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mostra tem vernissage hoje

Fixo na paisagem

publicado: 02/05/2024 08h58, última modificação: 02/05/2024 08h58
Chico Pereira abre, na Usina Cultural Energisa, exposição que mostra suas obras integradas à arquitetura
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O painel instalado na sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em Campina Grande, de 1994, reproduz em azulejos referências que fazem parte do universo do Sertão | Foto: Divulgação

por Esmejoano Lincol*

“Dizem que cada pessoa nasce para o que é”, assevera Chico Pereira, artista campinense radicado na capital, ao ser questionado pela reportagem de A União sobre em que momento a paixão pela arte o flechou pela primeira vez. Nascido, então, artista, a celebração dos 80 anos de vida de Chico em 2024 – e, consequentemente, de oito décadas de arte, sendo seis delas trabalhando exclusivamente neste ofício – será feita com a exposição A Arte de Chico Pereira na Arquitetura, que estreia hoje na Usina Cultural Energisa, situada no bairro de Tambauzinho, em João Pessoa. A vernissage de lançamento está marcada 19h, com entrada franca. Após a inauguração da exposição, ela permanecerá aberta ao público até o dia 25 de maio, com visitações disponíveis de terça à sexta, das 13h às 18h, e aos sábados e domingos, das 16h às 20h. 

Além dos trabalhos em diversas molduras e telas, quatro painéis de Chico instalados em espaços públicos estarão em destaque na Energisa. Em ordem cronológica, o primeiro deles é Tropicália, obra que estampa a biblioteca da Faculdade de Administração da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, e que representa motivos contemporâneos à época em que foi produzido – o ano de 1969 –, como um astronauta (alusão à chegada homem à Lua), além do próprio nome do movimento cultural brasileiro que batizou o mural. Tropicália foi produzido com uma mistura de técnicas sob a parede da instituição, com aplicação de spray, tintas esmalte e acrílica e stencil.

A ARTE DE CHICO PEREIRA NA ARQUITETURA
- De Chico Pereira
- Abertura hoje, às 19h
- Na Usina Cultural Energisa (Av. Juarez Távora, 243, Centro, João Pessoa)
- Entrada franca

Também em destaque na exposição está o painel do Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado na Sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em Campina, que reproduz em azulejos os motivos que povoam o universo do sertão – como cactos, cabras e vaqueiros. A terceira obra selecionada é o conjunto de cobogós intitulado Varanda de Rede, produzido sob encomenda de Oscar Niemeyer para a Estação Cabo Branco, em João Pessoa, que engendra o traçado que compõe a beirada das redes.

Completando as obras de Chico em evidência na exposição, o painel do Parque Ecológico de Bodocongó, em Campina Grande, este produzido em cerâmica com finalização computadorizada. Essa obra remonta à história da cidade, que completava 150 anos na data em que foi inaugurado, retratando fatos históricos como a Revolta do Quebra-Quilos, no século 19, a chegada da eletricidade e do automóvel e os jogos entre o Treze e o Campinense, tradicionais times campinenses. 

Dyogenes Chaves, curador da exposição e colaborador de Chico em muitas de suas obras, explica que na impossibilidade técnica de se extrair ou se refazer os painéis e murais em seu tamanho original, as fotos que os retratam o fazem em escala menor de tamanho, acompanhados de relatos do processo criativo por trás de cada um, em texto e foto. “Em arte, costumamos chamar esse processo de ‘mostrar a cozinha’ do artista, numa alusão ao fato de que neste estágio a comida não está pronta” , explica.

Para o curador, a exposição evidencia a integração entre a arte e a arquitetura, campos que comumente se encontram na trajetória de artistas como Chico. O evento também ajudará a dar visibilidade às intervenções do artista que são pouco conhecidas, como o mural da Estação Cabo Branco, segundo Dyogenes. “Às vezes as pessoas passam por aqueles cobogós e não sabem que se tratam de uma obra artística. Na exposição, teremos a oportunidade de conhecer não apenas a obra, mas os seus estudos e o processo de instalação”, relata o colaborador de Chico Pereira. 

Começando com gibis

Comemorando 80 anos em 2024, Chico Pereira tem parte de sua trajetória artística compondo a exposição que será aberta na noite de hoje | Foto: Rafael Soares/ Divulgação

As primeiras intervenções e criações de Chico datam da infância. O artista rememora que ainda menino desenvolveu “um gosto prazeroso pelo desenho”, duplicando ele mesmo as capas de seus gibis em papel.

“Depois, ainda adolescente, passei a estudar na antiga Escola de Artes de Campina Grande, cuja formação reproduzia o modelo do ensino acadêmico das Belas Artes. Isto serviria mais tarde para o desenvolvimento da minha atividade de artista gráfico”, conta Chico.

Sobre a pluralidade de manifestações artísticas que o influenciam e de muitos suportes que abrigam suas obras nesses 60 anos – expandidos para o audiovisual, como filmes e vídeos que capturam alguns de seus trabalhos –, Chico sentencia ser um artista livre para fazer o que gosta.

“Desde cedo, também envolvido com o desenho técnico, que adquiri no Senai como obrigação da formação de mecânico de manutenção, fui sendo levado por diferentes caminhos que resultaria numa arte diversifica, sem compromissos com o mercado de arte”, explica. 

Também escritor, Chico publicou em 2011 Paraíba: Memória Cultural, livro que faz um panorama cultural do estado. Outras de suas obras escritas: Os Anos 60 – Revisão das Artes Plásticas da Paraíba, O Legislativo na História da Paraíba e Paraíba Ministério Público. Em 2016, passou a ocupar a cadeira 16 da Academia Paraibana de Letras (APL).

Hoje ele é professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – onde fundou o Núcleo de Arte Contemporânea – e pareado à atividade docente e aos ofícios de pesquisador e escritor, ele desenvolveu uma trajetória rica na gestão da cultura em nosso estado. A primeira experiência foi em 1969, quando foi nomeado diretor do Museu Assis Chateaubriand, em Campina Grande, nomeado subsecretário de Cultura do Estado e pró-reitor de Cultura da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em décadas seguintes.

“De lá pra cá não consegui mais me afastar da causa pública, assumindo diferentes cargos e funções até hoje, como é o caso da organização do Museu de História da Paraíba Palácio da Redenção, que terá por missão o registro e a difusão da nossa formação geo-histórica e cultural”, fala Chico, acerca do novo projeto que tem em mãos. Hoje ele ainda colabora com a Fundação Casa de José Américo (FCJA), aparelho público para o qual desenvolve projetos, a exemplo da exposição As Múltiplas Faces do Humor, reunindo charges de Américo.

Na abertura da exposição de hoje, o artista apresentará ao público que comparecer à vernissage uma performance de produção artística, demonstrando ao vivo uma mostra do seu processo criativo. “Boa parte dessas obras é vista, mas as pessoas desconhecem ser de minha autoria. A exposição também serve como registro de uma época da arte paraibana que atuo, agora exposta numa visão abrangente”, finaliza Chico.  

O painel do Parque Ecológico de Bodocongó retratava diversos fatos históricos e culturais de Campina Grande | Foto: Divulgação

Através do link, acesse o site oficial da Usina Cultural Energisa

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 02 de maio de 2024