Lucas Silva - Especial para A União
A comédia dramática de 60 minutos que conta a história de uma índia velha e grávida que observa o passar dos anos do Brasil por mais de 400 anos. É a partir desse olhar que a “Companhia goiana de teatro Nu Escuro” traz à capital o espetáculo intitulado “Pitoresca”. Ganhando o palco do Centro Cultural Piollin amanhã e no sábado (29), a apresentação está marcada para às 20h, e foi uma das contempladas pelo prêmio Myriam Muniz 2015, além de fazer parte da trilogia “Goyaz”, um trabalho de investigação cênica da Nu Escuro. A entrada para a atividade é gratuita ao público.
“É a primeira vez que vamos a João Pessoa, então estamos muito felizes por visitar a cidade e esperamos a casa cheia para apresentarmos um espetáculo interessante e muito bem humorado com música, dança, teatro de bonecos e muito mais”, disse o ator e produtor, Lázaro Tuin, em entrevista ao jornal A União.
Como dito anteriormente, o roteiro do espetáculo apresenta uma índia velha e grávida que observa a história do Brasil por mais de 400 anos. Indo mais além, ela presencia não somente a história, mas a formação das identidades brasileiras que foram construídas a partir dos olhares estrangeiros. De forma geral, o espetáculo propõe duas visões entre os relatos históricos e as contradições do mundo atual, fazendo isso uma provocação saudável, bem humorada e sobretudo da nossa própria história.
“Durante três anos trabalhamos duramente para intensificar todas as técnicas presentes na peça. Como resultado, temos um espetáculo não muito tradicional, que foge do dinamismo, mas com humor e leveza”, explicou Tuin.
Como base para a construção do texto dos atores foram utilizados e feitos estudos em cima de relatos de cientistas e artistas europeus. Além disso, uma autobiografia de um africano escravizado e livros de viagens de piratas aventureiros que passaram pelo Brasil forjaram um caleidoscópio quase psicodélico de olhares no alvorecer da globalização que escancaram as contradições do nosso mundo moderno.
Portanto, é possível dizer que a história do Brasil, desde sua colonização até o desenrolar de grandes histórias por meio de seus visitantes, é presenciada e contada pela índia que faz da história sua voz teatral.
“Partimos da ótica de uma índia velha e grávida que está morrendo e dando a luz. É a partir daí que temos a criação de um meio cíclico de fim e início da vida, entretanto, sendo assistido por 400 anos”, contou o diretor da peça teatral, Hélio Fróes, em entrevista a TV Brasil Central.
Ainda na entrevista, Fróes falou sobre as técnicas utilizadas para o desenvolvimento do trabalho. “Foram feitas aulas de dança, canto, manipulação de boneco, viewpoints, percussão, entre outros, para fazer com que o espectador se sentisse seduzido pelas cenas trabalhadas”, concluiu.
Entre os nomes de exploradores e viajantes que aqui deixaram sua marca estão Pero Vaz de Caminha, Auguste Saint-Hilaire, Langsdorff, John Emmanuel Pohl, Cuthbert Pudsey, Gentil de la Barbinais, Gardo Baquaqua, Anthony Knivet, Gobineau, Louis Agassaiz, Francis Castelnau, Hans Staden e Maria Graham - todos estrangeiros que visitaram o Brasil no período do século XV ao XIX.
Fora os estrangeiros, relatos elaborados por artistas e cientistas das expedições presentes nas viagens também tiveram sua vez. Nomes como Rugendas, Taunay, Florence, Debret, Frans Post e Albert Eckhout foram estudados. E fechando a grande lista de nome, os “Relatórios de Província” que o Governo de Goiás encaminhava ao Imperador do Brasil no Rio de Janeiro no século XIX.
Saindo um pouco da visão meramente construtiva da peça, todo o trabalho que será visto pelo público presente na atividade traz consigo uma série de técnicas – narrativas e linguísticas – na tentativa de fazer com que o público seja incluso na cena. Os responsáveis por esse envolvimento são os atores Adriana Brito, Eliana Santos, Izabela Nascente, Lázaro Tuin e Liomar Veloso, com direção de Hélio Fróes e figurino de Rita Alves.
De onde surgiu a ideia
Pode parecer uma ponta independente, mas na verdade o espetáculo faz parte da trilogia “Goyaz”. Um trabalho de investigação cênica proposta pelo Cia Nu Escuro, que tem como objetivo olhar de forma crítica e poética para a formação do Estado de Goiás. “Pitoresca”, dirigido por Hélio Fróes, é a terceira peça dessa trilogia, que começou com Plural (2012) e depois Gato Negro (2013). A trilogia tem também como proposta fortalecer e aprofundar as linhas de estudos e técnicas do grupo e sua pesquisa estética.
A Cia de teatro Nu Escuro, de Goiânia (GO), é um grupo de atores/encenadores que trabalham juntos desde 1996, desenvolvendo uma estética própria, com vertentes mais fortes na investigação da dramaturgia, na música executada ao vivo pelo elenco e nas construções poéticas desenvolvidas com o teatro de animação.