Notícias

cinema

Da rebeldia à música como diálogo

publicado: 04/09/2025 08h34, última modificação: 04/09/2025 08h34
O cineasta André Luiz Oliveira conversa com o público sobre “Meteorango Kid” e “Meu Amigo Lorenzo”
Meu Amigo Lorenzo - 01.jpg

“Meu Amigo Lorenzo”, deste ano, é retrato pessoal | Fotos: Divulgação/Atman Filmes

por Daniel Abath*

Entre um jovem rebelde dos anos 1960 e um músico que testemunha a força transformadora da musicoterapia, o cineasta baiano André Luiz Oliveira transita por mais de meio século de cinema. O Cine Bangüê do Espaço Cultural, em Tambauzinho, apresenta hoje dois trabalhos do diretor, separados por 55 anos: Meteorango Kid, o Herói Intergaláctico (1969, classificação 14 anos), às 17h, sessão gratuita; e Meu Amigo Lorenzo (2024, classificação livre), às 19h, com ingressos vendidos na bilheteria e seguido de debate com o diretor e a musicoterapeuta Clarisse Prestes, mediado por Francisco Xavier Neto. 

“Meteorango Kid”, de 1969, é fruto de energia juvenil radical | Divulgação/Lume Filmes

Marco do Cinema Marginal nacional, o agressivo Meteorango Kid acompanha o jovem Lula, um revoltado universitário de Salvador que faz de tudo para chocar a alta burguesia da cidade. Já Meu Amigo Lorenzo é longa documental sobre a duradoura amizade construída por meio da música entre André Luiz Oliveira (que é também músico) e Lorenzo Barreto, um menino autista.

A partir de um negativo de fita bastante deteriorado, Meteorango Kid teve sua restauração concluída em 2022. A revitalização trouxe fôlego novo ao longa, exibido recentemente em eventos nacionais, a exemplo do Festival de Brasília do ano passado.

Para Oliveira, rever a obra que realizou aos 21 anos é sempre um reencontro com uma energia juvenil radical. “O Meteorango era literalmente um filme explosivo em todos os sentidos. Desde o dia em que ele foi projetado pela primeira vez, no Festival de Brasília de 1969, eu vejo o ‘dano’, ou o abalo, que ele causa nas pessoas conservadoras, mais acomodadas”, diz ele.

Mesmo diante da oportunidade de alterar trechos durante a remasterização, o diretor decidiu não modificar nada. “Se eu tivesse feito concessões, o filme não teria essa permanência. Mas o filme já não é mais meu. Está no mundo. Preferi assumir as críticas atuais e deixar como está, já que um dos motivos que ele permanece vivo é porque provoca”.

Se Meteorango Kid nasceu de uma urgência contestatória, Meu Amigo Lorenzo foi iluminado pelo desejo de registrar, como filme-testemunha, o trabalho de musicoterapia de sua companheira, Clarisse Prestes, que acompanhou Lorenzo dos quatro aos 24 anos de idade. “Começou como um registro e acabou virando uma obra afetuosa e necessária. Observando o comportamento de Clarisse nos atendimentos, percebi que eu, como músico, criava uma conexão muito forte com ele”, conta.

Ao contrário de uma construção planejada, Oliveira descreve o documentário como espontâneo: “É tudo verdade. E essa é a primeira vez que me encontro na situação de exibir os dois filmes juntos. Talvez seja o retrato de uma trajetória inteira”, conclui.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de setembro de 2025.