“O instrumento do crime que se ‘arrola’, / Nesse processo de contravenção, / Não é faca, revólver nem pistola, / é simplesmente, doutor, um violão”. O excerto é do célebre poema “Habeas pinho”, de autoria do ex-governador paraibano Ronaldo Cunha Lima, que um dia peticionou, liricamente, em favor do instrumento de cordas seresteiro. Ora recontado em forma de curta-metragem homônimo, Habeas Pinho terá sua primeira exibição pública e gratuita, hoje, em duas sessões (às 19h e 21h), no Teatro Municipal Severino Cabral, no Centro de Campina Grande.
Com produção-executiva de Gal Cunha Lima, filha do poeta, e direção e roteiro assinados por Aluizio Guimarães e Nathan Cirino, o filme conta a história do seresteiro Paulo (interpretado pelo ator e cantor Juzé), que durante cantoria em súplica pelo amor de Dafne (Mayana Neiva), tem seu violão confiscado pela polícia. Recém-formado em Direito, Ronaldo (Lucas Veloso) intercede em defesa de Paulo fazendo uso da função expressiva da linguagem.
Para Gal Cunha Lima, realizar o curta foi um processo “mágico”, espécie de quebra--cabeças no qual as peças se encaixaram com perfeição. “A participação de Lucas Veloso, juntamente com Juzé e Mayana Neiva, trouxe um brilho especial. Três atores talentosos, generosos, atores completos que interpretam, cantam, dançam e fazem poesia. Foram escolhidos a dedo e deu bingo”, comenta.
Paraíba em cena
Na época do convite feito por Gal, Mayana dirigia um documentário sobre seu avô, José Neiva, ainda em circuito de festivais, e a pesquisa sobre a história familiar aproximou as duas. “Foi uma alquimia bonita, a troca com as pessoas envolvidas no processo”, conta a atriz, para quem a estreia de Habeas Pinho em Campina Grande representa, mais do que o lançamento de uma peça, uma reafirmação de laços com a cultura e com os profissionais da terra.
“É muito importante quando a gente se apoia. Acho maravilhoso essa possibilidade de trocar com artistas paraibanos. Trabalhar com Juzé, com o diretor, com a equipe paraibana de foto, de roteiro. A gente tem que se fortalecer e se apoiar”, defende a atriz.
Juzé também dá pistas sobre sua persona. “O personagem é belíssimo porque é um ser humano do povo que faz arte”, atesta sobre Paulo. “Seu único documento é um violão e sua poesia. Se apaixona perdidamente por uma mulher intocável, faz uma serenata e comete esse ‘crime’, violando a madrugada”, acrescenta ele.
Onde:
- TEATRO SEVERINO CABRAL (Av. Mal. Floriano Peixoto, s/n, Centro, Campina Grande)
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 8 de agosto de 2025.