Situado há poucos minutos do pé de tamarindo que testemunhou a breve e intensa vida do poeta, o Memorial Augusto dos Anjos, no município de Sapé (Zona da Mata paraibana), celebrou ontem o legado de seu patrono com o lançamento da versão em Braille do livro Eu, sua famosa compilação de poemas, produzida pela Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), por meio do setor de Imprensa Braille do Jornal A União. Uma cópia da obra foi depositada na instituição.
O evento alusivo ao aniversário de 110 anos da morte do autor de “Versos íntimos” contou com a participação de membros do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha, da capital, do Instituto dos Cegos de Campina Grande, da Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad) e da Biblioteca Juarez da Gama Batista do Espaço Cultural, em João Pessoa. Além do memorial, todas as instituições citadas também ficaram com uma cópia do livro, impresso em três volumes.
Abrindo o lançamento, Aderaldo Elias, curador do memorial, explicou que as celebrações em torno da data de ontem ficam concentradas no município de Leopoldina, em Minas Gerais, local de falecimento de Augusto, mas que Sapé, à frente das comemorações do dia de seu nascimento, em abril, não poderia deixar de enaltecer a iniciativa da EPC. “Quando estava prestes a partir, o poeta disse: ‘Essa chama jamais se apagará’. Com essa versão em Braille, muito mais pessoas poderão alimentar essa chama”, assevera.
Adenize Queiroz, representante do instituto em Campina, declarou que a cópia ficará disponível para empréstimo a pessoas vinculadas ao órgão por até dois meses. “Colocar a poesia, literalmente, nas nossas mãos significa fomentar o gosto pelos livros, por aquilo que temos de melhor. Muitas vezes, pela ausência de literatura neste formato, pessoas com deficiência deixam de consumir um bem que é nosso”, lamenta. Brenda Feitosa, aluna do instituto, também esteve presente no evento. Hoje estudante de Pedagogia, ela recorda que conheceu o poeta sapeense, com ajuda de um leitor, ainda na escola. “Vai ser a primeira vez que lerei Augusto sozinha”, afirma.
O livro, produzido com o apoio da Editora e da Gráfica A União, é a segunda empreitada do setor de Imprensa Braille: a primeira estreou no ano passado — Fogo Morto, de José Lins do Rego. O processo de transcrição, edição e impressão do material durou três meses e teve como material base a edição comemorativa dos 100 anos do Eu, publicada em 2012. Otto de Sousa, revisor braille da EPC, celebrou a importância de integrar o projeto, sendo ele mesmo uma pessoa com deficiência. “É um momento de gratidão e de alegria. Ter contato com essa obra e ampliar nossos horizontes de leitura é muito importante. A gente precisa dar acesso a essas obras tão importante”, disse.
O Diretor de Mídia Impressa da EPC, William Costa, esteve no evento representando Naná Garcez, diretora-presidente da instituição. Ele pontuou que ações como essa estão entre os princípios que constituem a Empresa Paraibana de Comunicação. “Uma das nossas missões é promover a inclusão social por meio da leitura. E entregar essas cópias do Eu é motivo de muito orgulho para nós. Ao dotar os institutos e a biblioteca com um livro dessa natureza, facilitamos o acesso a essa obra, que é uma das maiores da literatura brasileira”, destaca.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de novembro de 2024.