Em um momento de lutas decoloniais e antirracistas a Editora Expressão Popular lança Discursos da Revolução, obra que reune discurso de Thomas Sankara, líder revolucionário de Burkina Faso.
No livro encontramos os principais discursos do líder político que cobrem do primeiro ano do governo revolucionário (1983) ao ano de seu assassinato (1987). O livro contém seis discursos, entre eles se destacam “Discurso de orientação política”, “Salvar a árvore”, “O meio ambiente e a própria vida” e “A libertação da mulher: uma exigência do futuro”. O que chama a atenção é a atualidade dos temas abordados nos discursos revolucionários e sua amplitude, discutindo desde a questão da mulher e ambiental e sobre o internacionalismo e soberania.
Thomas Sankara, conhecido como o “Che Guevara africano”, foi um revolucionário, marxista e líder carismático que presidiu Burkina Faso de 1983 a 1987. Nascido em 21 de dezembro de 1949 em Yako, no então Alto Volta, Sankara foi um militar de carreira que rapidamente ascendeu aos postos mais altos das Forças Armadas.
Sankara ingressou na academia militar aos 19 anos e foi profundamente influenciado pelos ideais socialistas e pelas lutas anticoloniais de líderes africanos como Kwame Nkrumah e Amílcar Cabral. Em 1981, ele se tornou primeiro-ministro, mas sua crescente popularidade e ideologia revolucionária levaram à sua prisão em 1983 por ordens do então presidente Jean-Baptiste Ouédraogo. Em agosto do mesmo ano, Sankara foi libertado por um grupo de oficiais jovens e assumiu a presidência após um golpe de estado.
Ao assumir o poder, Sankara renomeou o país de Alto Volta para Burkina Faso, que significa “terra dos homens íntegros”. Sua presidência foi marcada por uma série de reformas radicais destinadas a erradicar a corrupção, melhorar a educação, promover a autossuficiência alimentar e combater a desertificação.
Em suas principais realizações temos a reformas agrárias que redistribuiu terras dos latifundiários aos camponeses, incentivando a produção local e a autossuficiência alimentar, na educação e saúde lançou campanhas massivas de alfabetização e vacinação, aumentando significativamente as taxas de alfabetização e reduzindo a mortalidade infantil.
Também lutou pela libertação das mulheres, promovendo a igualdade de gênero, proibiu a mutilação genital feminina, os casamentos forçados e incentivou a participação das mulheres na vida pública e na infraestrutura e meio ambiente, plantou milhões de árvores para combater a desertificação e iniciou projetos de infraestrutura para melhorar o acesso à água e energia.
Sankara era um marxista-leninista convicto e procurou criar um modelo de desenvolvimento baseado na autossuficiência e na solidariedade africana. Ele rejeitou a ajuda externa que considerava imperialista e promoveu a integração africana e a cooperação sul-sul. Sua retórica anti-imperialista e sua política de não-alinhamento o tornaram uma figura popular entre muitos jovens e movimentos progressistas ao redor do mundo.
Em 15 de outubro de 1987, Thomas Sankara foi assassinado em um golpe liderado por seu ex-amigo e colega de confiança, Blaise Compaoré, que assumiu o poder e reverteu muitas das reformas de Sankara. Embora sua presidência tenha durado apenas quatro anos, o impacto de suas ideias e ações continua a inspirar movimentos sociais e líderes políticos na África e além.
Thomas Sankara deixou um legado duradouro como um dos mais influentes e admirados líderes africanos do século 20. Sua visão de uma África independente, autossuficiente e igualitária continua a ressoar e a inspirar gerações futuras.
DISCURSOS DA REVOLUÇÃO
- De Thomas Sankara. Editora: Expressão Popular. R$ 45.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de julho de 2024.