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artes visuais

Dos poemas para as pinturas

publicado: 30/07/2025 08h42, última modificação: 30/07/2025 08h42
Amador Ribeiro Neto abre nesta noite sua primeira exposição, no Museu Casa de Cultura Hermano José
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Amador Ribeiro Neto expõe pinturas em tinta acrílica | Foto: Divulgação

por Esmejoano Lincol*

A firmeza e a suavidade são características necessárias para a dança. Ao passo que o corpo deve ostentar solidez em algumas ações, ele deve abrir a guarda para outros movimentos, deixando-se moldar ao sabor das suas diversas expressões. Amador Ribeiro Neto, paulista radicado em João Pessoa e conhecido por sua trajetória literária, buscou nessa analogia o nome da sua primeira exposição individual como artista plástico: Totem — Pulso nos Pés e Dengo na Cintura será aberta hoje, às 19h, no Museu Casa de Cultura Hermano José (Bessa, João Pessoa). As obras permanecerão em exibição até o dia 31 de agosto, no horário de funcionamento da instituição — de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.

Amador reúne 37 composições, dispostas em quatro módulos, com dimensões diferentes. Ele utiliza tinta acrílica, dissolvida em água, sobre as telas de algodão. As cores, quentes, são inspiradas em motivos encontrados no continente africano — segundo o autor, o totem, mencionado no título da exposição, aparece como símbolo dessa ancestralidade. Os matizes também têm influências do Carnaval e das cores da bandeira do orgulho LGBTQIAPNb+. 

Seu novo livro terá lançamento em breve | Foto: Divulgação

A mostra foi selecionada por meio de edital público há dois anos, quando da reinauguração do museu, gerido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As obras começaram a ser pintadas em 2021, mas o contato estreito com essa linguagem se deu antes.

“Depois de me aposentar, há seis anos, comecei a me dedicar em tempo integral. Iniciei o curso de xilogravura com o professor José Altino e de desenho e pintura com o professor Leonardo Pessoa [ambos no Sesc Centro, na capital]”, rememora.

 Antes de lançar-se nessa exposição solo, Amador antecipou alguns de seus trabalhos em duas exposições individuais, também em unidades do Sesc, em João Pessoa, entre 2021 e 2024. Ele retoma essa paixão, tão antiga quanto a literatura, quase meio século depois de dar suas primeiras pinceladas como autodidata, ainda na juventude.

“Ao iniciar os estudos da graduação em Letras na Universidade de São Paulo [USP], juntamente com o exercício do magistério, me vi obrigado a deixar a pintura”, aponta.

Ele elenca como motivações para pintar a disciplina e o desejo de conduzir um trabalho plástico que o agrade, marcando distinções entre essa prática e a literatura. “Tenho bem mais domínio sobre a poesia que produzo do que sobre a pintura que faço. Talvez pela consciência crítica e magisterial da palavra. Talvez. Não sei. A pintura nasce de um outro lado do cérebro, é outro departamento. Quando pinto, eu me desligo do mundo. Quando escrevo, eu me ligo intensamente no mundo”, assevera.

 Em julho, ele trouxe a público seu livro mais recente — Poemas do Amor (Editora Cobalto). O lançamento foi no último dia 15, no Rio de Janeiro, mas Amador pretende organizar uma noite de autógrafos na Paraíba, assim que possível.

“Os versos buscam divertir e cutucar o leitor com vara curta (ou longa). Possui três partes e a final é uma homenagem ao Zé Celso Martinez, cujas ideias e comportamentos são a sustança a esse projeto. A capa é uma pintura minha, que estará na exposição, ‘Montadas unidas’”, detalha.

Um escritor que pinta ou um pintor que escreve: Amador rejeita ambos os rótulos, ao mesmo tempo que abraça esses e outros ofícios que mantém aos 72 anos de idade. “Todas estas funções dizem o que sou, o que faço e aonde cheguei depois de sair de Caconde, a pequenina cidade no interior paulista, de fazer os estudos graduados e pós-graduados em São Paulo e de viver há 34 anos nesta querida João Pessoa”, conclui.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de julho de 2025.