor ter nas mãos uma determinada obra. É um momento único, uma experiência que causa muita alegria para o leitor, ter contato com quem escreveu o livro ou HQ”, destaca o mediador do evento.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de julho de 2024.