Garantindo intersecções com a literatura, a 8ª Edição do Festival Internacional de Música de Câmara, promovido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), abre sua programação gratuita na próxima sexta-feira (15), fazendo homenagens a expoentes da cultura no estado. O principal deles, o poeta Augusto dos Anjos, que dá nome ao evento deste ano e que será reverenciado com recitais ao longo desta semana. O maestro José Alberto Kaplan, falecido em 2009, e o artista visual Flávio Tavares também serão lembrados pela instituição — o primeiro, pelos 90 anos de seu nascimento; o segundo, pelos 75. Todas as atividades ocorrerão no Campus I da instituição, no bairro do Castelo Branco, em João Pessoa.
A grade do festival segue até o dia 23, com apresentações especiais e masterclasses. Os concertos acontecem diariamente às 20h, na Sala Radegundis Feitosa, situada no Departamento de Música (Demus).
Na abertura, nesta sexta-feira (15), Milton Marques Júnior, escritor paraibano, fará a palestra inicial sobre Augusto. As solistas Ambroise Aubrun, da França, e Kate Hamilton, dos Estados Unidos, conduzirão, no violino e na viola, respectivamente, um programa diverso. Em um segundo momento, a Orquestra Sinfônica da UFPB subirá ao palco com obras de Arnold Schoenberg e Edward Grieg. Os instrumentistas estarão sob a regência do maestro estadunidense Paul Chou, que também toca violino.
Recital com Augusto
As masterclasses começarão no sábado (16). Os interessados podem reservar vagas gratuitamente pelo site Sigeventos, da UFPB: ao todo, são 15 turmas disponíveis, com vagas limitadas.
No primeiro dia, Ambroise Aubrun oferecerá curso das 10h às 12h, no Auditório Gerardo Parente, também no Demus. No domingo (17), Kate Hamilton encontra os alunos, também das 10h às 12h, mas na Sala Radegundis Feitosa.
Instrumentistas de diversas partes do mundo também estarão nesse intercâmbio: o violinista Cármelo de Los Santos (Brasil/EUA), a pianista Heather Shea Lanners (Canadá/EUA), o pianista Andrea Carcano (Itália) e o compositor Gregory Mertl (EUA/França/Brasil) completam o corpo docente.
Além dos músicos e dos pesquisadores da própria universidade e de instituições do Nordeste e do Norte, o festival abrirá espaço para outras orquestras sinfônicas, como a do estado da Paraíba, e grupos locais, a exemplo do Sexteto Brassil — este estará a cargo da homenagem a José Alberto Kaplan, no sábado (16), às 20h.
- O Sexteto Brassil se apresenta no sábado à noite, tocando Kaplan e Rossini | Foto: Divulgação
A cordelista Cristine Nobre Leite compartilhará um folheto inédito na ocasião, abordando as cartas endereçadas por Augusto dos Anjos à mãe. Um concerto especial celebrará as atividades do mês no dia 29, às 19h, no Centro Cultural São Francisco (Centro): a Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa estará sob a batuta do maestro chileno Carlos Dourthé.
Os literatos e professores convidados para as palestras e recitais compartilharão suas impressões sobre os versos de Augusto. Além de Milton Marques Júnior, integrarão este segmento Bernardina Freire, Fábio de Sousa Dantas, Hildeberto Barbosa Filho, Jairo Cézar, Sérgio de Castro Pinto e Marineuma Oliveira.
Esta última, por exemplo, estará ao lado do grupo poético Evocare, declamando poemas como “Noturno”, acompanhados, ao piano, por Heather Lanners. “É uma oportunidade de dar visibilidade e de valorizar a literatura, que também utiliza estratégias afins às da música em seu processo criativo, como o ritmo, a harmonia e a capacidade de sensibilizar as pessoas pelo que produz”, aponta Marineuma.
Circulação internacional
O evento é coordenado pelo professor Felipe Avellar de Aquino. Ele assevera que o festival já está consolidado no calendário da universidade e de outros equipamentos públicos do estado, buscando sempre conectar-se com outras linguagens e expressões culturais.
O docente rememora que, em outras edições, as artes plásticas e o cinema também foram temas. “Na pandemia, tivemos uma edição virtual, só com as masterclasses. Retomamos em 2022 com música e filosofia. Em 2023, foi música e literatura de cordel, ou seja, bem ousado: a cultura popular mesclada com a música de concerto. Em 2024, foi música e humanidades, com palestrantes mulheres respondendo a questão ‘Por que a música emociona?’”, recorda.
Sobre a escolha de Augusto dos Anjos como homenageado principal e a simbiose entre sua obra e as peças que serão executadas nos próximos dias, Felipe declara que o festival é a oportunidade para ampliarmos as análises em torno dos versos de Augusto e superarmos percepções que se repetem sobre seus poemas, como a de que eram apenas soturnos.
“Milton Marques Júnior descobriu uma relação entre o texto da ópera A Morte de Anita Garibaldi (de Catarina Domenici) com “Os doentes”. Esta poesia de Augusto prega por um novo mundo, assim como a ópera, que será apresentada na abertura. Ele também tem poesias que são extremamente doces e relacionadas à música, à cultura, às artes”, informa.
Enaltecendo a empreitada, Felipe destaca a importância da parceria e dos acordos de cooperação que são firmados por meio do Festival Internacional de Música de Câmara, como o apoio da Embaixada da Itália no Brasil, que auxiliou na vinda de Andrea Carcano à Paraíba. O professor também sinaliza que a relevância dessa iniciativa extrapola o âmbito acadêmico.
“Essa troca artística que acontece nos ensaios, nos concertos, entre alunos e docentes, é só uma das propostas do festival. Esse crescimento artístico é de todos e resulta, depois, em circulação internacional”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de agosto de 2025.