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Expressão do corpo pelo regionalismo

publicado: 13/06/2023 15h05, última modificação: 13/06/2023 15h05
Amanhã, em João Pessoa, acontecerá gratuitamente o 31º Festival de Danças Populares pela Universidade Federal da Paraíba
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Neste ano, quem abre a programação é o tradicional Grupo Imburana, fruto de um projeto de extensão - Foto: Thercles Silva/Divulgação
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Nesta edição, o festival reúne 15 escolas públicas localizadas na capital paraibana, totalizando apresentações com quase 400 crianças e jovens - Foto: Marcello Bulhões/Divulgação
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por Joel Cavalcanti*

No Sertão da Paraíba, os agricultores das comunidades rurais festejam a esperada colheita dançando o Camaleão. O lagarto que se camufla com as cores das folhagens do milho e do feijão inspira os movimentos da dança dos sertanejos ao girar sua cauda em uma estratégia de defesa. O Galope é outra dança típica do povo paraibano. Imitando os troteios e volteios de um cavalo, os dançarinos movimentam-se através de pequenos saltos laterais ao som de marchas juninas. Manter a tradição dessa rica manifestação da expressão corporal é um dos objetivos do 31º Festival de Danças Populares, que acontece gratuitamente amanhã, no Centro de Vivências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), das 13h30 às 16h.

Nesta edição, o evento reúne 15 escolas públicas de João Pessoa e quase 400 crianças e jovens se apresentando. Eles passaram meses aprendendo a importância cultural dessas danças e de outros 20 ritmos de todas as regiões brasileiras, como coco de roda, maracatu, ciranda, maculelê, carimbó, bumba meu boi, tira o chapéu, dança do café, pezinho, balaio, entre outros. São principalmente crianças entre seis e sete anos (mas também há turmas de adolescentes e idosos, por exemplo), que durante o semestre tiveram aulas com 16 estudantes da disciplina Manifestações Culturais Aplicadas à Educação Física, oferecida pelo professor Marcello Bulhões.

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Nesta edição, o festival reúne 15 escolas públicas localizadas na capital paraibana, totalizando apresentações com quase 400 crianças e jovens - Foto: Marcello Bulhões/Divulgação

“Nós abrimos um verdadeiro terreiro dentro do Centro de Vivências. Esse é um momento em que a Universidade existe para as pessoas. E como tudo que diz respeito à cultura imaterial, existe um legado de desenvolvimento da cidadania e valorização da própria cultura, fora a repercussão que isso tem dentro das escolas”, destaca Bulhões, que há 16 anos coordena o festival.

Neste ano, quem abre a programação é o tradicional Grupo Imburana, fruto do projeto de extensão que surgiu a partir da disciplina Danças Populares, em 2006. Haverá espaço ainda para uma homenagem comandada pelo Grupo Acorda, de Alagoinha, ao contrabaixista e contramestre de capoeira Alberto Antônio dos Santos Silva, mais conhecido como Badauê – e também como Escurinho –, morto no último mês de março.

A trajetória do Imburana serve como uma inspiração às crianças que estarão se apresentando nesta quarta-feira. O grupo de dança surgiu há 17 anos dentro dessa da disciplina Danças Populares e, com o engajamento dos alunos, veio o desejo de dar continuidade ao trabalho, que se transformou em um projeto extensionista especializado em promover ações da cultura popular afro-brasileira no desenvolvimento da cidadania. Além de se mover pelo prazer proporcionado pela dança, a iniciativa se mantém através da crença na capacidade transformadora que a arte desempenha. Os integrantes do Imburana não precisam ser da comunidade universitária. Eles ministram oficinas e dão aulas de dança em escolas públicas, ensinando as coreografias e sobre a cultura popular, com ensaios abertos ao público e gratuitos, nas dependências do ginásio de ginástica da UFPB.

Quem também participa das apresentações são os alunos do curso de Educação Física responsáveis repassar seus conhecimentos para as crianças ao ritmo do Maculelê. Ao longo de todas as edições, já passaram pelo festival mais de nove mil crianças de 120 escolas paraibanas. Uma herança cultural que pode ser medida de várias formas. “Muitas escolas passaram a desenvolver trabalhos de dança populares a partir da participação das crianças no festival. Outras crianças que participaram do festival se tornaram dançarinos de grupos populares. Também tem os alunos que passaram a inserir esses conteúdos em suas aulas de Educação Física, nas escolas”, cita o professor Marcello Bulhões.

Se causa algum estranhamento que o trabalho de valorização do ensino das danças da cultura popular seja realizado por profissionais de educação física, o professor da disciplina de Manifestações Culturais Aplicadas à Educação Física explica: “O movimento humano enquanto objeto de estudo faz parte do escopo de conhecimento da Educação Física. A dança popular é como qualquer elemento dessa área. A dança é uma das cinco categorias de conhecimento da nossa área. Sem ordem de importância, nós temos o esporte, as lutas, as atividades físicas, os jogos e as danças”.

A edição do Festival de Danças Populares tem o apoio da Associação dos Docentes da UFPB – Adufpb.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de junho de 2023.