por Guilherme Cabral*
Tradicional ponto para a difusão da cultura e do conhecimento de João Pessoa, a Livraria do Luiz completará cinco décadas de existência no dia 29 de junho. No entanto, os proprietários do estabelecimento localizado no centro da cidade já vêm comemorando a data com uma programação especial. O próximo evento será o lançamento do documentário Livraria do Luiz: 50 anos de história, dirigido por Thalles Farias, e que será realizado gratuitamente para o público amanhã, a partir das 19h, na Usina Energisa.
“O documentário é um projeto que foi idealizado por volta de 2019, ou seja, um pouco antes do surgimento da pandemia da Covid-19, como forma de deixar registrado esse jubileu e a trajetória da livraria. Fico feliz e orgulhoso por fazer parte da história dessa livraria, nesses 50 anos de existência e resistência, e poder continuar levando o legado de contribuição para a cultura paraibana deixado pelo seu Luiz”, confessou Ricardo Pinheiro, um dos proprietários do estabelecimento, instalado na Galeria Augusto dos Anjos, 88, na Praça 1817.
A maior parte das cenas foi gravada na própria Livraria do Luiz e em outros pontos do centro da cidade, no período de janeiro a maio deste ano, pela produtora de vídeos Castanhola Filmes. “O documentário dura cerca de 20 minutos e conta, através de entrevistas com clientes e frequentadores e com fotos, a história da livraria, a partir do seu surgimento até os dias atuais, e sua contribuição para a sociedade paraibana, como por exemplo, na formação intelectual de vários leitores, professores, estudantes e escritores. Como costuma dizer Gonzaga Rodrigues, é quase um milagre uma livraria permanecer aberta durante cinco décadas, apesar de toda tecnologia atual”, disse Pinheiro.
Reconhecimento
Cearense, Ricardo Pinheiro tinha 14 anos de idade quando começou a trabalhar com o proprietário da Livraria, seu Luiz Carvalho. Natural da cidade de Fortaleza, ele veio morar com a família em João Pessoa aos 6 anos, pois o pai era militar e chegou transferido. Foi um amigo em comum quem sugeriu que procurasse o livreiro. “A princípio, seu Luiz não queria me aceitar, por causa da pouca idade, mas eu insisti e ele concordou. Comecei a trabalhar na livraria em 1980, já na galeria, pois ela já havia funcionado, de 1972 a 1979, na Vila Caxias, também no centro da cidade e próxima do atual endereço. Sempre gostei de livro e isso me ajudou a convencê-lo”, relatou ele.
Quando Luiz Carvalho morreu, em 2008, aos 87 anos de idade, já morava com a família de Ricardo. “Seu Luiz vivia sozinho e eu o levei para morar comigo, minha esposa e filho. Sou filho adotivo, mas, na verdade, ele me adotou, mas também eu o adotei”, confessou o livreiro.
Ricardo Pinheiro lembrou que a importância da Livraria do Luiz tem sido reconhecida pelos segmentos da sociedade. “Em 2004, por propositura do deputado Lindolfo Pires, seu Luiz Carvalho recebeu a Medalha Augusto dos Anjos. Em 2018, por proposta do deputado João Bosco Carneiro, a Livraria do Luiz recebeu a Medalha José Lins do Rego e, mais recentemente, a Câmara Municipal de João Pessoa entregou a Comenda Cultural Ariano Suassuna, propositura do então vereador Zezinho do Botafogo”, disse o livreiro.
O empresário revelou que seu projeto é inaugurar, no final de junho ou início de julho, a primeira filial da livraria nas dependências do MAG Shopping, também na capital, a convite do proprietário do empreendimento.
“Dirigir esse documentário me proporcionou conhecer um pouco da trajetória das pessoas que fazem a livraria, sobretudo o próprio Luiz, que fundou o estabelecimento em 1972”, contou o cineasta Thalles Farias, que representa a produtora de vídeos Castanhola Filmes. “O filme buscar retratar os 50 anos da livraria através de relatos de clientes e amigos ao longo das cinco décadas. São depoimentos que falam não só de livros, mas de amizade, parceria e muita história que cerca a Livraria do Luiz, que se confunde com a história da nossa cidade”, disse o diretor.
Na opinião do realizador, “o documentário acaba sendo um presente para quem o assistir, porque traz em cada trecho emoções que só quem frequenta a livraria consegue entender, e ao mesmo tempo se torna um convite para quem não a conhece”, disse Thalles Farias.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 25 de maio de 2022