Notícias

Exposição coletiva ‘Vou te Mostrar o Caminho do Inferno para que Você Possa se Desviar Dele’ será aberta hoje em João Pessoa

publicado: 17/03/2022 09h06, última modificação: 17/03/2022 09h06
Renata Pedrosa_Infernal 1.jpg

Imagem: Renata Pedrosa

por Guilherme Cabral*

Trabalhos de quatro artistas de duas gerações diferentes, os paraibanos Flaw Mendes e Conceição Myllena, a paulista Renata Pedrosa e o paraense Sidney Philocreon, integram a exposição Vou te Mostrar o Caminho do Inferno para que Você Possa se Desviar Dele, que será aberta hoje, a partir das 17h, na Galeria Archidy Picado do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, dentro da programação de artes visuais do ‘Mês da Mulher’. A mostra, cuja curadoria é de Sylvia Werneck, reúne obras em diferentes linguagens: desenho, pintura, instalação, performance e tecnologia e se baseia no tema em torno do fim dos tempos, para levar o espectador a refletir sobre os rumos que a civilização vem tomando há muito tempo, colocando em perigo a sobrevivência da própria espécie humana. O público poderá visitar a coletiva gratuitamente até o dia 29 de abril, sempre no período de segunda a sexta-feira, das 8h às 21h, e nos finais de semana e feriados, das 10h às 16h.

Na ocasião da abertura, o público poderá assistir, durante aproximadamente 15 minutos, à criação da obra Aporia & Distopia pelos artistas Flaw Mendes e Conceição Myllena. “É uma performance na qual cada um vai estar escrevendo com instrumentos, que são bicos de pena feito de bambu, tendo na extremidade um tinteiro”, explicou Flaw. “Vamos nos sentar lado a lado, diante de uma mesa com duas folhas de papel. Para que a ação comece, o meu tinteiro vai abastecer o bico de pena dela e vice-versa, repetindo o gesto sempre que necessário”.

“Aporia e distopia são conceitos filosóficos e as escritas vão ocorrer de maneira simultânea e cruzada, consistindo em anotações sobre o fim dos tempos. Os registros individuais dependem da cooperação entre mim e Conceição, em que um é responsável por nutrir e viabilizar o discurso do outro. Paradoxalmente, a movimentação dos corpos e os inevitáveis atritos acabam por obliterar a legibilidade das palavras que eles pretendem compartilhar. O resultado, caótico, configura-se numa escrita de impossibilidades”, acrescentou o artista.

Além da performance, Flaw participará da coletiva com mais trabalhos, como uma série chamado Orgânicos. “O título de uma é Campo Minado, que comecei a fazer em 2020 e terminei no início de 2022 e é uma série de galhos de árvores com pontas de lápis para dar a impressão como se os galhos estivessem nascendo das paredes, onde ela vai estar fixada, na galeria”.

Já Conceição Myllena ainda vai participar da exposição com mais um trabalho, a instalação Vidrocracia, produzida com vidros, espelho e cabelo natural. “O uso de materiais reflexivos, como vasos de vidro e espelhos, transmite e potencializa o contraste com o orgânico e o sensível, tão caros nas minhas obras. Os cabelos surgem para corporificar meus objetos, alinhando e emaranhando pensamentos – o devir e o tempo a partir da presença ancestral que intuem. Pensar uma paisagem ambígua é pensar a lógica de uma ‘vidrocracia’: uma democracia cuja base ideológica que a constitui, pode ser frágil, apesar da força que carrega em si. É vislumbrar o vidro como metáfora do estardalhaço que ronda a sociedade em suas bolhas sectárias – agora frascos e vasos, onde se cultiva o melhor e o pior de cada um”, detalhou ela.

A artista Renata Pedrosa participará com os trabalhos Infernal 1 e 2, aquarela, lápis pastel seco, pastel oleoso e nanquim sobre papel produzidas em 2019; Arquiteturas antropomórficas 01, 02 e 03 – sendo as duas primeiras criadas em 2019 com bastão e pastel oleoso sobre papel e a terceira feita em 2020; Cloacas (2019), de cerâmica esmaltada e carvão triturado; e Vazão (ou está acontecendo mais rápido do que imaginávamos), de 2021.

“Acho muito positiva a mistura de gerações nessa exposição. Estes cruzamentos mostram que gerações diferentes têm inquietações comuns. Afinal, a arte é um processo que dá a ver a realidade de maneira poética e visual; todos estamos expostos às mesmas questões contemporâneas e estas acabam por refletir em nossas produções, não importando a geração", comentou Renata Pedrosa. “Acredito que a existência de uma data para comemorar o Dia da Mulher demonstra que estamos tão excluídas dos processos sociais como um todo, que foi preciso criar um dia comemorativo para colocar luz nesta desigualdade. Na arte não é diferente. As estatísticas demonstram que o acervo dos principais museus do Brasil é formado majoritariamente por artistas homens. Muito ainda deve ser feito para mudar esta realidade”, frisou ela.

“Minha participação na mostra vai se dar através de uma proposta instalacional inédita como um desenho único composto de diversas partes. A instalação, denominada Tiro certo, lucro duvidoso, foi idealizada em 2020, mas aguardou sua realização, que só ocorrerá agora, com a abertura da mostra ao público dois anos depois”, disse Sidney Philocreon.

O artista explicou como é a sua instalação que o público verá na coletiva. “Trinta bases de dimensão pequena se apresentam como bases de suporte para cacos de pedra portuguesa e, em uma das faces, um QR code remete o visitante a descobrir um canto de pássaro brasileiro. As bases espalhadas na parede são dividias por um desenho de punhos amarrados e, abaixo, um conjunto de gatos desenhados, em repouso ou poses tradicionais de felinos, dá a impressão de aguardar algum evento proveniente do conjunto de peças e da mão humana, como a própria fisiologia felina propõe”.

“O conjunto de metáforas propõe dúvidas, ao invés de certezas, assim como outras obras da mostra, e este grau de mistério que envolve a cena-desenho revela que são internos os conflitos mais prejudiciais da e para a humanidade e as respostas naturais são fluxos consequências decorrentes destes desequilíbrios de valoração humana”, concluiu Sidney.

 *Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de março de 2022