A televisão brasileira nasceu na capital paulista, em 18 de setembro de 1950, mas a paternidade daquela então criança era paraibana. O umbuzeirense Assis Chateaubriand, alçado ao status de ás da comunicação, consolidou o empreendimento que permaneceria no ar por três décadas e que precipitaria uma revolução no país: a TV Tupi. Chateaubriand e outros pioneiros nascidos na Paraíba serão lembrados, a partir de quarta-feira (17), no ”Seminário 75 Anos da Televisão Brasileira”, a ser promovido pelo Departamento de Comunicação da Universidade Estadual da Paraíba (Decom--UEPB). O evento gratuito terá como palco o Auditório 3 da Central Acadêmica Paulo Freire, Campus 1, em Campina Grande.
A abertura acontecerá às 9h, com a exibição do documentário Um Dia no Jornal Nacional. Em seguida, às 10h, a jornalista gaúcha Jô Mazzarolo compartilhará com os presentes suas experiências como ex-editora do Jornal Nacional e como ex-superintendente da Rede Globo Nordeste, em Pernambuco. Por fim, às 11h, haverá o lançamento do livro Mude o Conceito, escrito por Mazzarolo. Na quinta-feira (18), as atividades serão retomadas a partir das 9h, com a exibição de outro documentário — Péricles Leal, um Pioneiro Esquecido, dirigido por João de Lima Gomes e Manuel Clemente. Às 10h (e novamente às 19h) o professor Rômulo Azevedo (da UEPB) preside o colóquio “TV no Brasil: da TV Tupi à TV 3.0”.
Na sexta-feira (19), último dia do seminário, o radialista e empresário Abílio José, tornará pública a sua experiência em “TV Nordestina – Uma TV local de dimensão regional”, colóquio sobre a emissora campinense, às 9h. O docente e historiador Gilson Souto Maior encerrará o evento memorialista com “A TV no Nordeste e na Paraíba”, debate sobre os caminhos que o segmento tomou na região ao longo dessas sete décadas e meia. Organizador dessa iniciativa, Rômulo Azevedo assevera que os participantes poderão analisar ou conhecer a contribuição de outros conterrâneos, como Chateaubriand (que morreu em 1968), nas primeiras décadas do meio de comunicação no Brasil.
Comentando a atuação visionária do “pai da TV Tupi”, Rômulo compartilha com A União a informação levantada por Fernando Morais no livro Chatô, o Rei do Brasil. As primeiras transmissões televisionadas concentraram-se nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente. Mas as emissões seguintes ocorreram, justamente, na Paraíba.
“A terceira foi em João Pessoa e a quarta em Campina Grande. E por que isso? Em 1954, Chateaubriand foi candidato ao Senado. E como ele entrou atrasado na campanha, fez só três comícios. Aí trouxe do Rio uma câmera, um sistema de iluminação, um monitor e um microfone para transmitir para quem estava ali na Lagoa (no caso da capital) o comício dele. E realmente foi um sucesso”, aponta.
Péricles Leal, alagoa-novense, forneceu, segundo Rômulo, seu amplo conhecimento, acumulado como radialista e redator (inclusive em A União). Escreveu sua primeira telenovela em 1952, mas conquistou sucesso popular com o Falcão Negro, espécie de “Zorro tupiniquim”, que liderava o seriado homônimo.
O personagem também foi visto, nos anos seguintes, em discos e HQs. Um de seus últimos trabalhos na televisão brasileira foi o especial Os Homens Querem Paz, veiculado na Globo em 1991, com direção de Luiz Fernando Carvalho, um remake de uma atração homônima da Tupi. Sem acesso aos roteiros originais, Leal, que morreu em 1999, reescreveu a história com base na própria memória.
No campo da atuação, o ator Sebastião Vasconcelos, natural de Pocinhos, também participou dos primeiros tempos da TV brasileira. Do teatro, no final dos anos 1940, rumou para o Rio de Janeiro, tornando-se artista da companhia liderada por Tônia Carrero, Adolfo Celi e Paulo Autran.
A estréia na TV Tupi deu-se nos teleteatros apresentados ao vivo, contracenando com outros grandes nomes da dramaturgia brasileira. Transferiu-se, na década de 1960, para a TV Globo, onde imortalizou tipos famosos em novelas, como o Zé Esteves de Tieta (1989) e o Tio Abdul de O Clone (2001). Faleceu em 2013.
Ainda no quesito pioneirismo, o destaque das emissoras locais fica com a TV Borborema, a primeira do estado, cuja implantação também foi realizada pelos Diários Associados. O canal, ainda no ar, foi tratado como a “menina dos olhos” de Chatô, conforme depoimento de Marconi Góes, ex-superintendente do conglomerado da Paraíba; o relato foi reproduzido por Rômulo Azevedo.
“Ele disse que queria transformar a cidade numa ‘Hollywood regional’, para produzir programas e novelas a partir de Campina Grande, em distribuição para o Norte e Nordeste do Brasil. A Rádio Borborema tinha uma posição muito boa e ele achava que na televisão eles teriam essa mesma competência”, afirma.
Rômulo acredita que a concorrência da internet tende a minar ainda mais a audiência e a repercussão da TV aberta no país, sobretudo nos próximos 10 anos. Mas o docente ressalta que ainda há maneiras de manter o segmento vivo por um bom tempo.
“Muita coisa ainda precisa ser mostrada. Há públicos que não participam da televisão, ou que o fazem apenas como telespectadores, sem aparecer nos programas, ‘por dentro’”, afirma. “O problema é manter o modelo standard, aquilo que a Globo ou que o SBT fazem. É preciso um olhar local. Tem muita coisa que precisa ser descoberta”.
Dez programas históricos para você ver agora:
- Programa Silvio Santos (Várias emissoras – de 1963 até presente)
Programa de variedades que sobreviveu até à morte do “patrão”. Disponível no +SBT e no YouTube
- Xou da Xuxa (TV Globo – de 1986 a 1992)
Ápice da dinastia das louras nos infantis. Episódios selecionados no Globoplay
- Os Trapalhões (TV Tupi/TV Globo – de 1973 a 1995)
O quarteto líder no humor popular. Programas selecionados no Globoplay
- Roda Viva (TV Cultura – de 1986 até o presente)
Programa com vários entrevistadores e um entrevistado. Disponível no Cultura Play; edições históricas no YouTube
- Programa Jovem Guarda (TV Record – de 1965 a 1968)
Roberto Carlos e sua turma. Edição histórica no Playplus e no YouTube
n Documento Especial (TV Manchete/SBT/Band – de 1989 a 1998)
Série de reportagens polêmicas que marcaram época. Disponível no Youtube
- Programa Livre (SBT – de 1991 a 2001)
Serginho Groisman com música e o seu “fala, garoto!”. Disponível no Mais SBT e no Youtube
- Globo Repórter (TV Globo – de 1973 até o presente)
Programas de grandes reportagens. Disponível no Globoplay; edições históricas no Youtube
- Telecurso (Várias emissoras – de 1977 até o presente)
As mais famosas aulas na TV. Disponível no Youtube
- O Bem-Amado (TV Globo – 1973)
Uma das maiores novelas da história e a primeira a cores do Brasil. Disponível no Globoplay
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de setembro de 2025.