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Filme paraibano está entre os 100 de todos os tempos

publicado: 17/01/2016 03h00, última modificação: 15/01/2016 21h42
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Diretor Vladimir Carvalho comemora indicação - Foto: Divulgação

tags: cinema paraibano , país de são saruê , vladimir carvalho

Linaldo Guedes

O cineasta Vladimir Carvalho não para. Se em 2015 teve o seu filme “O País de São Saruê” incluído entre os 100 melhores de todos os tempos, para 2016 já projeta um documentário em longa-metragem sobre o pintor modernista pernambucano Cícero Dias, que migrou em 1937 para a França, integrando-se historicamente à Escola de Paris, onde se tornou amigo íntimo de Picasso.

Nascido em Escada, Pernambuco, Cícero Dias foi o sétimo dos onze filhos do casal Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros Dias, e passou a infância num engenho de sua cidade de origem, na Zona da Mata pernambucana. Em 1920, com treze anos, foi para o Rio de Janeiro. Entre os anos de 1925 e 1927, Cícero conheceu os modernistas e estudou pintura. Em 1927, realizou sua primeira exposição individual, no Rio de Janeiro e, em 1928, abandonou a Escola de Belas Artes, passando a dedicar-se exclusivamente à pintura. Em 1937, executou o cenário do balé de Serge Lifar e Villa Lobos, expôs em coletiva de modernos em Nova Iorque e viajou a Paris, onde se fixou definitivamente.

No momento, Vladimir está na antevéspera da conclusão do filme. “Traço, na medida do possível, a sua por vezes acidentada trajetória. Tenho como certo que o veremos nas telas do ano que se avizinha”, informa.

Dois paraibanos ficaram entre os 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos: “O País de São Saruê”, de Vladimir Carvalho, e “Aruanda”, de Linduarte Noronha, numa escolha da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Ao falar sobre a escolha da Abraccine, Vladmir lembra a longa jornada para realizar “O País de São Saruê”, que começou nos primeiros meses de 1966. “Acolhido por Antônio Mariz, então prefeito de Sousa, parti para registrar os últimos suspiros da atividade algodoeira, alcançando várias de suas usinas ainda em funcionamento ali. Uma luta insana para concretizar um projeto que vinha maturando, dentro e além das fronteiras da Paraíba, até que finalmente pude submetê-lo ao veredicto da implacável censura em pleno regime militar”, conta.

Segundo ele, a primeira grande alegria que teve foi vê-lo liberado para exibição em 1979, ano em que foi distinguido com o Prêmio Especial do Júri do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que antes o rejeitara em 1971, mesmo depois de sua comissão de seleção tê-lo escolhido. “É longa, portanto, a sua história. A distinção de agora, colocando-o entre os cem melhores do Brasil, só me trouxe alegria e alento, justo ao apagar das luzes de um ano em que completei 80 anos de idade. Entretanto não foi a primeira vez que frequentou lista de melhores filmes. Enquetes de anos passados da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil incluíram O País de São Saruê, trazendo-me benéfico surto de energia para continuar filmando documentários. No caso presente só posso agradecer de forma penhorada aos da Abraccine pela força”, exalta.

Vladimir conta que filmou “O País de São Saruê” logo após ter participado do “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho. “Fui parar em sua equipe porque havia conhecido João Pedro Teixeira, meu companheiro de partido e depois de ter atuado na equipe de Aruanda, de Linduarte Noronha e de ter realizado meu primeiro filme de curta metragem, Os Romeiros da Guia, com o saudoso João Ramiro Melo. Essas experiências e o conhecimento acumulado da região e de sua população mais sofrida levaram-me, motivaram-me a mexer com os conteúdos que norteiam o São Saruê, ou seja, o problema da terra, da injustiça social e da desigualdade entre classes. Isto tudo numa região bem longe da zona açucareira, onde havia acontecido a tragédia das Ligas Camponesas, dizimadas pelo golpe militar”, comenta.

Ao falar sobre o momento atual do cinema nacional, Vladimir classifica-o como promissor. Para ele, o nosso cinema organizou-se institucionalmente e o Estado tem entendido, mesmo que de forma parcial a sua existência e importância no quadro de nossa cultura. “Entretanto, continuamos a velha luta por mais espaço. A questão econômica vem sendo resolvida, notadamente no que diz respeito à produção em si, leia-se financiamento, o que vem mantendo o ritmo constante da atividade. O caso, porém, é que nós temos o território, mas não somos donos do mercado. É tremendamente desconfortável vermos os nossos filmes receberem as migalhas que sumiticamente nos cabem nas salas de cinema, e mesmo na televisão, numa hora em que mídias e janelas se multiplicam pelo mundo virtual. Assim temos muitos problemas pela frente a desafiar a nossa imaginação para continuarmos na lida”, declara.