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Duas lendas paraibanas

publicado: 07/03/2025 09h52, última modificação: 07/03/2025 09h52
Glorinha Gadelha e Cassiano são os homenageados da oitava edição do Festival de Música da Paraíba
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Glorinha lançou “Tudo que Ilumina” em 1992; “Apresentamos Nosso Cassiano” é de 1973 | Fotos: Reprodução

por Daniel Abath*

O maior festival de música do estado abre as portas para mais um ano de revelações do cancioneiro autoral paraibano, inspirado nas trilhas históricas da soul music e dos ritmos regionais. As inscrições para a oitava edição do Festival de Música da Paraíba começaram no dia 18 e entram em seus últimos dias: seguem até 13 de março. O evento neste ano presta mais uma vez homenagem a dois grandes nomes da música paraibana: o cantor e compositor Cassiano, nascido em Campina Grande, e a cantora e compositora Glorinha Gadelha, natural de Sousa. O edital com todas as informações está disponível no Diário Oficial do Estado (DOE) e no site da Rádio Tabajara (radiotabajara.pb.gov.br/festivaldemusica).

Glorinha Gadelha regravou “Feira de mangaio” em “Ouro e Mel”, de 1997
Glorinha

Maria da Glória Pordeus Gadelha, de 78 anos, é filha de uma tradicional família de Sousa, no Sertão paraibano, e uma das mais importantes compositoras paraibanas. Autora de clássicos como “Feira de mangaio”, em parceria com o compositor e instrumentista (e seu marido) Sivuca, Glorinha construiu uma carreira de reconhecimento internacional, transitando entre música, literatura e educação.

Obteve visibilidade de início como compositora, em 1968, ao se apresentar no programa A Grande Chance, da TV Tupi, e chegou a vencer o 3o Festival de Música Popular Paraibana em 1969.

Entre os anos de 1971 e 1973, atuou em atividades didáticas e produções de shows junto ao Instituto Superior de Educação Musical da Paraíba. Publicou em 1974 o livro O Bailado das Sardinhas e em 2011 lançou a obra Um Anjo de Dois Anjos.

Saiu do país em 1975 para estudar linguagem musical na Columbia University, em Nova York, voltando no ano seguinte, ocasião em que gravou a música “Amor em Jacumã”. Seu primeiro disco, Bendito o Fruto, só sairia em 1982. Durante a década de 1980, cravou várias apresentações no exterior, na companhia do marido. Até 2003, morou com Sivuca no Rio de Janeiro.

Cátia de França, homenageada na sétima edição do festival, que aconteceu no ano passado, tem várias lembranças de Glória Gadelha e de Sivuca, justo na época em que se mudou para o Rio. “Ave Maria! Demais, demais, demais!”, enfatiza. “Numa época em que eu estava em Copacabana, Sivuca queria gravar o disco Cabelo de Milho [1980] e me chamou pra fazer a percussão do disco. Glorinha, a esposa dele na época, concordou”.

Ela relembra que Sivuca e Glorinha sempre a convidavam para o condomínio onde moravam. Sivuca demonstrava uma particular preocupação com a saúde dos músicos paraibanos no Rio, como Cátia e Zé Ramalho. “Era o tipo de um ‘vovô’ preocupado”, comenta.

Sobre a música de Glória, Cátia é enfática em sua predileção: “Total! É demais, já era esfuziante”. Ao mesmo tempo, lembra dos ímpetos da artista: “Agora, ela tinha um temperamento difícil. Eu não sei qual é o signo dela. Porque ela não é passiva. Ela é cirurgiã, formada. Morava na rua que eu morava, e tinha a Banda de Elba”, diz. “Na Rua Almeida Barreto, tinha uma casa só de paraibanas. Elba era a baterista dessa banda, não sei se Glorinha fazia parte disso. Mas a gente trafegou muitas vezes no mesmo ambiente por causa de Sivuca, obviamente. O sucesso dele, ‘Feira de mangaio’, é dos dois. Isso aí já dá um ‘alvará’ a ela incrível, entendeu? Um ‘passaporte’ pra constar em qualquer biografia nordestina o nome de Glorinha. E ela cuidou dele também”.

“Cuban Soul” foi lançado em 1976, com “A Lua e eu”
Cassiano

Cátia não conheceu pessoalmente Genival Cassiano dos Santos, o Cassiano. Mas, por ironia da vida, chegou a ser vizinha da esposa do músico. “De repente, compraram uma casa. Era a mulher dele, minha vizinha. Me dava notícias dele, mas depois ela sumiu”, conta. “Bebi muito ouvindo as músicas dele. Era sofrência, na praia de Tim Maia, Jorge Ben. Tem a ver demais com a minha negritude, tenho o maior respeito”, conta a compositora de “Kukukaya”.

Cassiano nasceu em 16 de setembro de 1943, em Campina Grande, e, no fim da década de 1940, mudou-se com sua família para o Rio de Janeiro, estado onde morreu, no dia 7 de maio de 2021, aos 77 anos. Aprendeu as primeiras notas de bandolim e violão com o pai e chegou a trabalhar como ajudante de pedreiro.

Cantor, compositor, guitarrista, com influências da música negra norte-americana, Cassiano foi um dos precursores da soul music feita no Brasil, conhecido por canções como “Primavera” e “Eu amo você”, famosas nas interpretações de Tim Maia.

Fundou, na década de 1960, a banda Bossa Trio, que viria a se tornar Os Diagonais. Tocou na noite do Rio e de São Paulo, tornando-se mais conhecido apenas em 1970, quando gravou a guitarra do primeiro disco de Tim Maia. Em 1978, Cassiano precisou retirar um pulmão, parando com o canto, mas dando continuidade a suas composições.

Entre os discos legados à posteridade, figuram Imagem e Som (1971), Cada um na Sua (1971), Apresentamos Nosso Cassiano (1973) e Cedo ou Tarde (1991), com participações de Djavan, Marisa Monte e Luiz Melodia.

Festival começa em CG, nos dias 22 e 23 de maio

No dia 1o de abril, será divulgada a relação de artistas selecionados, e as eliminatórias estão marcadas para os dias 22 e 23 de maio, em Campina Grande, enquanto a grande final acontecerá no dia 31 de maio, mais uma vez, no Espaço Cultural, em João Pessoa. Para participar, os compositores devem ser paraibanos ou comprovar residência no estado há pelo menos dois anos. As composições, naturalmente, devem ser inéditas.

A premiação para os vencedores inclui R$ 10 mil para o primeiro colocado, R$ 7 mil para o segundo, R$ 5 mil para o terceiro, R$ 3 mil para o melhor intérprete e R$ 5 mil para a composição eleita pelo júri popular. Além disso, os candidatos selecionados que não residirem nas cidades-sede das eliminatórias e da final receberão uma ajuda de custo de R$ 500 para cobrir despesas de transporte, hospedagem e alimentação.

Serão 15 canções para cada eliminatória, das quais sete se classificarão para a final, com 14 finalistas. A votação popular será realizada no site do festival, de 26 a 31 de maio, até a execução da última música finalista. A ordem das apresentações será definida por sorteio, que ocorrerá no dia 4 de abril, na sede da Rádio Tabajara, durante o programa Tabajara em Revista.

Acesse o edital do festival por esse link

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de março de 2025.