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Educação fortalece povos indígenas

publicado: 19/04/2023 15h06, última modificação: 21/04/2023 13h17
Populações das nações da Paraíba ganham destaque nas universidades e buscam mais espaço para novas gerações
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Ações estatais buscam a implementação de políticas públicas nos territórios
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Cacique Caboquinho vê na educação uma forma de crescimento para os indígenas
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Associação Toré Forte também busca investimentos em energias renováveis
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Iasypitã Potiguara ressaltou as ações estatais para o desenvolvimento dos povos
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por José Alves*

“Os povos indígenas da Paraíba têm o que comemorar nesta data, 19 de abril. Estamos tendo um excelente avanço na educação. Já somos mais de 500 indígenas frequentando a sociedade acadêmica”. A afirmação é de Antônio Pessoa Gomes, mais conhecido como Caboquinho Potiguara, cacique da Aldeia  do Forte, na Baía da Traição. Ele contou que esses avanços contribuem com o fortalecimento cultural dos povos indígenas e foram possíveis através da educação diferenciada que vem sendo praticada nas escolas municipais e estaduais existentes nos territórios indígenas.

Além disso, a agricultura e o artesanato, também são pontos positivos que colocam em evidência a cultura dos povos originários.  

Conforme Caboquinho, a formação acadêmica dos indígenas é muito importante para o crescimento cultural das pessoas das aldeias. “E juntando a sabedoria popular com a sabedoria acadêmica, só temos a crescer a cada ano. Afinal, a educação é a base de tudo e nessa área, nós buscamos sempre valorizar a nossa língua, o Tupi, que ficou esquecida por muitos anos, mas atualmente está sendo uma das disciplinas que mais cresce entre nossa população”, disse Caboquinho, enfatizando que a luta maior é pela educação diferenciada e é isso que todo indígena tem que ter, complementou.

Em cada aldeia nos territórios indígenas da Paraíba, existe uma ou duas escolas de ensino fundamental, mas não são todas que trabalham com a educação diferenciada. Porém, a maioria já incluiu no currículo a língua Tupi, o que vem fortalecendo a conjuntura cultural indígena. “Por causa da educação diferenciada temos muitos indígenas que já estão concluindo os estudos acadêmicos, iniciando graduação e doutorado nas áreas de Antropologia e Eco-ecologia, cursos de suma importância para o território indígena”, afirmou Caboquinho.

No que diz respeito a auto sustentação, Caboquinho informou que o povo se auto sustenta principalmente pela agricultura e pela pesca. Com destaque para a monocultura da cana-de-açúcar, macaxeira, mandioca, banana e maracujá, entre outros alimentos e frutas. “Muitas de nossas culturas agrícolas são comercializadas pelas cidades da região. Na pesca cultivamos o camarão. Inclusive, temos uma das maiores produções de camarão da Paraíba, seja ele nativo ou de viveiro”, revelou ele sobre a Associação Toré Forte, que também busca a implementação de energias renováveis. “Já estamos implantando a energia solar e temos interesse na eólica. Sabemos que esse investimento é bom, mas antes, temos que saber das consequências para nosso povo”, finalizou.

Estado auxilia no fomento ao crescimento dos povos

Sobre o meio ambiente, Iasypitã Potiguara, disse que o Governo do Estado vem contribuindo com o projeto da juventude da nação. Um projeto conhecido por Águas Potiguara, cujo objetivo é revitalizar o Rio Sinimbu que abastece toda a cidade. “Por meio do Rio Sinimbu, temos o sustento de nossa agricultura familiar. E para fazermos essa revitalização, estamos realizando o reflorestamento da área em parceria com o Governo do Estado e da Universidade Federal da Paraíba, que vem distribuindo para as aldeias mudas de plantas, a exemplo do pau-brasil, entre outras espécies. A revitalização do rio é super interessante porque impulsiona o turismo na região, o que melhora a qualidade de vida dos indígenas e também a economia do município”, disse Iasypitã.

Ela ressaltou ainda que o governador João Azevêdo vem sendo um grande parceiro dos povos indígenas, a exemplo da autorização para a construção de diversas vias de acesso as aldeias. “E é por conta das vias de acesso construídas, que o turismo vem crescendo na Baía da Traição. Aliás, a pavimentação e vias de acesso representa tudo para uma cidade que busca o fortalecimento do turismo”, destacou.

O Governo do Estado também trouxe para o município o Programa Dignidade Menstrual. Iasypitã revelou que antes desse programa, muitas jovens indígenas deixavam de frequentar a escola por conta da menstruação, mais precisamente por falta de absorvente. “Elas ficavam constrangidas e simplesmente deixavam de ir à escola. Esse programa fez com que as meninas continuassem frequentando a escola”, afirmou.

Outra ação importante do Governo do Estado para os povos indígenas da Baía da Traição foi o lançamento da Linha de Crédito Empreender Mulher. “Essa Linha de Crédito vem rompendo com a violência doméstica porque quando a mulher passa a ter a independência financeira, ela consegue romper com a violência. De posse da Linha de Crédito do programa, as mulheres indígenas passam a ser empreendedoras nas áreas da culinária, gastronomia e artesanato, que é o principal foco das mulheres da Baía da Traição. Também na criação de galinhas, em cosméticos e em vestuário, uma vez que em nossa cidade não tem tantas lojas. A maioria delas enxergam oportunidades nessas áreas e investem no empreendedorismo”, detalhou.

As ações estatais também beneficiam os indígenas Potiguara no que diz respeito a questão da sustentabilidade com o envio de alevinos e sementes para o plantio nas aldeias.

Artesanato e Pix

Através do impulso com o Salão do Artesanato deste ano, que trouxe a arte indígena como tema, as mulheres artesãs ganharam destaque e ampliaram as formas de diversificar o consumo, como o uso do Pix como forma de pagamento. “Mesmo com suas limitações para acessar a internet e as novas tecnologias, elas conseguiram ampliar o universo de suas vendas passando a receber os pagamentos via Pix ou cartões de crédito, sem perder a cultura”, pontuou Iasypitã.

Ainda segundo a gerente operacional da Secretaria Estadual da Mulher e da Diversidade Humana, as novas tecnologias também chegaram para ajudar as mulheres indígenas a enfrentarem o racismo e a desigualdade. “O Salão do Artesanato paraibano trouxe essa motivação para as artesãs da Baía da Traição e ao mesmo tempo, deu visibilidade para as pessoas que não conheciam o povo Potiguara”, observou.

O artesanato é uma das bandeiras mais forte entre as mulheres indígenas. Atualmente o trabalho feito por elas é conhecido mundialmente “Isso é uma realidade, porque é grande o número de revendedores que compram peças aqui para revender o produto na Europa, onde ele é bem aceito. A produção do artesanato local também é bastante utilizada pelos indígenas. Eles compram muito o cocar original feito de palha que é o cocar nativo, pulseiras, brincos, colares e balaios entre outros produtos. Tudo feito pelas mulheres da aldeia”, comemorou.

Saiba mais

Só entre os Povos Potiguara existem mais de 20 mil indígenas registrados. O número de crianças e adolescentes deve ser divulgado no Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As principais reivindicações dos povos indígenas da Paraíba continuam sendo a demarcação territorial e a empregabilidade. O território indígena de Rio Tinto e Marcação ainda estão em processo de demarcação, já a Baía da Traição tem território demarcado.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de abril de 2023.