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Linda Ramalho estreia carreira solo

publicado: 12/02/2023 00h00, última modificação: 15/02/2023 10h05
Filha de Zé Ramalho, cantora e compositora faz seu lançamento com disco oriundo da essência e da pegada do rock
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Caçula da família Ramalho, Linda traduz o conceito sonoro das músicas do seu trabalho solo em termos como “subversão”, “questionamento” e “atitude”
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Além da música homônima ‘Adrenalina’, EP conta com duas composições em inglês e uma versão punk rock de ‘Eternas Ondas’, sucesso do pai dos anos 1980
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Disco foi produzido por Zé Ramalho, que ganhará um show de tributo para gerar futuramente o álbum ‘Linda Ramalho canta Zé Ramalho’
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Linda e ZR Foto LeoAversa-180.jpg

tags: linda ramalho , adrenalina , cultura ,

por Joel Cavalcanti*

Um velho cruza as soleiras de sua casa e bate na porta do quarto de sua filha, que dormia. “Ele estava com o maior sorriso, de braços abertos, e me disse: ‘Você fez um lance incrível, está a sua cara, parece Sex Pistols, Nirvana!’. Nunca o tinha visto mais orgulhoso: naquele momento, fui a pessoa mais feliz do mundo”, conta a cantora e compositora Linda Ramalho, a filha mais nova de Zé Ramalho. Ela se lança na carreira solo com Adrenalina, EP de quatro faixas que conta com, além da música homônima, duas composições em inglês e uma versão punk rock de ‘Eternas Ondas’, sucesso do pai, gravado por Fagner, em 1980.

A canção que gerou reação tão emocionada do paraibano de Brejo do Cruz foi ‘Nothing to hide’, que Linda Ramalho acabara de gravar no estúdio, cedo da madrugada, e que Zé comparou às bandas do movimento punk e grunge. “Eu entendo que ele reconheça essas influências, inclusive eu já tive uma banda cover chamada Linda and the Spacehearts, na qual eu cantava exatamente músicas dessas bandas. Então, faz todo sentido. Mas quando eu escuto esse EP, eu penso mais em Joan Jett e L7, que também fazem parte do mesmo estilo, da mesma tribo de Sex Pistols e Nirvana”, explica a artista. Ela traduz o conceito sonoro das quatro músicas de Adrenalina em termos como “subversão”, “questionamento” e “atitude”.

“Eu sempre fui do rock e alguns anos atrás passei por uma fase eletrônica, que também é um estilo que eu gosto muito, e que vejo se misturando com todos os outros gêneros, principalmente com o rock. Mas minha essência sempre foi essa mesmo, e eu estou vendo que agora o rock está voltando com tudo. Por coincidência, chegou minha hora de mostrar tudo o que eu sei sobre esse tipo de música”, acredita Linda.

Ela confessa a influência ativa em seu gosto musical por parte do pai, de quem ganhava CDs do Nirvana e Ramones, enquanto, ainda criança, estudava com o músico Antonio Adolfo, no Rio de Janeiro. “Até então, eu achava que as pessoas nasciam sabendo tocar os instrumentos, não fazia ideia de que existia aula de música. Com 9 anos, eu pedi a minha primeira guitarra e a primeira a que aprendi a tocar foi ‘Come As You Are’, do Nirvana”, recorda ela.

Além da música homônima ‘Adrenalina’, EP conta com duas composições em inglês e uma versão punk rock de ‘Eternas Ondas’, sucesso do pai dos anos 1980Identidade própria

Assim como declara em uma de suas composições, Zé Ramalho nunca foi o rei do rock, mas também nunca vendeu sua guitarra. Ele é referência do ritmo sem largar as influências populares nordestinas. Foi bandolero, caubói, junkie e hippie. É o produtor do disco da filha, que é puro punk rock com grunge e hardcore.

Porém, mesmo com todas essas relações consanguíneas, a motivação de Linda Ramalho para encarar agora uma carreira apostando em músicas autorais e em uma banda que leva o seu nome foi ter uma identidade própria, sem a associação direta que o sobrenome causa. “A intenção desse EP é me apresentar não somente como filha do Zé Ramalho, mas também como Linda Ramalho, quem eu sou. Durante a pandemia, eu pensei muito sobre o que fazer com a minha vida, pensava que talvez devesse ter abandonado a arte para seguir na Psicologia, que seria a minha segunda opção de carreira”.

Quem foi responsável por impedir a ida de Linda aos consultórios foi o seu professor de violão e teoria musical João Guilherme, que se tornou o baixista da banda formada ainda pelo baterista Caco Braga e o guitarrista China. “Durante os anos de 2020 e 2021 eu compus as músicas desse EP, elas vieram à minha mente e foi João Guilherme quem me ajudou a ‘traduzir’ as melodias, da cabeça para o violão”, lembra.

Tributo

Durante esse mesmo período de crise sanitária, Linda Ramalho compôs ‘Same bad’ para falar sobre como foi dormir tanto tempo sempre na mesma cama, confinada em seu quarto, sem poder sair. Mas foi também durante esses momentos que ela viu ressurgir um movimento do rock’n’roll.

A pandemia também obrigou a família Ramalho a vender uma casa que mantinham em João Pessoa. Nascida e crescida no Rio de Janeiro, Linda costumava vir todos os anos à Paraíba. “Sou completamente apaixonada pela Paraíba, eu sonho que estou aí pelo menos uma vez por mês. Era o meu ‘detox anual’, tomava banho de mar todo dia, meditava”, confessa ela, que estará na capital paraibana novamente em abril, para visitar os irmãos por parte de pai. Quando vier, ela já estará envolvida nos ensaios do próximo projeto, que consiste em apresentar o show Tributo a Zé Ramalho, incluindo no repertório as quatro músicas do EP Adrenalina. A ideia é que isso gere o álbum batizado de Linda Ramalho canta Zé Ramalho.

Sem as linhas que dividem as atribuições paternas das de produtor muito definidas, a relação entre Zé e Linda Ramalho dá uma oportunidade de convivência familiar e musical que o autor de ‘Avôhai’ nunca teve, já que o seu pai, o seresteiro Antônio de Pádua Pordeus Ramalho, morreu afogado em um açude quando Zé Ramalho tinha apenas 3 anos de idade. “Eu adoro conversar com meu pai, e para além do EP também estamos preparando um set só de músicas dele na versão rock. Estamos focados em tirar as músicas e preparar o show primeiro, para então podermos entrar em estúdio novamente”, diz a cantora e compositora. “Cada música que aprendo, eu vou lá e pergunto a ele sobre a história das letras, fico amarradona. Conversamos sobre música desde que eu me entendo por gente”, conclui Linda Ramalho.

Disco foi produzido por Zé Ramalho, que ganhará um show de tributo para gerar futuramente o álbum ‘Linda Ramalho canta Zé Ramalho’

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de fevereiro de 2023.