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Dando a letra

publicado: 20/10/2025 08h51, última modificação: 20/10/2025 09h03
Sesc traz à Paraíba, nesta semana, escritores de seu prêmio literário e do projeto Arte da Palavra para encontros com o público
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Sinara Rubia é uma das atrações dos circuitos do Arte da Palavra | Fotos: Divulgação - Foto: Pam)

por Esmejoano Lincol*

Celebrando a Semana do Livro e da Biblioteca, o Serviço Social do Comércio (Sesc-PB) promoverá três eventos gratuitos nas cidades de João Pessoa e de Campina Grande. O Arte da Palavra reunirá as autoras Sinara Rúbia e Carol Dall Farra em circuitos de escrita criativa e de debates que começam amanhã, das 9h às 17h, no Sesc da capital. Uma circulação do Prêmio Sesc de Literatura terá rodas de conversas com dois dos laureados no ano passado, Patrícia Lima e Ricardo Maurício Gonzaga, também realizadas a partir de amanhã, às 19h, na Livraria do Luiz do MAG Shopping, em João Pessoa. O terceiro é o Palco Giratório, com a apresentação do espetáculo Biblioteca de Dança, do grupo baiano Dimenti: terça-feira (21), na capital, e quinta-feira (23), em Campina, sempre às 15h e nas respectivas unidades do Sesc. 

Carol Dall Farra também participa dos circuitos do Arte da Palavra

No Arte da Palavra, Sinara Rúbia liderará o Circuito de Criação Literária. Depois de passar por João Pessoa, ela rumará para Campina Grande e trará a público a mesma pauta — será de quarta a quinta-feira (dias 22 e 23), das 14h às 17h, no Sesc Centro da Rainha da Borborema. Carol Dall Farra conduzirá o Circuito Oralidades — na capital, o encontro ocorre quarta, às 19h, na Praça da Paz do bairro dos Bancários; a escritora estará em Campina quinta, às 19h, em palco montado  em frente ao Museu de Arte Popular da Paraíba (Mapp) — o popular Museu dos Três Pandeiros.

A fluminense Sinara Rúbia, nascida em um distrito da cidade de Itaperuna, é escritora de livros infantis, contadora de histórias e com uma pesquisa acadêmica em representatividade negra na literatura brasileira e história de África.  Seu começo na literatura deu-se quando percebeu a falta de referência literárias negras ao tentar apresentar algumas delas para sua filha, em 2001.

Daí, criou o conto “Alafiã”, sobre uma princesa guerreira do Reino de Daomé, o que evoluiu para o livro Alafiá, a Princesa Guerreira, de 2019. Neste ano lançou Inspiração Griot – Por uma Educação Antirracista, no qual reflete sobre a literatura infantojuvenil sob essa perspectiva.

Já Carol Dall Farra nasceu em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. É poeta, rapper e slammer (participante de batalhas de rimas), além de graduanda em Geografia pela UFRJ. É também atriz: pelo curta Mc Jess, recebeu o prêmio de melhor atuação do Festival Mix Brasil. Também esteve no elenco das séries Vicky e a Musa (2024) e Cidade de Deus – A Luta Não Pára (2024). Em 2019, foi uma das poetas convidadas para a primeira batalha de slam no Rock in Rio.

Pessoas invisibilizadas

No evento do Prêmio Sesc de Literatura, o bate-papo com Patrícia Lima e com Ricardo Maurício Gonzaga, “A Palavra em Trânsito”, amanhã, em João Pessoa, será mediado pelo publicitário Lauriston Pinheiro. A dupla repetirá a dose em Campina, na quarta-feira (22), às 19h, na biblioteca do Sesc, com o escritor Bruno Gaudêncio na mediação.

Patrícia Lima ganhou o Prêmio Sesc na categoria conto

Patrícia Lima, paulista, foi laureada no Prêmio Sesc de Literatura do ano passado, na categoria conto: o escolhido foi o livro A Glória dos Corpos Menores, antologia de textos sobre o cotidiano fantástico de pessoas invisibilizadas por seu gênero, sexualidade ou condição social. “Eles são levados ao protagonismo de forma diferente do que a realidade dispõe. E o mais interessante é que eles têm histórias profundas. São grandes epifanias, grandes alegrias. E também, grandes percepções do mundo. E não, necessariamente, coisas bonitas, mas percepções cruciais que os levam a modificar suas histórias”, explica.

Considerando a produção de contistas mais experientes, Patrícia cita os trabalhos de Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Alice Munro como fontes de inspiração para seus textos, além de outros tantos autores brasileiros, consagrados por meio de narrativas curtas ou longas: “Há os clássicos brasileiros, como Machado de Assis, Mário de Andrade, Guimarães Rosa. E alguns artistas contemporâneos que admiro muito, como o João Anzanello Carrascoza, Andrea Del Fuego e Conceição Evaristo. Também a Natália Borges Polesso, do universo LGBTQIA+”.

Patrícia participou do Arte da Palavra 2020 (na época, como mediadora) e atesta, desde então, a força da empreitada na formação de novas gerações de leitores e de entusiastas da cultura: “Eu moro em Bauru, São Paulo, e o Sesc era a minha vida. Eu estava sempre por lá, assistindo shows, peças, indo em clubes de leitura. A importância disso tudo é indescritível. E imprescindível”.

Contexto de violência

Já Ricardo Maurício Gonzaga, capixaba, venceu o Prêmio Sesc graças ao romance Bololô – Gaiola Vazia. A narrativa acompanha uma família imersa num contexto de violência quase que irremediável; é baseada em um conto, escrito por ele, anos antes.

“Apresentava essa família de pai, mãe e quatro irmãos, Sol Perigo, Roque Perigo, Gato Perigo e Música Maria. E terminava em aberto. Só que comecei a ter novas ideias, de nomes, situações que me levaram, em madrugadas de insônia, a recorrer ao celular carregando ao lado da cama para não perder o que vinha sendo quase que sonhado “, recorda. 

Ricardo Maurício Gonzaga, ganhou na categoria romance

As influências de Ricardo também oscilam entre clássicos (Dostoievski e Tolstoi, russos) e contemporâneos (José Saramago e Valter Hugo Mãe, portugueses). Os autores que desafiam a ortodoxia, como Gabriel García Márquez (colombiano) e Júlio Cortázar (argentino) também se fazem presentes: “Dentre os brasileiros, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Clarice... De alguns desses autores, a influência incidiu sobre a forma do texto, o ritmo; de outros, veio uma certa atmosfera; de outros, ainda, o modo de estruturar a narrativa, o enredo”.

Ricardo assevera que para além dos prêmios materiais do Sesc — dinheiro e a publicação do livro —, outro ganho importante é a oportunidade de viajar o Brasil: “E como isso implica em recepções variadas em cada lugar que eu e Patrícia Lima chegamos. Encontrar leitoras e leitores com suas perguntas, falar do processo de criação dos livros, tudo isso tem sido uma experiência muito intensa para nós”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de Outubro de 2025.