Depois de cinco anos de pesquisa e quase 200 entrevistas, a história de uma das mais relevantes personalidades artísticas do Brasil de nosso tempo é revelada em Ney Matogrosso - A Biografia, a ser lançada oficialmente em João Pessoa hoje, às 19h, na área VIP do Cinépolis do Manaíra Shopping, como parte da programação da 16ª edição do Fest Aruanda. O evento contará com a presença do cantor Ney Matogrosso e do jornalista biógrafo Julio Maria, um dos críticos de música mais importantes do país.
Tendo chegado ao público pouco antes de Ney completar 80 anos e do lançamento de seu EP Nu com a minha música, a biografia de alguém vivo traz vantagens e diversos desafios. Um deles é o risco de a obra já sair desatualizada tão logo é lançada, apesar de Julio sentir a necessidade de incluir apenas um pequeno trecho à obra de 512 páginas: o nude do biografado. “Teve um episódio recente que o Ney apareceu em uma foto que virou uma gritaria. Até perguntei ao Ney se era a foto dele mesmo, e ele disse ‘É sim, mas eu me enganei’. Não é algo definitivo para mudar o curso de nenhum capítulo, mas certamente colocaria esse episódio para falar do excesso de pudor que as pessoas continuam tendo com essas questões. Nada mais que três linhas”, resume Julio Maria.
Para construir a biografia, o autor visitou a vila militar onde Ney viveu parte de sua adolescência com seu pai, em Campo Grande, e o quartel da Aeronáutica que o abrigou como soldado, no Rio de Janeiro. Julio Maria encontrou ainda um irmão mais velho do qual a família não tinha notícias, além de levantar documentos de agentes que observaram os passos de Ney durante a ditadura militar. Apesar disso, o que mais surpreendeu ao cantor foi descobrir quantas pessoas detratavam o artista. “Ele me falou: ‘Olha, eu fiquei assustado com a quantidade de gente que falava mal, que me perseguia, que escrevia sobre mim’”, relata o jornalista, citando notas escritas por Chacrinha e Carlos Imperial que ‘arrasavam’ com o Ney Matogrosso. “Ele ficou chocado com tanto que ele foi alvejado”.
O livro cria um retrato de Ney passando por histórias como o relacionamento com Cazuza, a morte de vários amigos e namorados pelo vírus da Aids, as suas atuações em teatro na juventude e no cinema na maturidade até sua chegada à velhice. Sobre todos esses fatos, interessava ao seu biógrafo a franqueza com que Ney tratava todos esses assuntos. “É muito curioso você mostrar para o seu biografado uma figura que é ele mesmo. Eu percebi que o Ney tinha uma narrativa muito linear sobre ele, mas não trazia a emoção que as coisas de fato podem ter. Então, fiz todas essas entrevistas para buscar um impacto no Ney nos cenários em que ele viveu”, destaca Julio. “Ney Matogrosso é um homem sem fronteiras. Como classificar a voz do Ney? Como classificar a sexualidade? Como classificar o repertório? Como classificar o ser político? Impossível”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de dezembro de 2021