Duas peças que representam momentos distintos do teatro paraibano integram projetos do Núcleo de Formação, Pesquisa e Experimentação Teatral, vinculado ao Centro Artístico Cultural da Universidade Estadual da Paraíba (CAC/UEPB). O Censor Federal, da dramaturga Lourdes Ramalho, será encenada hoje, às 19h, na sede do CAC, no Centro de Campina Grande. A segunda é SomOs (grafado assim pelo grupo, com o segundo “o” maiúsculo), com texto de Chico Oliveira, Anderson de Sá e Beto Rocha, com sessões amanhã e domingo (21), no mesmo horário e local. Todas as apresentações são gratuitas (doações voluntárias podem ser direcionadas para a chave Pix eliopenteado44@gmail.com).
A comédia O Censor Federal, montada pela primeira vez no início dos anos 1980, narra as desventuras de um grupo de teatro que está prestes a ser escrutinado por um agente da Ditadura. Assinando a direção de ambos os espetáculos, Chico Oliveira recorda sua convivência com Lourdes Ramalho no início da carreira.
“Pertenci ao Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, o grupo dela nas décadas de 1980 e 1990, e fiz alguns trabalhos. O de maior relevância foi As Velhas, dirigido por Moncho Rodriguez. A gente fez temporada, pelo Brasil, com o Festival Mambembão, e participamos de mostra internacional em Portugal”, recorda.
Além da proximidade no âmbito artístico, o ex-pupilo revela que estreitou laços de amizade com a mestra, devido ao tratamento afetuoso que dedicava a ele, estendido a todos os demais atores com quem trabalhava. Seis anos depois da morte da artista, o diretor assevera a importância do legado de Lourdes em títulos como o que ele apresenta neste fim de semana, mas diz que imprime uma linguagem diferente. “O texto de dona Lourdes era tão atual, que a gente não mudou nada praticamente, parece que ela escreveu ontem. É um tema recente ainda, o cerceamento da palavra, da voz, principalmente dos artistas”, lamenta.
Enquanto isso, SomOs é pautada por uma vertente mais contemporânea. Com figurinos sóbrios e uma maquiagem colorida, os atores perfazem um amálgama de temas que atravessam o universo dos artistas e da sociedade contemporânea como um todo, como o preconceito e a resistência em prol das artes. Chico destaca o trabalho de Regina Albuquerque na preparação corporal de ambos os espetáculos.
“A participação dela foi primordial para a qualidade do trabalho dos atores dentro dessa encenação. Regina é uma especialista, profissional maravilhosa, uma das melhores que eu conheço nesse país”, sustenta.
O núcleo vinculado ao CAC da UEPB foi criado por Chico Oliveira com o intuito de ampliar os espaços de estudos e prática dramatúrgica. Mediante a inexistência de curso superior de Teatro em instituições públicas da Rainha da Borborema, esse projeto, segundo, seu idealizador, supre parte da carência de políticas públicas do setor. “Essa empreitada é mais uma fomentadora de formação, de pesquisa e de experimentação e atuação nesse universo do teatro. Estamos nesse lugar pulsante de conhecimento, de pesquisa e de evolução do indivíduo enquanto ser humano, mas do indivíduo artista e sua arte, seu ofício” resume.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de dezembro de 2025.