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Artes visuais

Ensaios pincelados da vida

publicado: 31/08/2023 10h45, última modificação: 31/08/2023 10h45
Hoje, na Galeria Archidy Picado, em João Pessoa, artista Potira Maia lança a exposição gratuita ‘Princípio do Prazer’, captando o cotidiano diversificado de anônimos
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Para a composição, a autora fotografa o personagem para não perder a naturalidade da situação e o coloca sob um “verniz” de anonimato através de um olhar bem mais artístico do que técnico - Imagem: Potira Maia/Divulgação
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Por meio da composição, ‘closes’, técnicas de corte e pinceladas, obras são o resultado das séries ‘Ensaios para a solidez’ e ‘Ensaios para a sublimação’, além do políptico ‘O pecado original’ - Imagem: Potira Maia/Divulgação
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Imagem: Potira Maia/Divulgação
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Princípio do Prazer é o nome da exposição da artista visual Potira Maia, que começa hoje, às 19h, na Galeria Archidy Picado, instalada no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. A mostra é aberta ao público e tem entrada gratuita. Esta é a primeira exposição do Edital de Ocupação 2023 da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc) e fica em cartaz até 29 de setembro.

A iniciativa é resultado de fotografias que a artista vem captando de pessoas anônimas desde 2011. Desses cliques surgiram obras que – por meio da composição, close-ups, técnicas de corte e pinceladas – resultaram nesse trabalho apresentado em duas séries: Ensaios para a solidez (2019-2023) e Ensaios para a sublimação (2019-2020), além de um políptico intitulado O pecado original.

Potira Maia conta que é uma pessoa muito observadora e sempre prestou muita atenção nas pessoas, em algumas cenas que considera interessantes, situações que destoam dos protocolos, às vezes. “São essas pessoas que se deixam ser, que fazem e querem fazer, ultrapassam os protocolos impostos de comportamento e de conduta. Essas coisas sempre me interessaram. Então, comecei a registrar essas pessoas no intuito de fazer as pinturas”, relata ela.

Porém, quando leva essas figuras para a pintura, a artista as coloca num lugar de anonimato, ou seja, não é uma pintura hiper-realista. “Esse anonimato é importante porque eu não peço para fotografar para não perder a naturalidade da situação, mas também não me sinto no direito de usar aquela imagem da fotografia e torná-la pública por respeito às pessoas. As pinturas surgem dessa forma, sempre a partir desse olhar cuidadoso”, explica Potira Maia.

Apesar de fotografar, ela não se considera uma profissional da área e sim uma artista visual que usa fotografia com um olhar mais artístico do que técnico, importando mais explorar a fotografia enquanto matéria artística do que pensando em técnicas de enquadramento e luz.

Séries

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A artista tem um bloco grande de trabalhos que sempre denomina como ensaios. “Tenho uma perspectiva de entender a coisa como processo, ensaios de vida. Sempre estamos em processo de tentativa que nunca é fechada. Essas duas séries, Ensaios para a solidez e Ensaios para a sublimação, são cenas de João Pessoa que capturei há alguns anos e trazem um pouco dessa iconografia desse espaço que é Nordeste, muito familiar para nós”, comenta.

Ensaios para a solidez se baseia em imagens de pessoas que frequentavam o antigo bar do Contorno, no bairro do Castelo Branco, em João Pessoa. A série envolve a atmosfera da vida noturna em bares locais, ao mesmo tempo em que apresenta situações estranhas, como uma garota que sopra bolhas de sabão.

Ensaios para a sublimação abrange a relação entre a proibição e a busca do prazer. A inspiração vem de ervas que foram historicamente empregadas em rituais religiosos, mas que agora encontram uso recreativo.

No políptico O pecado original, a artista retrata uma experiência em um contexto noturno diferente, ambientado na Catalunha. A obra foi desenvolvida em uma residência artística que ela fez em Barcelona, em 2018, e concluída em 2020.

Potira Maia explica que não é uma série. São quatro telas. Após os registros fotográficos em Barcelona, começou a pintar. A ideia, segundo a artista, foge um pouco dessa perspectiva local, mas dialoga com a noção que leva para essa exposição que é o princípio do prazer. Tem a ver com a busca incessante do humano que sempre procura extrapolar o limite do real e alcançar algo que está além do trabalho, da produtividade. “É o desejo mesmo do lazer, da experiência transcendente, de acessar formas de prazer. Trago esse nome porque é uma experiência de fundo na maçã que é símbolo do pecado, e é feita essa analogia também dessa relação com cigarro, da cannabis, e faço todo esse trocadilho”.

A artista acrescenta que está feliz com a exposição porque a Galeria Archidy Picado foi cenário de sua primeira exposição individual, realizada há 11 anos. “E agora, depois de ter passado um período fora, volto a um lugar onde comecei a me constituir como artista. Apesar de ser baiana, me considero artista paraibana porque foi aqui que me fiz artista. Minhas referências são a partir desse lugar, dessas interlocuções desde a faculdade aos artistas que produzem aqui nesse eixo. A Funesc tem um olhar muito profissional para as coisas, coerente. Isso também legitima o trabalho e tem a ver com o reconhecimento”, acrescenta ela.

Potira Maia nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia. É artista visual formada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e mestre em Pintura pela Universidade de Lisboa (Portugal).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 31 de agosto de 2023.