Resgatar e dar visibilidade à arte feminina. Esses são os principais objetivos da exposição Certos Pontos Incomuns: artistas mulheres da Paraíba, que o Centro Cultural São Francisco (CCSF), localizado na cidade de João Pessoa, mantém aberta até 27 de abril, com o intuito de celebrar o Mês da Mulher. A coletiva reúne, no total, 25 obras de 22 artistas paraibanas, ou que se radicaram no estado, e pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 9h às 16h, e aos domingos, das 9h às 15h. A entrada custa R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia). Crianças de até 7 anos têm acesso gratuito. As visitas são todas guiadas por monitores.
“Com essa exposição, queremos destacar nomes de figuras femininas que tiveram grande relevância, que estiveram à frente de marcos históricos e contribuíram para o fortalecimento do campo das artes visuais, por meio da criação de associações artísticas, ou liderando vanguardas estéticas, bem como mobilizando coletivos independentes que derivaram arcos na arte da Paraíba, mas que foram apagadas, sem que obtivessem o mesmo reconhecimento que os artistas homens alçaram por feitos bem menores”, ressaltou Ariana Atanazio, que integra a equipe curatorial da mostra com Maria Menezes e Walter Aarcela.
Participam da exposição no CCSF, localizado na Ladeira São Francisco, no Centro Histórico, as artistas Albenise Vasconcelos, Alice Vinagre, Ana do Vale, Aurora Caballero, Brenda Dias Tenório, Conceição Myllena, Cris Peres, Denise Costa, Eliz Patrício, Gina Dantas, Heloísa Maia, Isa Galindo, Layla Gabrielle, Li Vasc, Margareth Aurélio, Maria Helena Mousinho, Marlene Almeida, Marta Penner, Mayara Ismael, Natália Araújo, Vanessa Dias e Yasmin Formiga. Na coletiva, que ocupa dois salões no térreo da instituição, o visitante pode observar obras de várias tipologias, a exemplo de pinturas, esculturas, objetos instalativos e fotografias.
Natural da cidade de Taubaté (SP), mas filha de pais paraibanos, Ariana Atanazio informou que o trabalho para a montagem da coletiva começou no mês passado. “Não foi tão difícil selecionar as obras, porque eu já conhecia as artistas e suas trajetórias, como a de Marlene Almeida, que continua produzindo, de quem escolhi a pintura em pigmentos naturais Agricultores na cultura do açúcar, de 1981, que é do acervo da Arquidiocese da Paraíba”, disse a curadora.
Na exposição, há obras de artistas que estão no processo de construção da carreira e outras já veteranas. “São mulheres de diferentes gerações, com obras de linguagens, temáticas e pesquisas e que se encontram unicamente através das diversidades e das singularidades que as constituem. O critério para a seleção foi o de que a obra poética do trabalho casasse com o eixo da exposição, cujos temas são em torno do sacro, da natureza e das dificuldades e mitologias em torno do ser mulher”, comentou Ariana Atanazio.
A escolha do nome da coletiva é tirada do título do livro Certos Pontos Incomuns, publicado através do coletivo Oficina Literária, em 1982, de autoria das poetisas Otaciana Cássia, Diracy Vieira e Socorro Leaderbal, e que é uma compilação expoente do momento da poesia marginal na Paraíba, nas palavras de Atanazio. “O título deste livro sintetiza o objetivo da mostra em exaltar a riqueza existente na diversidade poética entre as artistas que expomos e, com isso, a feliz impossibilidade de traçar uma leitura uniformizante acerca destas poéticas tão individuais. A maior convergência possível entre elas se dá na diferença e, sobretudo, no protagonismo que exercem, enquanto artistas, em diferentes momentos da história”, explicou ela.
Paralelo com a literatura
A coletiva também traça um paralelo com a literatura. “Além do livro Certos Pontos Incomuns, que tem poemas destacados e pode ser manuseado pelo visitante, há textos de outras poetisas, como Violeta Formiga e Anaide Beiriz. A poesia é uma forma de arte e costumo dizer que uma obra não é só a plasticidade, pois pelo menos eu percebo afinidade da obra de arte com a poesia. Já há algum tempo que ando lendo o trabalho da poetisa Violeta Formiga, pelo qual acabei me encantando e gosto muito, pois foi uma mulher à frente do seu tempo e que tenha sido assassinada quando ainda era jovem”, observou curadora.
Ao analisar o papel da mulher na área das artes visuais na Paraíba, Ariana Atanazio disse que houve conquista de espaço, mas existem barreiras que precisam ser derrubadas. “Ha artistas extremamente talentosas, que se destacam pela qualidade do trabalho, como Yasmin Formiga, que participa da coletiva com uma obra e uma instalação. Mas ainda há muito preconceito contra artistas visuais que são indígenas, pretas ou pessoa com deficiência. Circulo por galerias e não costumo ver, por exemplo, exposição de artista mulher com deficiência. A artista Ana do Vale é uma pessoa com deficiência e, por isso, para que tenha espaço para visibilidade, também foi incluída na exposição coletiva no Centro Cultural São Francisco”.
Um dos integrantes da equipe curatorial da coletiva e coordenador de exposições do Centro Cultural São Francisco, Walter Arcela observou que a mostra reúne artistas visuais contemporâneas e outras de diferentes décadas. “Essa é uma mistura bacana, pois apresenta diversidade e exalta o protagonismo dessas mulheres, através dos seus trabalhos”, complementou ele.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de março de 2023.