Por mais de uma década, o realizador paraibano Ramon Batista acompanhou as mudanças que cercaram os engenhos de rapadura situados em Nazarezinho, município do Sertão paraibano. O projeto audiovisual foi pensado para ser um curta – as primeiras imagens foram captadas em 2011 –, mas acabou tornando-se um longa-metragem, no ano passado. O resultado final é o documentário Moagem, que estréia amanhã, às 14h30, na programação do Festival de Cinema do Nordeste Brasileiro (Fecine), em Areia (Brejo do estado). O evento, aberto ao público, tem exibição de filmes e promoção de oficinas. As atividades são realizadas na Sala Ely Marques, localizada no auditório do Colégio Santa Rita, no centro do município.
Ramon é natural de Nazarezinho e cresceu imerso no cotidiano dos engenhos – dentre eles o João Raimundo, parte da comunidade de Sítio Caiçara, onde o realizador morou. Ele visitava com frequência outros empreendimentos similares, como o Cedro.
“Ia não como trabalhador, mas como admirador, porque eu ficava encantado com o cheiro da rapadura, com aquele movimento dos engenhos. Todo aquele universo me fascinava. E em 2011, quando entrei no cinema, eu já tinha na minha cabeça a ideia de fazer um filme”, recorda.
Graças ao seu primeiro curta, Fogo-Pagou, ele fez os primeiros registros desses ambientes. Por meio de outros projetos audiovisuais, desenvolvidos na última década (a exemplo de Aroeira, 2015), Ramon pôde acompanhar a evolução deste ecossistema, que passou a operar com eletricidade. A testemunha ocular deste processo é Zizinha, guardião do Cedro.
“Acompanhamos ele durante 13 anos. Nos anos 1980, o engenho estava desativado. Ele veio de São Paulo e investiu tudo que tinha para o engenho voltar à ativa”, detalha.
Sustentando que os engenhos e a figura de Zizinha representam a resistência dessa cultura na Paraíba, Ramon Batista celebra o fato de poder estrear Moagem no Fecine, e não apenas pela oportunidade de circular junto com outros filmes do Nordeste.
“Areia é a terra da cana de açúcar, da cachaça, ou seja, é uma terra que produz também, que tem na cana uma parte da sua economia. E poder levar essa cultura da minha região para a região de Areia, para o festival, isso é muito importante para mim”, destaca
O Fecine teve início ontem, com uma homenagem ao realizador cearense Rosemberg Cariry e a exibição de cópia restaurada de seu filme Corisco & Dadá. Hoje, às 8h30, o evento inicia a sua grade com a oficina “O processo da realização audiovisual”, mediada por Marcus Vilar; o diretor repete a dose amanhã, no mesmo horário.
A partir das 14h, a mostra repetitiva abre com o curta-metragem Boi Brinquedo (do Ceará) e do longa-metragem A Cigana (Piauí). Às 19h, novos títulos chegam a público: Lá em Cima Não Há Céu (curta paraibano), Guia (curta alagoano) Um Dia Antes de Todos os Outros (longa pernambucano).
Amanhã, às 8h30, Andrea Afonso ofertará a palestra “A importância da maquiagem no cinema”. Em seguida, às 11h, o Fecine apresentará um debate com os curtas e longas-metragens do dia anterior.
No segmento competitivo, além de Moagem, ganharão espaço os seguintes filmes: a partir das 14h, os curtas Manto Jaguriçá (Pernambuco); Navio (Rio Grande do Norte), Extinção (Paraíba); e às 20h, o longa Filhas da Noite (Pernambuco). O Festival segue em Areia até sábado (25): no encerramento, às 18h30, haverá a cerimônia de premiação e a projeção de Pobres Diabos, também dirigido por Rosemberg Cariry.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de Outubro de 2025.
