Lucas Silva - Especial para A União
"É a nossa primeira vez no projeto Cardume com esse espetáculo. Durante a encenação, passamos por quatro histórias sobre a tradição oral nordestina numa grande e divertida brincadeira. Cada um destes personagens demonstra grande coragem ao enfrentar diferentes desafios”, contou brevemente durante a entrevista ao jornal A União a atriz Itamira Barbosa, que faz parte do espetáculo intitulado “Estórias”. Com encontro marcado hoje, às 17h, no Espaço Cultural, mais precisamente no Teatro Paulo Pontes, o grupo Engenho Imaginário é o responsável pela peça teatral que promete levar a criançada ao teatro. Os interessados em participar podem adquirir suas entradas na bilheteria do local nos valores de R$ 20 inteira e R$ 10 meia-entrada.
Com duração de 50 minutos e voltado para crianças a partir de 6 anos, o espetáculo faz parte do projeto Cardume e é apresentado por meio da narração de romances da literatura oral nordestina. Além disso, toda a base da peça é fundamentada em pesquisas realizadas no Museu da Cultura Popular (NUPPO) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e nos registros do pesquisador Altimar Pimentel, disponíveis em cordéis, livros, CDs e vídeos, todas de domínio público, trazendo dessa maneira não somente mais uma peça teatral e sim a história nordestina contada em registros históricos.
Saindo um pouco do universo do surgimento e narração, a construção do texto teatral foi pensada a partir da temática principal - o medo e as suas especificidades. Quem tiver a oportunidade de assistir a performance verá que a composição da história é narrada por personagens que incorporam uma função catártica. Dessa forma, entre os nomes que sobem ao palco estão Itamira Barbosa, Naná Vianna, Nina Elssia e David Muniz. Todos sendo dirigidos por Guilherme Schulze e com texto de Valeska Picado.
“Além de ser um espetáculo voltado para crianças e que tem base na literatura nordestina, a peça é também musicalizada. Nós trazemos músicas de domínio popular e canções autorais que produzimos durante os anos de trajetória no teatro”, disse a atriz. Ainda durante a entrevista, Itamira completou dizendo que cada integrante do grupo tem uma função muito importante na construção das canções, pois um escreve, o outro faz a musicalização e as ideias vão surgindo.
A escolha da narrativa vem do desejo de contar uma história estimulante com o objetivo de entreter e despertar a curiosidade do público infantil. Já as personagens das histórias narradas, inspiradas nos clássicos da tradição oral, são representações atuais, que apesar de por um lado refletirem a cultura popular conservadora, são também contestadoras, respeitando a diversidade e contribuindo para uma discussão, de caráter político, sobre cidadania e etnia.
Algo interessante e que chama atenção durante toda a encenação são as falas dos personagens que se apresentam em diálogos e versos, como se o enredo fosse uma grande sinfonia trovadoresca executada por cantadores de violas, pifeiros, rabequeiros e emboladores de coco. Os versos são utilizados como instrumento de comunicação universal aproximando gerações e quebrando barreiras culturais.
A cenografia, o figurino e a maquiagem, coisas que na maioria das vezes tem pouco destaque, dessa vez vieram para marcar, pois todas elas foram inspiradas na estética Armorial, buscando um caráter poético e uma constante preocupação com o belo mesmo quando se trata do grotesco, pretendendo provocar o encantamento pela cultura nordestina, contestando os estereótipos que definem o popular como pitoresco, exótico, geralmente considerada como uma cultura menor.
E por fim, a encenação segue com o estilo romancesco proposto pelo texto, onde haverá na ação uma mistura entre a narração e a música, valorizando e enriquecendo a pluralidade da cultura nordestina. Nesse sentido, as histórias que fazem parte do texto se fundem através de um contraponto entre narração, música, ação e marcações coreográficas. A ideia é envolver as crianças da platéia em cada história de forma que ao final do espetáculo a reflexão e o prazer se façam presentes.