Só vozes femininas em uma diversidade rítmica para encerrar a edição de 2023 do Palco Tabajara. Com a banda paraibana Gatunas e a cantora rondoniense Sarah Soul, radicada há três anos em João Pessoa, o programa de hoje vai levar ao público e deixar registrado um momento importante de transição estética e artística que as duas atrações da noite estão passando. Com entrada gratuita para a plateia que quiser conferir os shows a partir das 20h, diretamente da Usina Cultural Energisa, na capital paraibana, a edição será transmitida ao vivo também pela Rádio Tabajara e no canal do YouTube da emissora.
Para a banda Gatunas, que este ano completou seis anos de formação, as mudanças são amplas e incluem até os seus integrantes. A banda deixa o power trio – composto por Ruanna Gonçalves (guitarra e vocal), Morgana Morais (contrabaixo e vocal) e Marcondes Orange (bateria) – para apresentar Adri L nos teclados e sintetizadores. O quarteto às vezes ganha um quinto elemento e assim será no Palco Tabajara com a participação de Del Santos nas percussões. Mas a mudança principal será no som que a banda vai levar para a segunda apresentação no Palco Tabajara. Ou melhor, uma volta às origens.
“Gatunas está no momento de reformulação de proposta, de som. Uma volta com uma linha de som que a gente já fazia, com um show mais pra cima, mais swingado”, anuncia Ruanna Gonçalves. Essa proposta havia sido deixada mais de lado, quando a banda apostava em estilos que incluíam o forró, o carimbó, o blues e o brega, desde o lançamento do single ‘Ode ao Bozo’, em 2019, e que se concretizou com Meu Corpo, Minhas Regras, álbum lançado em 2022. “Conseguimos desabafar nesse álbum em termos de política, de sociedade, justiça e doença. Temas mais pesados. Agora a gente retorna com mais canções de amor, de canções cotidianas com mais leveza”, complementa Ruanna.
Durante esse período de pandemia a banda ficou mais associada como uma banda rock pesado, com um trabalho com forte teor político e com uma estética musical mais densa. A apresentação no Palco Tabajara vai ser um marco nesse processo e o repertório vai contar com músicas inéditas e outras que estão presentes no álbum do ano passado, no EP Gata de rua (2020) e em alguns singles da banda, que prepara ainda uma surpresa. “Vamos tocar uma música que está prevista como um dos próximos lançamentos. Vai ser um feat superespecial. Podem esperar um show super pra cima de Gatunas. Vai ser uma parte bem dançante, bem mais leve”.
O show pode ser visto como um prenúncio do que virá em breve no futuro da banda, que já planeja o lançamento de mais um EP no qual será mais explorado exatamente o swing das guitarras. “A gente está num momento de reencontro, de reformulação de som. Gatunas volta um pouco para onde ela é de origem, para essa mistura de música brasileira, do brega, do forró, da coisa dançante”, resume Ruanna.
Divisor de águas
A mudança da outra atração do Palco Tabajara de hoje foi mais específica, a começar pelo endereço. Atravessando quase todo o Norte e Nordeste, a mais de 4 mil quilômetros de distância, Sarah Soul deixou Porto Velho, sua cidade natal, para seguir com sua carreira em João Pessoa, seguindo a esposa, que veio passar apenas alguns dias na capital e ambas acabaram se encantando pela cidade. “Está sendo um divisor de águas na minha vida, sou muito grata a todos os paraibanos por me receberem com tanto carinho e valorização. O processo de mudança foi bem rápido. Não foi fácil, mas está dando certo”, confirma Sarah Soul.
Cantora e compositora, Sarah Soul tem um estilo que mescla o R&B, soul, pop e MPB. A artista canta letras que tratam sobre a vida, o amor, a diversidade e suas experiências como mulher negra e artista independente. Ela é cofundadora do Coletivo Mina Livre, com o qual já promoveu três edições do Festival de Música Negra de Rondônia. Com sete anos de carreira, a rondoniense lançou no ano passado seu primeiro álbum com oito faixas chamado Correria, criado a partir do ponto de vista da mulher afro-brasileira levando em consideração seus sentimentos, sonhos e objetivos na vida.
Para chegar nesse ponto de maturidade artística e profissional, foram muitas transformações para a cantora que começou cantando na igreja ainda criança. “Cantei minha vida inteira nesses espaços, e a música gospel originou muitos desses estilos. Hoje tenho como referência artistas como Nina Simone, Amy Winehouse, Tim Maia, Sandra de Sá, Michael Jackson, entre outros inúmeros que contribuíram para minha construção como artista”, cita Sarah Soul.
Para o Palco Tabajara, ela prepara uma mistura de covers internacionais com autorais presentes em Correria. Aqui, na Paraíba, Soul se aproximou de músicos como o saxofonista Roger Cristiano e a guitarrista Fabiane Fernandes.
Os planos agora são para ampliar seu alcance junto à cena local, e o Palco Tabajara é um dos passos em direção desse objetivo. “Uma junção de ações me ajudaram a abrir portas em lugares maravilhosos aqui em João Pessoa. Tento mostrar meu trabalho da forma mais sincera e interessante para os contratantes, me esforçando ao máximo para unir técnica, alto astral e conexão com o público, para fazer com que o show tenha a resposta mais positiva possível. Minhas impressões sobre João Pessoa são as melhores. Vejo que os profissionais são de alta qualidade, uma galera instruída e extremamente talentosa. Para o futuro, planejo continuar a produção autoral e lançar muitas músicas novas, além de continuar atuando na cena local participando de festivais e eventos que tenham ligação com meu estilo musical”, conclui Sarah Soul.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 05 de dezembro de 2023.