Lucas Silva - Especial para A União
Pinturas, desenhos, fotografias e grafites. Esses são os quatro universos que o público poderá explorar em meio a exposição Coletiva 7 que será aberta hoje na Usina Cultural Energisa. A mostra, que tem curadoria de Dyógenes Chaves e dá início a programação de arte visual da Usina Cultural Energisa, dá o ponta pé inicial com os artistas Giga Brow, Hipólito Rodrigues, Luciana Urtiga e Pillar Roca. A abertura oficial do espaço acontece, às 20h, mas pode ser contemplada até o dia 3 de abril de terça a domingo, das 14h às 20h. A entrada é franca.
Iniciando o tour pela Usina, o público irá se deparar com 36 obras expostas no local. Uma das primeiras exposições que pode ser vista é “O Romance do Pavão Misterioso” de Giga Brow. Atendendo sua inspiração de passagens do clássico da literatura de cordel, Romance do Pavão Misterioso, escrito em 1920, por José Camelo de Melo Rezende, Giga cria sua série homônima.
Segundo o artista, a sua maior influência para escolha do tema veio por meio da cultura popular, dos livros, das vivências e do entorno. “Viver me dá inspiração”, completa. As pinturas que compõem Romance do Pavão Misterioso são adaptações lúdicas e atemporais de trechos do cordel, sob a ótica pessoal do artista.
Nascido no bairro da Torre, em João Pessoa, aos sete anos, Giga Brow passava finais de semana com a família em um sítio, em Itapororoca. Lá teve o seu primeiro contato com a modelagem em argila e o desenho, reproduzindo os bichos soltos do terreiro.
“A minha primeira referência de arte veio do meu irmão, que fazia esboços para eu colorir. Um dia, ele me ensinou a técnica do desenho. Primeiro você fazia o olho, depois um nariz e por aí em diante”, contou Giba Brow.
Continuando o tour, os visitantes irão encontrar as obras do artista Hipólito Rodrigues, que apresenta sua série de pinturas intitulada de “Vida!”. As obras, que foram produzidas ao longo de décadas de ativismo político e cultural na Paraíba, transitam entre o figurativo e o abstrato. Suas pinturas abordam temas vitais e relevantes como arte e política, onde o artista lança mão de suas experiências e vivências para compor as telas.
Aos 73 anos de idade e 50 de carreira, seu interesse pela arte vem desde a época de escola, quando aprendeu a desenhar com giz e carvão. O artista forjou a sua arte na política e nas causas ambientalistas, sendo um dos fundadores do sindicato das Ligas Camponesas, em sua cidade natal, e atuando como incentivador da cultura local, em especial das tradições folclóricas da Zona da Mata canavieira.
Em meio à conturbada situação política e cultural do País nas décadas de 60 e 70, quando chegou a ser preso durante o regime militar, formou-se em Direito e, paralelamente, manteve o desenho “como forma de estabelecer uma conexão com a liberdade de expressão”, afirma.
Já em outro ambiente, será possível ver as fotografias de Luciana Urtiga. Nessa mostra, a artista traz trabalhos produzidos entre 2012 e 2015, que buscam a autoconsciência e o autoconhecimento. Além disso, algumas peças são resultados da necessidade instintiva de fazer uma obra sem ter câmera na hora. Arte chamada mobgrafia.
Durante muito tempo, a temática utilizada em seus trabalhos foi puramente instintiva e autorretrativa. Mas, nos últimos anos, a artista vem trabalhando a busca pelo autoconhecimento. “Com esses trabalhos, procuro entender quem posso vir a ser, metafisicamente”, completou.
A artista visual Luciana Urtiga, apesar de jovem já apresentou sua obra em inúmeras mostras coletivas e realizou seis individuais. Apaixonada por fotografia, Luciana Urtiga é natural da cidade de Campina Grande, Paraíba, aonde viveu até o final de 2012 e se formou em Arte e Mídia, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em 2010.
E encerrando o percurso temos os desenhos de Pilar Roca. A série de desenhos, segundo Pilar, é o resumo de uma técnica de sobrevivência, fruto da insatisfação e do tédio com a letra escrita e das aulas na universidade, onde começou a desenhar nas margens das apostilas durante as aulas.
“A insatisfação e o tédio inicial que deu início a esta série teve a ver com a rejeição de um sistema de valores e de uma organização da vida muito seca e produtivista que me atingiu em cheio quando tinha dezenove anos”, explicou a artista.
Pilar começou a sua produção visual desenhando à caneta, depois passou para o óleo e pastel até chegar aos desenhos com traços de pintura, que lembram xilogravura, sempre inspirada pelos estados anímicos internos provocados por eventos inesperados, como uma palavra fora do lugar, um caminhar estranho, um campo de luz vibrante ou um mostrengo inacabado.