Lucas Silva - Especial para A União
Um diálogo do corpo com o escuro e com o que é possível de ser iluminado. Essa é a definição prévia que o público pode ter na imaginação sobre o espetáculo de dança titulado “Sobrevivência dos vaga-lumes”, que acontece hoje, às 20h, dentro do projeto Cardume do Espaço Cultural. Segundo a diretora responsável pela performance, Joyce Barbosa, são estabelecidos dois tipos de procedimentos – embalar e fagulhar – como zonas de improvisação, abrindo espaços para a construção de uma textura. “O ambiente sonoro auxilia na composição estratégica, que embala e fagulha o corpo de quem assiste”, completou. Portanto, os interessados em participar podem comparecer ao Teatro Paulo Pontes e desfrutar da apresentação. A entrada custa R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).
Inicialmente o conceito do espetáculo de dança partiu do famoso artigo dos Vaga-Lumes, escrito por Pier Paolo Pasolini em 1975, onde o escritor Didi-Huberman, logo depois, defende a sobrevivência da experiência e da imagem, em um texto que representa uma grande guinada na história da arte. Desse modo, a diretora, assim como dançarina, Joyce Barbosa, com a participação especial de Erik Breno, traduz, por meio dos movimentos, os procedimentos de dança.
Mergulhando um pouco mais no universo do espetáculo, “Sobrevivência dos Vaga-lumes”, tem como procedimento de dança a improvisação. Ao tratar da luz como metáfora, o Huberman constrói uma obra imagética, trazendo a luz do vaga-lume como a representação do que permanece frente às inúmeras luzes artificiais. Em cena, Joyce Barbosa apresenta uma movimentação que aborda a sobrevivência como resistência, assim embalar se refere a essa permanência, e fagulhar nos remete a luz dos vaga-lumes.
“Senti a necessidade de falar sobre o que permanece e sobre como permanece no corpo. Por isso, é com o embalar que eu inicio o processo, focando no meu corpo para que ele adquira esse estágio de balanço, e para que isso me leve para a segunda ação que eu chamo de fagulhar. É com essa pequena luz que risca, ascende e apaga numa velocidade muito rápida, que quero criar vários pontos de fagulha, como um ‘movimento vaga-lume’ mesmo. Para esse movimento fagulhado, eu parto da premissa de que minha cabeça é um grande olho, não se fixa em nada e olha para vários lugares ao mesmo tempo, e a ideia é levar esse olho para outras partes do meu corpo também. Tento traçar um diálogo com essa luz que percebo no ambiente”, explica Joyce Barbosa.
Visão do livro de Didi-Huberman:
O livro analisa a obra de Pasolini, estabelecendo conexões com o pensamento de outros intelectuais, especialmente o de Giorgio Agamben. Os vaga-lumes representam as diversas formas de resistência da cultura, do pensamento e do corpo diante das luzes ofuscantes do poder da política, da mídia e da mercadoria.
A visão apocalíptica de Pasolini, expressa em sua afirmativa “não existem mais seres humanos”, e a de Agamben, segundo a qual o homem contemporâneo está “desprovido de sua experiência”, constituem um dos eixos da discussão estabelecida por Didi-Huberman. O autor recorre ao trabalho de Walter Benjamim, “Imagem Dialética”, para demonstrar que a experiência ainda é possível no mundo contemporâneo.
O que é o projeto Cardume?
Tomando como base a ideia de coletivo e a perfeita sincronia entre os membros de uma mesma equipe, os peixes que habitam os espelhos d’água do Espaço Cultural serviram de inspiração para o nome do projeto de ocupação lançado pela Funesc, na primeira semana de janeiro.
Intitulada “Circuito Cardume”, a ação reúne espetáculos de teatro, dança e circo. A iniciativa nasce da necessidade de ocupar esses locais durante o mês de janeiro, além de oferecer mais uma opção de lazer aos turistas que visitam a capital paraibana durante o período de alta estação.