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artes visuais

Exposição inspira-se em livro de Juca Pontes

publicado: 07/11/2025 09h31, última modificação: 07/11/2025 09h31
Mostra, na Estação Cabo Branco, tem como referência a obra Itacoatiaras
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Trio de artistas usa poemas de Juca Pontes para abordar registros pré-históricos | Foto: Vanessa Maciel/Divulgação

por Esmejoano Lincol*

O sítio arqueológico situado no município paraibano de Ingá guarda as chamadas itacoatiaras, inscrições rupestres que suscitam a imaginação de visitantes locais e de fora. Um deles é o autor campinense Juca Pontes, que escreveu poemas inspirados por esses registros pré-históricos. Os artistas Gonzaga Costa, Jacira Garcia e Yuri Gonzaga, também fascinados e influenciados por esse material, unem seus talentos na exposição coletiva Pedra Poema — Entre Pedras, Poesia e Sons, que será inaugurada hoje, na Estação Cabo Branco, no bairro de mesmo nome, em João Pessoa. O projeto ficará disponível para visitação gratuita até janeiro de 2026 — de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e nos fins de semana, das 10h às 18h.

Os versos que inspiraram o trio estão no livro Itacoatiara, que Juca lançou em 2022, meses antes de seu falecimento. As obras que virão à público agora materializam-se em desenhos, cerâmicas e músicas, criadas, respectivamente, por Gonzaga, Jacira e Yuri. O primeiro, ilustrador, traz para Pedra Poema seis quadros (em tinta acrílica sobre papel e tela), dois tecidos (acrílica sobre algodão) e a pintura que recobre uma das obras de Jacira. Ele sustenta que baseou-se na intersecção entre o rio e o material calcário de Ingá — somados, eles alicerçam o sítio: “Esse trabalho em conjunto foi uma oportunidade para trocar ideias, experimentar e aprender. Especialmente, pensar a peça central, amálgama de três linguagens artísticas”.  

Jacira, ceramista, contribuiu com 42 itens, que replicam, dentro das possibilidades de técnica e espacialidade, aquelas inscrições rupestres — esse catálogo visitou, anteriormente, outras cidades da Paraíba. A exposição tem um significado ainda mais especial para ela, que nasceu em Ingá: “Tenho todos os meus antecedentes nascidos naquela região, eu convivi com aquilo ali. Então, para mim, é muito importante, dentro do meu conhecimento, dentro das minhas possibilidades artísticas, divulgar esse monumento com o intuito maior da preservação”.

Yuri, cantor e compositor, revela que a música quase abstrata de Pedra Poema ganha vazão graças a uma iniciativa curiosa. A principal peça em cerâmica, côncava, com furos em sua superfície e que dá nome à mostra, reproduzirá, por meio de um sistema de som, a trilha sonora desenvolvida pelo artista: “Minha contribuição se deu na busca por dar contornos nos versos de Juca Pontes e fazê-los ter um sentido ampliado dentro do nosso trabalho coletivo, com a criação de canções e sonoridades que dialogam com as obras dos outros dois colegas”.

Gonzaga declara que as itacoatiaras são verdadeiros presentes: “É quase mágico poder olhar para aqueles desenhos e se dar conta de que pessoas, da mesma terra que eu, milhares de anos atrás, estiveram por ali fazendo arte”. Jacira atesta: estão depositadas nessas cerâmicas alusivas muito mais do que barro. “A própria ancestralidade do lugar e a minha ancestralidade”. Yuri arremata: “Nossa exposição é uma via de aproximação, de entendimento, de observação da Pedra do Ingá, para assim perceber a sua importância, a sua riqueza histórica e artística”.  

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 7 de novembro de 2025.