Guilherme Cabral
Seis filmes - dos quais cinco no gênero documentário e um de ficção, realizados por negros e indígenas - integram a Ethos - 1ª Mostra Étnico-racial do Curso de Cinema da Universidade Federal da Paraíba que começa hoje e se prolongará até amanhã, com exibições gratuitas ao público iniciando sempre a partir das 15h, no Cine Aruanda, instalado no Centro de Comunicação Turismo e Arte (CCTA) da própria instituição, em João Pessoa. A curadoria do evento - cuja programação ainda inclui, após as sessões, a realização de debates com especialistas da área e as presenças da Doutora Neta Trigueiro e do artista plástico Tony Neto como convidados - foi elaborada por alunos da primeira turma de Cinema e Audiovisual da UFPB, que estarão concluindo o curso neste mês de junho.
“É muito importante expor à sociedade o que está sendo produzido no âmbito acadêmico. Os filmes correspondem ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) desses alunos e a Mostra serve para que a sociedade possa comprovar como são formados os profissionais da área do audiovisual e tem o objetivo de aproximar a temática étnico-racial da academia e da produção audiovisual”, disse para o jornal A União o professor da UFPB Carlos Cartaxo, cujos trabalhos dos 15 alunos de sua disciplina, denominada Seminário Temático I - Educação das Relações Étnico-raciais, estão incluídos na programação do evento, com os estudantes de Curadoria do Audiovisual, ministrada pelo professor Filipe Barros Beltrão.
Hoje, o primeiro dia da Mostra, serão exibidos filmes com realizadores negros. A exibição começa com o documentário intitulado Caixa D’Água: Qui-Lombo é Esse?, produção de 2012 dirigida por Everlane Moraes Santos e com 15 minutos de duração e que destaca a necessidade do resgate mnemônico das histórias de vida de uma comunidade quilombola aracajuana, a qual resiste em meio à urbanização desenfreada da cidade, estando o foco do trabalho na preservação da oralidade das 55 pessoas entrevistadas e na valorização da cultura negra sergipana.
Depois, estará sendo exibido Alma no olho, produzido em 1973, com 11 minutos de duração e dirigido por Zózimo Bulbul, que é uma metáfora sobre a escravidão e a busca da liberdade através da transformação interna do ser, num jogo de imagens de inspiração concretista e que faz uma reflexão sobre a identidade negra no Brasil, por meio de mímica e linguagem corporal focando a origem africana, a colonização européia e a liberação através da identidade cultural. Na sequência, outro documentário, Lápis de cor, produção de 2014 com 16 minutos e dirigida por Larissa Fulana de Tale que aborda a representação racial no universo infantil e a maneira como o padrão de beleza eurocêntrico afeta a auto-imagem e auto-estima de crianças negras, revelando a ação silenciosa do racismo na infância.
E, na programação de hoje, ainda está incluída a exibição do filme de ficção intitulado O dia de Jerusa, dirigido por Viviane Ferreira, com 20 minutos de duração, produzido em 2014 e que é a narrativa do encontro de uma jovem e uma senhora residente do bairro do Bixiga, localizado no centro de São Paulo. Nesse sentido, Silvia trabalha com pesquisa de público para uma marca de sabão em pó e, ao bater na porta de Jerusa, é surpreendida com respostas nada convencionais e o diálogo a leva a compreender a vida de outra maneira, menos rápida e menos quantitativa.
A 1ª Mostra Étnico-racial será encerrada amanhã com programação composta por dois filmes, ambos documentários. O primeiro, produzido em 2001 e com 35 minutos de duração, intitula-se Das crianças Ikpeng para o mundo, dirigido por Natuyu Yuwipo Txicão e retrata quatro crianças Ikpeng apresentando sua aldeia respondendo à vídeo-carta das crianças da Sierra Maestra, em Cuba. Com graça e leveza, elas mostram suas famílias, as brincadeiras, as festas, enfim, seu modo de vida. E, curiosas em conhecer crianças de outras culturas, elas pedem para que respondam à sua vídeo-carta. O outro é A Arca dos Zo’é, produzido em 1993, com direção de Vincent Carelli e Dominique Tilkin Gallois e que, ao longo de 21 minutos, relata que os índios Waiãpi, que conheceram os Zo’é através de imagens em vídeo, decidem encontrá-los no Norte do Pará e documentá-los. Os Zo’é proporcionam aos visitantes o reencontro com o modo de vida e os conhecimentos dos seus ancestrais. Os Waiãpi, em contrapartida, informam os Zo’é sobre os perigos do mundo branco que se aproxima, e que os isolados estão ansiosos por conhecer.