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Festival de Música da PB: artistas vencedores da 5ª edição falam sobre as suas canções, a homenageada Marinês e a visibilidade do festival

publicado: 07/06/2022 08h44, última modificação: 07/06/2022 08h44
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Foto: Edson Matos

por Guilherme Cabral*

Depois dos momentos de tensão resultantes da competição, agora tem sido a ocasião para relaxar e saborear as conquistas obtidas na etapa final do 5º Festival de Música da Paraíba, realizado no último sábado (dia 4), no Teatro Paulo Pontes do Espaço Cultural, em João Pessoa. “Eu me sinto muito feliz, surpresa e estou sorrindo até agora, pois parece que dormi com um cabide na boca”, brincou a cantora, atriz e compositora Priscilla Cler, a grande vencedora do evento. “Foi demais ter ganhado um festival cuja edição homenageou Marinês, uma mulher incrível e afrontosa, que abriu muitas portas para nós, hoje, e cujo trabalho e atitude perante as injustiças me identifico e admiro. Foi mais justo uma mulher ganhar o festival e acredito que Marinês deve ter gostado e acredito que onde ela estiver está feliz”, confessou ela, que ficou em primeiro lugar com a canção ‘Bocaberta’ e também levou o prêmio de Melhor Intérprete, recebendo os cheques de R$ 10 mil e R$ 3 mil, além de uma vaga no Festival Sensacional 2023, que ocorrerá em Belo Horizonte (MG).

“Eu já tinha participado em 2020, interpretando a música ‘Moça’, de Larissa Mendes, e no ano passado, com a canção de minha autoria ‘Mar Doce’, que não foi classificada. Por já ter participado de festivais de teatro, desta vez fiquei com o pezinho no chão, aguardando o resultado, pois foi o único festival de música de que participei até agora”, analisou Cler. “Considero ‘Bocaberta’, que também é de minha autoria, MPB contemporânea e fala sobre a violência contra a mulher, o silenciamento e a quebra desse silenciamento. É como um grito. Foi importante ganhar esse evento do qual participam muitos músicos paraibanos, grandes intérpretes e serve para difundir e dar visibilidade para a novíssima música paraibana”, disse a artista.

Priscilla Cler também falou sobre a premiação como Melhor Intérprete. “Como atriz, isso foi importante para mim. Eu interpreto a canção como cantora e como atriz, porque é o que eu sou. Eu interpretei a música com muita verdade e do fundo da alma, porque aborda situações da minha vida e que quase toda mulher já viveu”, explicou a grande vencedora, que ainda comentou a respeito da vaga obtida para o Festival Sensacional 2023, em Minas Gerais. “Isso me deixou muito feliz. Sou mineira, de Belo Horizonte, e estou vivendo na Paraíba há sete anos, porque rolou um amor gigante. Com isso, vou poder me apresentar, embora ainda não saiba como vai ser, para familiares e amigos, o que é muito legal”, afirmou Cler, que mora em João Pessoa e também é professora da Rede Estadual de Ensino.

O segundo lugar do festival ficou com ‘Revoada Agreste’, de autoria de Anne Karolynne e Willames “Will” Diniz, o que lhes rendeu prêmio de R$ 7 mil. “Desde o início, eu queria representar uma voz do povo sertanejo, essa nossa diáspora e tragédia que tem sido o êxodo de nordestinos aos grandes centros do Brasil ao longo de décadas e que ainda é considerado como cidadão de segunda classe. Por isso, o Festival de Música da Paraíba tem sido, ao longo de suas edições, uma plataforma muito boa para dar visibilidade a canções com letras que também abordam causas sociais. Atualmente, esse festival é, como um todo, o aparelho cultural mais plural e popular, por reunir música, poesia, escritores e dança, bem como termina sendo, posteriormente, uma grande manjedoura, um celeiro de diversos outros projetos artísticos”, disse Will, que também participou das edições do evento em 2019 e 2021 e é um dos integrantes do Coletivo Compor, que fomenta o trabalho musical autoral na cidade de Campina Grande. “Ainda estou feliz com a vitória. Quando saiu o resultado, a minha parceira musical, Anne Karolynne, saiu de si, olhou para mim e disse assim: ‘Viva o Nordeste e viva a Paraíba’. Foi espetacular, sensacional e maravilhoso”, comentou ele.

Para Anne Karolynne, foi uma grande surpresa. “Não estávamos com perspectivas de conquistar os prêmios, pois já sabíamos do alto nível de nossos colegas artistas que estavam participando do festival. Apesar de saber da qualidade técnica da canção e do quanto entregamos ao defender a música no palco, nosso prêmio maior já teria sido a oportunidade de apresentar a todos o melhor de nossa arte e curtir aquele festival de forma tão intensa e empolgante”, contou ela. “Quando saiu o resultado e que a produção veio nos chamar para o palco ficamos tão desnorteados, olhando para os lados, pensando se estavam chamando outro artista. Quando nos demos conta que éramos nós, as caras de surpresa e alegria denunciavam o misto de sentimentos que estávamos vivendo. Saímos correndo e entramos assim, em alta velocidade, no palco, com pulos, abraços, gritos de vitória, lágrimas de emoção, agradecendo a todos da plateia, da banda, dos jurados, a Marinês, por nos inspirar, e ao povo nordestino, por nos dar força de lutar por nosso respeito e dignidade através de nossa canção ‘Revoada Agreste’”, disse Karolynne.

O terceiro lugar ficou com Melo, como é mais conhecido o cantor e compositor Kevin de Melo Duarte, que defendeu sua música ‘O tempo dando um nó’ e ganhou o cheque de R$ 5 mil. “Essa canção fala sobre alguém que observa o atual período da história mundial e seus conflitos, como a guerra na Ucrânia”, resumiu ele, que participou pela primeira vez do evento. “Ser vitorioso foi uma surpresa, por ter tantos competidores participando do festival”, comentou o artista, que é técnico em música pelo IFPB e está cursando graduação em Música pela UFPB. Melo tem um EP solo intitulado Morno, contendo cinco faixas – duas são instrumentais – autorais e lançado no início deste ano, nas plataformas digitais.

Votação superou o ano anterior

O prêmio de Voto Popular do Festival foi para a música ‘Fonte’, interpretada pelo próprio autor, Felipe Costta, que ganhou R$ 3 mil. “A canção tem ritmo de xaxado e fala de dois lados do mundo: um é do Nordeste, através do ambiente familiar, e o outro, o que machuca, por causa da violência”, disse ele, acrescentando que, apesar da surpresa, estava confiante da vitória. “Por causa da força da poesia e dos arranjos. Foi mágico e motivador. Uma curiosidade: sou o único, na cidade de Umbuzeiro, onde nasci, que vive da música e trazer esse prêmio foi bom, porque pode incentivar outros a entrar na área da música”, observou ele.

Na escolha popular, o gerente de jornalismo da Rádio Tabajara, Marcos Thomaz, informou que foram registrados 57.309 votos totais. “Felipe Costta ficou em primeiro lugar com 16.796 votos e superou o ano passado, quando tivemos pela primeira vez voto popular”, disse.

A edição 2022 do Festival de Música da Paraíba homenageou a Rainha do Xaxado, a cantora e compositora Marinês (1935-2007), e foi realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Comunicação Institucional (Secom-PB), Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) e Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), além de ter o apoio da Companhia Paraibana de Gás (PB Gás) e colaboração da Companhia de Processamento de Dados da Paraíba (Codata).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 7 de junho de 2022