Premiado em festivais internacionais e cercado de expectativas quanto a uma participação no Oscar do ano que vem, O Agente Secreto, novo filme do diretor recifense Kleber Mendonça Filho, ganha uma pré-estreia hoje, na capital pernambucana. Serão duas sessões, quase simultâneas — uma às 19h, no Cineteatro do Parque; e outra às 19h40, no Cinema São Luiz (ambas as salas no bairro de Boa Vista). Dois dos atores paraibanos que participam do longa (dos oito do estado, no total), marcam presença nessa exibição especial: o pessoense Joálisson Cunha e a cajazeirense Suzy Lopes. Os dois conversaram com A União ontem, a caminho de Recife.
Ambientado nos anos 1970 e majoritariamente rodado em Pernambuco, O Agente Secreto também recorreu a um cenário paraibano: a primeira sequência, externa, teve seu set montado em Pedras de Fogo, município da Zona da Mata. Joálisson dá vida a Tóta, frentista que recepciona o protagonista Marcelo, papel de Wagner Moura, em um posto de gasolina.
“É a abertura do filme, tipo um prólogo, um agouro. Tem oito minutos e é quase um curta dentro do longa”, adianta o ator, que esteve no Festival de Cannes, em maio, na primeira exibição do filme.
Na cena descrita, Marcelo depara-se com um cadáver que repousa em frente ao posto. O figurante que “interpreta” o defunto também é paraibano — Lucas Pontes. A sequência em questão foi a primeira a ser divulgada pela produção do filme, no mesmo fim de semana em que O Agente Secreto venceu dois prêmios em Cannes: Melhor Diretor e Melhor Ator. “Fiquei surpreso por terem escolhido como divulgação. Achei ‘chique’”, brincou Joálisson.
O papel destinado a Suzy Lopes é Carmem, funcionária pública que vende coxinhas para completar a renda familiar. A paraibana define sua personagem como essencialmente “brasileira” e “trabalhadora”.
“Fui testada e deu muito certo tudo o que mentalizei e movimentei. Não sei se tem a ver com ter estado em Bacurau. Há muitas atrizes e atores de Bacurau que não estão em O Agente. Mas quero sempre estar no radar de Kleber, um diretor com que adoro trabalhar”, destaca, referindo-se ao filme de 2019, que Mendonça dirigiu com Juliano Dornelles.
A atriz não pôde comparecer à exibição e à premiação em Cannes em razão do trabalho em outro set — o de Geni e o Zepelim, realizado por Anna Muylaert e filmado no Acre. A exibição de hoje será a primeira vez que Suzy verá a edição final de O Agente Secreto.
“A expectativa está gigante. Li o roteiro inteiro e amo. Sei que muita coisa caiu [cenas que não estão presentes no corte final do longa], então, estou curiosa para ver. E todo mundo que já viu aumentou minha expectativa, pois todos falam muito positivamente desse projeto”, aponta.
Além deles, mais seis artistas paraibanos batem ponto no elenco de O Agente Secreto, em participações pequenas, mas com falas: Beto Quirino, Buda Lira, Cely Farias, Fafá Dantas, Flávio Melo e Marcio de Paula. Quando da passagem do filme por Cannes, A União conversou com Buda e Cely — ele interpreta Anísio, funcionário do Instituto de Polícia; ela empresta corpo e voz para Dona Cleide, espécie de narradora do longa.
“Foi incrível, porque ela tem uma complexidade, um lado mais sombrio que eu tive que buscar”, afirmou a atriz, na época.
Cely está, no momento, de volta à França com os colegas do grupo Ser Tão Teatro: nesta semana, os atores integram oficinas e apresentam o espetáculo O Dia em que o Mundo Acabou Começou Assim. Comentando, agora, suas idas à Paris representando o cinema e o teatro da região, a artista assinala a importância dessa janela para si mesma e para o Nordeste.
“A gente emerge aí numa cultura diferente, nova, e isso acho que enriquece e amplia a nossa visão, a nossa percepção de mundo”, resume.
O Agente Secreto estreia nacionalmente em 6 de novembro. Atualmente, ele concorre a vaga de representante brasileiro no Oscar 2026 com mais cinco filmes — e tem grandes chances de ser o escolhido.
Suzy Lopes já tem mais um longa a caminho: “Geni e o Zepelim”
- Suzy Lopes com a diretora Anna Muylaert, nos bastidores de “Geni e o Zepelim” | Foto: Arquivo pessoal
No filme de Anna Muylaert baseado na obra de Chico Buarque, Suzy Lopes dá vida a outra Carmem — que é tratada, pelos demais personagens, por meio de seu diminutivo, Carminha. O projeto passou por um sério percalço antes do início das filmagens: a produção foi questionada quanto à falta de representatividade da protagonista — nas versões originais para o teatro, Geni é uma travesti. A atriz escolhida para ser a heroína (Thainá Duarte, uma artista cisgênero) foi substituída por Ayla Gabriela, uma mulher trans.
Suzy ressalta que, apesar da alteração, o cronograma de filmagens, no Acre, não chegou a ser prejudicado, já que ela e os colegas ainda não tinham começado a gravar cenas. Os anseios da artista com esse projeto, ainda sem data de estreia, são os mesmos de O Agente Secreto: “Minha expectativa com Geni é imensa porque adoro o roteiro e o processo de fazer o filme foi incrível. Também conhecer o Acre, lugar que tinha muita vontade de visitar. E claro que desejo que o público goste! Acho que será muito bem recebido”.
Tendo iniciado sua carreira no teatro paraibano, Suzy Lopes tem conquistado cada vez mais espaço no audiovisual brasileiro. Além dos filmes citados, ela concluiu, recentemente, sua quarta participação em novelas: ela deu vida a Celsa, mulher que é literalmente marcada pelo cangaço em Guerreiros do Sol. Ainda no segmento da sétima arte, ela acaba de filmar o curta Janela, de Alli Willow. E outro filme deve ganhar lançamento em breve: “É Presépio, de Felipe Bibian, que estreia no Festival do Rio, em outubro”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de setembro de 2025.