O programa Rumos, projeto de fomento a produções culturais ligado ao Instituto Itaú Cultural, selecionou duas propostas de artistas paraibanos para o biênio 2023-2024: Funk de Embolada e Hip Hop do Mato, disco de Totonho e Os Cabra, e Desumanização em Miniatura, experimento teatral do coletivo Ser Tão Teatro. Os projetos receberão aportes financeiros para o seu desenvolvimento. Em outros anos, o Rumos selecionava propostas em três categorias, a partir do estágio em que a iniciativa se encontrava: criação e desenvolvimento; pesquisa e desenvolvimento; e documentação; nesta nova edição, todos os projetos tinham que estar em fase inicial e estar relacionados à arte e à cultura brasileiras. Os projetos escolhidos receberão até R$ 100 mil para a sua concepção.
O projeto de Totonho e Os Cabra, o álbum Funk de Embolada e Hip Hop do Mato, terá produção da agência pessoense Toroh Música & Cultura. O produtor Rayan Lins, vinculado à Toroh, detalha que o novo álbum de Totonho, que soma mais de 40 anos de carreira, terá participação do cantor Tom Zé. “Estamos muito felizes de termos sido aprovados. Temos certa experiência com editais como este, a exemplo de nosso projeto com Seu Pereira, contemplado pela Natura Musical em 2019. O disco tem 10 faixas e a aplicação dos recursos obtidos será discutida posteriormente com o Itaú”, adianta Rayan.
Já o Coletivo Ser Tão Teatro, que em 2024 completa 17 anos em atividade, conseguiu aprovação de verba para a produção do experimento cênico Desumanização em Miniatura. O ator e produtor Rafa Guedes, relembra que a ideia para o argumento desta nova empreitada do Ser Tão surgiu em 2017, durante a montagem de Alegria de Náufragos, premiada peça do grupo que trazia no elenco, além do próprio Rafa, Cely Faria e Thardelly Lima. “Esta é uma produção de fato coletiva, de todos nós”, afirma.
O ator revela estar feliz com o resultado do Rumos, indicando que este é o primeiro espetáculo original desenvolvido inteiramente pelo coletivo. “O projeto não é o espetáculo em si, se trata de uma dramaturgia original construída dentro da sala de ensaio com o diretor, Giordano Castro, de Recife. Os atores recriam, em uma escala ampliada, uma ‘comunidade hamster’, como se eles estivessem em um laboratório”, detalha Rafa.
Além dos dois projetos paraibanos escolhidos pelo Rumos, mais três outras iniciativas de outros estados trazem a Paraíba de forma indireta, como recorte de abrangência ou como localidade de origem de membros da equipe: Imigração Chinesa: a Nova Geração, exposição visual proposta por Jefferina Tong, de São Paulo; “Luthieria afro-pindorâmica, tecnologias ancestrais e instrumentalização eletrônica: pesquisa, experimentação e construção musical do Grupo Orí”, de Pernambuco; e o espetáculo teatral [B]Errantes, da Associação Gira Mundo, do Amapá, que traz a figurinista paraibana Tainá Macedo.
Nordeste em destaque
Na coletiva de imprensa realizada ontem para a divulgação dos resultados do Rumos, a equipe fez um balanço do programa em 27 anos de existência. Desde 1997, mais de 75 mil projetos foram avaliados pelas comissões do Itaú, enquanto 1.500 propostas foram de fato contempladas. A instituição estima que as iniciativas escolhidas tenham impactado mais de sete milhões de pessoas entre proponentes, equipes e aqueles que leram, visualizaram ou assistiram os/aos projetos.
Neste ano, a comissão que avaliou os projetos reuniu 45 pessoas escolhidas pelo Itaú Cultural – dentre elas Aline Cardoso, escritora paraibana fundadora da Editora Triluna. Para esta edição, foram submetidos 9.389 projetos de todos os estados do país, dos quais 100 foram eleitos. O destaque ficou para o Nordeste: representando 23,4% do montante de projetos inscritos, a região conseguiu aprovar 41% do total de iniciativas, índice superior ao da região Sudeste – esta, representou 53,3% de todas as propostas, mas aprovou apenas 29% dos projetos submetidos. Ao todo, 41 projetos nordestinos integram a seleção final.
Presente na coletiva, Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú e do Itaú Cultural, assevera que o programa Rumos tem papel importante na descoberta dos “muitos Brasis” que temos em nosso país, destacando ainda que “não se trata de um patrocínio, mas de uma parceria”. “Trabalhamos em três estágios. As ‘Caminhadas’, momento em que vamos in loco ouvir os possíveis proponentes. A segunda é o contato com as propostas. A terceira é o contato com os proponentes, enquanto o Rumos acontece de fato. Isso certamente impacta cada um dos núcleos que compõem o Itaú Cultural” explica o presidente sobre a seleção.
A última edição do programa Rumos, realizada no biênio 2019-2020 foi atravessada pela pandemia de Covid-19. A divulgação dos resultados foi adiada, tendo sido realizada apenas em dezembro daquele ano. As oficinas e as reuniões para discutir e dar andamento aos projetos tiveram que ser realizadas de maneira virtual. As propostas – mais de 11 mil, no total – também foram reavaliadas quanto à sua viabilidade em contexto de isolamento social. Nesta edição anterior, um projeto paraibano foi contemplado: Problemas e Aspirações do Negro Brasileiro – 3º Ato, do artista visual Thiago Costa.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de maio de 2024.