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Hoje, em plena atividade, Gonzaga Rodrigues, um dos mais importantes jornalistas e cronistas da Paraíba, completa 89 anos de idade com novo livro à vista e homenagens da APL e IHGP

Ele faz das letras, a sua tribuna

publicado: 21/06/2022 08h43, última modificação: 22/06/2022 09h04
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Foto: Edson Matos

por Guilherme Cabral*

Considerado mestre da crônica, o jornalista e escritor paraibano Gonzaga Rodrigues comemora, hoje, o aniversário de 89 anos. “Não dependeu de mim chegar a essa idade, mas, para mim, valeu a pena, pois tem sido muito importante chegar até aqui com dignidade. Recebo com humildade e gratidão essa idade”, confessou ele, que continua ativo, publicando seus textos no Jornal A União. Em clima de celebração, alguns dos amigos desse intelectual, que ocupa a Cadeira 37 da Academia Paraibana de Letras (APL), destacaram sua importância não apenas para o jornalismo, mas também para a cultura. Como reflexo dessa atuação, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano entregará o título de Sócio Benemérito a Gonzaga no dia 8 de julho, a partir das 10h, na sede da APL, em sessão conjunta de ambas as entidades. No mesmo mês, mas em data ainda a ser definida, está previsto o lançamento, na Livraria do Luiz, em João Pessoa, da antologia de crônicas de Gonzaga, Com os olhos no chão, editada por Juca Pontes.

“Gonzaga chega aos 89 anos. O menino que fugiu de Alagoa Nova em busca de novos horizontes encontrou, nas páginas dos jornais, o cenário de seus sonhos. Consagrado como o cronista desta cidade de Nossa Senhora das Neves, fez das letras a sua tribuna. Conviver com Gonzaga Rodrigues é um constante aprendizado. Cordato, amigo dos seus amigos, sempre tem algo a acrescentar ao nosso conhecimento, pois, mesmo com a vista já cansada, não larga o livro, que prefere em papel e tinta. É esse cheiro de jornal, que não sai de suas narinas, desde o tempo das linotipos das oficinas de A União, que ainda hoje o faz mergulhar nas páginas dos livros impressos. Queira Deus que possamos nos deliciar ainda por muito tempo com a sua companhia. Em nome da Academia Paraibana de Letras, que integra e já a presidiu, transmito ao aniversariante um grande abraço de todos os seus confrades e confreiras”, disse o presidente da APL, Ramalho Leite.

O gestor da APL informou que a ideia de conferir o título a Gonzaga Rodrigues lhe surgiu quando ocupava a presidência do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, no ano passado. Já o atual presidente do IHGP, Jean Patrício, comentou que, sobre Gonzaga Rodrigues, “tudo que disser será pouco para enaltecer seu trabalho de escritor e homem público. Gostaria, entretanto, como jurista e historiador”, prosseguiu ele, “ressaltar a sua participação no documentário O Homem de Areia, de Vladimir Carvalho, que traça um perfil do ministro José Américo e se tornou um clássico do cinema moderno e da historiografia brasileira”.

Juca Pontes informou que lançará Com os olhos no chão pelo selo MVC/Forma. “Será uma seleção das crônicas de Gonzaga Rodrigues que ele mais gosta e publicou em vários jornais, ao longo dos anos. Gonzaga é o nosso mestre maior da crônica e do jornalismo paraibano. É ele quem aponta os caminhos e é nosso parâmetro permanente, principalmente na cultura paraibana. Tem um texto primoroso. E, como pessoa, é um ser humano fabuloso, que conversa de forma serena e carinhosa. Nós só temos a aprender muito com ele”, afirmou Juca Pontes.

Contemporâneo do aniversariante, o jornalista Agnaldo Almeida também ressaltou a importância de Gonzaga. “Além de um grande ser humano, é uma pessoa muito agradável e solidária. Ele é e foi um professor, pois era quem tinha belíssimas sacadas na paginação, diagramação, titulação dos jornais. É uma grande referência para o jornalismo paraibano e acredito que, com seu talento enorme, se tivesse migrado para o eixo Rio de Janeiro - São Paulo teria obtido o mesmo sucesso. Suas crônicas são fora de série, com estilo bacana, com ironia e sátira. É um prazer tê-lo como amigo”, disse ele.

Integrante da APL, onde ocupa a Cadeira 31, a professora Ângela Bezerra de Castro lembrou já ter elogiado o trabalho de Gonzaga. “Admiro demais como cronista. Já escrevi sobre toda a minha amizade que está registrada em textos que fiz e, em um dos textos, falei sobre o fato de que Gonzaga tem o regionalismo de José Américo, a ironia de Lima Barreto, a visão social de Graciliano Ramos e a simplicidade e a beleza de José Lins do Rego. É um expoente da crônica paraibana e, como jornalista, é tudo de bom. E, como pessoa, além de tudo, Gonzaga é um amigo extremado, que não falta a outro amigo. Essa é uma qualidade suprema. E também é exemplo de vida, de resistência, de participação. Ele é um dos meus maiores e melhores amigos”, confessou ela.

“Quando Gonzaga Rodrigues completa 89 anos de idade, nossas atenções se voltam para o jornalista que procurou o coroamento da crônica. Escritor que trouxe lirismo e beleza à crônica. Crônica que trata como arte literária. Não integra o grupo de grandes cronistas mais conhecidos do Brasil é porque desejou ficar na Paraíba. Quando se construir o memorial da crônica paraibana, Gonzaga terá lugar de destaque”, declarou o jornalista, cronista e diácono José Nunes, que ocupa a Cadeira 12 do IHGP. “Ele tem feito da vida uma sinfonia a partir das paisagens de Alagoa Nova, em meio a aragem espalhada pelas enseadas e várzeas da sua região. Um homem alegre que carrega o riso como alimento à vida. Conheço Gonzaga há mais de 40 anos e testemunhamos, nos gestos por ele, praticados a presença do homem preocupado com o bem-estar coletivo. Numa perspectiva cristã, é capaz de assumir o sacrifício pelos outros, sem que a mão direita veja o que a esquerda faz”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de junho de 2022.