por Joel Cavalcanti*
Já estão abertas as inscrições para o 6º Festival de Música da Paraíba, que neste ano vai homenagear o cantor, compositor, escritor e folclorista Zé do Norte. Para concorrer aos R$ 30 mil em prêmios desta edição, os artistas paraibanos, ou residentes há dois anos no estado, precisam preencher um formulário online (radiotabajara.pb.gov.br/festivaldemusica) e submeter uma composição autoral e inédita até o dia 6 de março. A divulgação dos 30 selecionados para as eliminatórias que ocorrerão na Praça Dom Adauto, em Cajazeiras, será realizada em 7 de abril. A grande final está marcada para acontecer no dia 3 de junho, no Teatro de Arena, em João Pessoa.
“Essa é uma abertura para revelar talentos na criação musical e para promoção de intercâmbio cultural entre os artistas do interior e da capital. O festival fortalece a cultura musical do nosso estado”, afirma Rui Leitão, diretor de rádio e TV da Empresa Paraibana de Comunicação. Para ele, essa é uma oportunidade de se promover os elementos de identidade do povo paraibano, ao mesmo tempo em que o evento cumpre um papel educativo e de fomento à cultura quando permite à população conhecer a diversidade e a criatividade da música do estado.
Uma das novidades desta edição é a maior importância da participação do público. O prêmio dado pelo júri popular foi aumentado em relação aos anos anteriores e agora garante R$ 5 mil ao escolhido através de votação pela internet. Os demais valores permanecem iguais, com R$ 10 mil ao primeiro lugar, R$ 7 mil ao segundo e R$ 5 mil ao terceiro colocado. Quem apresentar a melhor interpretação no palco da competição vai receber R$ 3 mil. Outra diferença divulgada no edital é a oferta de uma ajuda de custo no valor de R$ 500 para os concorrentes que precisarem se deslocar para outra cidade durante as eliminatórias ou para a final do festival.
Poderão ser inscritos no festival os mais variados gêneros da música cantada, desde que seja comprovadamente autoral e inédita. Para cada eliminatória, serão selecionadas 15 canções e classificadas sete para a final. As canções concorrentes serão analisadas por uma comissão formada por três curadores com notório saber. Eles devem adotar como critério básico de seleção, com alguns princípios universais de construção de uma canção, como harmonia, melodia, ritmo, criatividade, originalidade e poesia. Todos estes parâmetros sob percepção pessoal e independente do profissional avaliador.
As edições anteriores foram marcadas por composições que refletiam a conjuntura política do país, até então sob um regime de extrema direita superado de forma democrática nas últimas eleições gerais. Mas não é esperado que isso altere o caráter de defesa dos valores populares e da natureza humana que continuam pungentes na sociedade. “Normalmente, as letras das canções tem relação com o contexto histórico que estamos vivendo. Isso foi o que aconteceu nos festivais anteriores e acredito que o deste ano vai comportar essa participação de composições que o contexto histórico que a gente está vivenciando”, acredita Rui Leitão.
O edital com todas as informações e prazos do festival foi publicado no início do mês pelo Governo do Estado através do Diário Oficial. Nele estão definidos os representantes da comissão responsável pela organização do evento, composta por nove membros representantes da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc) e da Secretaria de Estado da Comunicação Institucional (Secom). “A partir de agora, com as inscrições abertas, esperamos uma participação de todo o estado da Paraíba.
Estamos divulgando este edital para associações culturais para que possamos ter neste ano o maior número de participantes de uma edição do Festival”, projeta Rui Leitão.
Autor de ‘Mulher rendeira’
Na edição de 2023, a personalidade musical homenageada será o cajazeirense Alfredo Ricardo do Nascimento, conhecido como Zé do Norte, que, no ano passado, completou 30 anos desde sua morte. Ele deixou mais de 100 músicas editadas, entre cocos e emboladas, através dos quais exaltava o estilo de vida sertanejo e a oralidade popular. Entre as composições mais famosas estão ‘Mulher rendeira’ e ‘Sodade, meu bem, sodade’, regravada por vários intérpretes, como Nana Caymmi, Socorro Lira, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Raul Seixas gravou dele Lua Bonita e Geraldo Azevedo, Meu Pião.
O legado de Zé do Norte também pode ser observado na história do rádio com os programas Desligue, Faz Favor e Hora Sertaneja, revelando nomes como Luiz Gonzaga. Na literatura, publicou Brasil Sertanejo, em 1948. No cinema, Zé do Norte atuou como consultor de linguajar para O Cangaceiro, de Lima Barreto (1953), quando a música ‘Mulher Rendeira’ ficou mundialmente conhecida após o longa ganhar o prêmio de Melhor Trilha Sonora no Festival de Cannes.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 7 de fevereiro de 2023.