Notícias

Dramaturgia

Curso da Funesc apresenta espetáculo

publicado: 15/12/2023 09h43, última modificação: 15/12/2023 09h43
Hoje e amanhã, no palco do Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa, alunos concluintes encenam a peça ‘Cidade Cão’
Cidade Cão - Fotos Sarah Isidoro Divulgação (2).jpg

Com a estética do teatro do absurdo, espetáculo promovido pelos alunos concluintes está totalmente atrelado ao mundo real e atual - Foto: Sarah Isidoro/Divulgação

por Anderson Lima* (Especial para A União)

Os alunos do Curso de Teatro da Fundação Espaço Cultural (Funesc) apresentam, hoje e amanhã, o espetáculo Cidade Cão, fruto da conclusão do módulo iniciante, que este ano aconteceu entre março e dezembro, culminando em apresentações de peças teatrais. As apresentações acontecem sempre às 20h, no Teatro Paulo Pontes, localizado nas dependências do Espaço Cultural, em João Pessoa. As entradas custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), podendo ser adquiridas através do perfil no Instagram (@cidadecao) ou na bilheteria, na hora do evento. A classificação indicativa é 14 anos.

Com uma cabeça decepada no meio da rua, um relógio que pressiona o andar apressado, um trabalho que exige uma eficiência maior, um sistema de segurança que aprisiona. Essa é a sinopse da peça. Retratando uma cidade fictícia, mas fazendo relação com a realidade, a produção foi inspirada nos contos A Cabeça, de Luiz Vilela, Nunca é Tarde, Sempre é Tarde, de Silvio Fiorani, De Cima Para Baixo, de Artur Azevedo, e Pequenas Distrações, de Gregório Bacic.

“Dirigir um trabalho com atores e atrizes iniciantes é sempre um desafio”, resume o diretor Léo Palma. “São pessoas completamente diferentes, de contextos diferentes que se juntam nessa experiência. É sempre muito rico ver o desenvolvimento de cada pessoa. Muitas vezes iniciam o ano ainda muito retraídos, tímidos. Por isso, é muito bonito ver a superação de cada um. O resultado é este trabalho que foi feito a muitas mãos. Acredito que o principal ensinamento desse processo é que teatro é uma arte coletiva”.

Aluno concluinte do curso, o ator Ruan Araújo descreve que foi uma experiência singular na sua vida. “Eu já tinha ouvido falar do curso, principalmente na referência que ele teve em formar grandes nomes do teatro paraibano, mas precisei vivenciar isso de perto, e assim mudou para sempre minhas perspectivas de teatro. A gente aprende desde a base até chegar neste momento, que é a montagem da peça. Eu entendi que teatro vai além da atuação”, explica ele, que interpretará uma velha fofoqueira.

Para Ruan, participar do curso foi marcante, pois ele começou a entender melhor sobre o seu corpo. “Artisticamente falando, como o meu corpo se torna um objeto de trabalho, de cena e as milhares de possibilidades que eu tenho em cima do palco, a partir do conhecimento que tenho sobre ele. Esse instrumento é o nosso corpo e sobre como ele nos dá possibilidades e com isso conseguir ter um domínio melhor dos personagens”.

Ele espera que o público possa refletir sobre a realidade dos dias de hoje. “Trazemos um enredo para o espetáculo totalmente atrelado ao mundo real e atual. Então, por mais que os espectadores possam olhar para a apresentação e achar que tudo aquilo que estamos apresentando seja um absurdo, ainda é a realidade. Eu espero que, de certa forma, traga uma reflexão ao público”, destaca Ruan Araújo.

A atriz Maria Luiza Bandeira de Melo Diniz contou como foi a sua experiência. “Superou todas as minhas expectativas, o curso é dividido em duas partes, inicialmente estudamos, conhecemos e exercitamos tudo do universo teatral. São aulas que, por vezes, levam a gente até a nossa exaustão, levamos nosso corpo para movimentos nunca antes experimentado, conhecemos sobre onde tudo começou e os caminhos percorridos para chegar até aqui”.

Maria Luiza vai encarnar uma trabalhadora que, diante de tantas demandas e serviços dados a ela fora de sua função, vive numa constante pressão que perpassa as grades da repartição em que trabalha, infiltrando-se em seu lar, o que a leva a sempre estar estressada e em constante atraso. “A estética do teatro do absurdo que usamos nos permite rir um pouco e tornar mais leve aquilo que, por vezes, nos assombra”.

A artista está muito confiante devido ao fato de o grupo estar inteiramente empenhado na produção do espetáculo. “Os professores Léo Palma, Vittor Blam e a assistente de direção Lainne Melo foram verdadeiros mestres nesses meses, e, junto a eles, nós botamos a mão na massa e desde então a produção não parou. Confeccionamos tudo que aparecerá em cena, tudo manual, artesanal e com muita dedicação. Ensaiamos em feriado, fazemos questão de ter aula extra, então não tem como não ter uma expectativa alta. Nós estamos inteiramente preparados para tremer o chão do Teatro Paulo Pontes e soltar os cachorros no palco”, ressalta ela.

Acessibilidade

A partir de 2022, o Curso de Teatro da Funesc iniciou uma pesquisa de acessibilidade em Libras, incluindo intérpretes na cena para oferecer uma experiência teatral completa às pessoas surdas. Neste ano, a inclusão ganhou ainda mais força com a participação de uma aluna surda no curso, que contribuiu como consultora na construção da acessibilidade.

Durante as apresentações de Cidade Cão, haverá três intérpretes em cena, caracterizados e juntos aos atores, não ao canto do palco, como se vê comumente. “Em nossa turma, há uma aluna surda e com ela aprendemos diariamente tudo que envolve a comunidade e como é delicado e fácil de errar por não conhecermos esse mundo”, pontua Maria Luiza Diniz. “Inclusive, por conta disso, tivemos um curso de Libras por um período relativamente rápido, mas que foi muito importante para conhecermos um pouco mais da língua e sabermos nos comunicar minimamente”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de dezembro de 2023.