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Forró como patrimônio mundial

publicado: 08/01/2024 09h32, última modificação: 08/01/2024 09h32
Em Lisboa, Portugal, Associação Cultural Balaio Nordeste promoveu palestra sobre o tema com o objetivo de coletar assinaturas para solicitar o reconhecimento global do gênero
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Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste no aniversário da capital, em agosto: neste ano, grupo prepara um disco autoral e projeto que pretende circular pelo país, realizando apresentações e palestras - Foto: Thercles Silva/Divulgação
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Joana Alves (terceira da esq. para dir.) em palestra realizada em Lisboa, Portugal - Foto: Leandro Ribeiro Rolim/Divulgação
ORQUESTRA SANFONICA BALAIO NORDESTE - Thercles Silva.jpg
Baião in Lisboa - Foto Leandro Ribeiro Rolim.jpeg

por Guilherme Cabral*

“O forró como patrimônio mundial” foi o tema da palestra proferida pela presidente da Associação Cultural Balaio Nordeste (ACBN) e coordenadora do Fórum Nacional de Forró, a paraibana Joana Alves da Silva, durante o festival O Baião Vai, realizado em dezembro passado, na cidade de Lisboa, capital de Portugal. “Essa é a nossa missão, já que o forró já é patrimônio cultural imaterial do Brasil, com registro feito em 2021. Estamos coletando assinaturas pelos países que temos visitado e que serão entregues ao Iphan, em 2025, para que repasse a Unesco solicitando o reconhecimento do forró como patrimônio mundial”, disse ela.

Além disso, a articuladora cultural informou que já possui projeto aprovado pela Lei Paulo Gustavo, através do Governo da Paraíba, com o intuito de, até o mês de junho, circular por 14 municípios para prestar esclarecimentos sobre a importância e os benefícios do forró como patrimônio nacional.

Durante sua palestra na Europa, Joana Alves lembrou que o foco tratado foi a patrimonialização do forró e todo o trabalho de movimento articulado com esse objetivo, realizado a partir de 2011, quando a ACBN passou a manter diálogos com os forrozeiros atuantes na Paraíba, que incluiu debates e ações voltadas para a melhoria das condições de cidadania dos artistas que trabalham com o forró em suas diversas denominações.

Joana Alves viajou por meio do edital Arte na Bagagem, do Governo do Estado, acompanhada pelo assessor de comunicação Leandro Ribeiro Rolim e o professor Henrique Sampaio, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão em Economia Solidária e Educação Popular (Nuplar), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Essa foi a terceira viagem internacional realizada por Joana Alves para falar sobre a ideia de se lutar pelo reconhecimento do forró como patrimônio mundial. Em abril de 2023 ela esteve em Londres, na Inglaterra; em seguida, na cidade de Lily, na França. “O meu objetivo é visitar cinco países e, em 2024, pretendo estar em outros dois, que são a cidade do Porto, em Portugal, em maio, e a cidade de Hamamatsu, no Japão, no segundo semestre. Em cada uma dessas localidades tenho recolhido assinaturas para compor um abaixo-assinado que será enviado ao Iphan e, em seguida, para a Unesco. Até agora, já conseguimos cerca de três mil assinaturas e esperamos chegar ao total de cinco mil assinaturas”, comentou ela.

Conseguir levar o forró a ser reconhecido como patrimônio cultural trará benefícios, nas palavras da coordenadora do Fórum Nacional de Forró. “A partir desse registro, o forró tradicional passa a ser resguardado, valorizado e incentivado, através da sua inclusão nas programações de eventos, como os festejos juninos. É uma cultura popular presente em vários estados do Brasil e em outros países, levado principalmente por brasileiros que vão morar no exterior. Essa iniciativa também é importante para empoderar os profissionais que batalham para manter viva as tradições dessa prática, à qual faz parte de suas próprias identidades, além de contribuir para promover outras ações, como a capacitação e fortalecimento das atividades da cadeia produtiva do forró”.

Além do ritmo envolvente, Joana Alves apontou pelo menos outra razão para o forró ser bem aceito no exterior. “É uma dança do aconchego, que aproxima as pessoas, sendo presente em países como Portugal e França”.

A presidente da Associação Balaio Nordeste lembrou que patrimônio imaterial abrange atividades culturais que podem ser caracterizadas pelos saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, assim como lendas, músicas, costumes e outras tradições.

Orquestra Sanfônica em 2024

Idealizada pela presidente da ACBN, Joana Alves, que a concretizou em parceria com o maestro Lucílio Souza e foi fundada em julho de 2011, a Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste (OSBN) surgiu com o objetivo de levar ao público boa música e cultura. Depois de cumprir uma agenda positiva de apresentações, ao longo de 2023, o grupo já tem alguns projetos que pretende executar durante este ano. Um é a gravação do primeiro EP autoral, cuja previsão de lançamento é para o segundo semestre. Outro é criar o evento De 8 a 120 baixos, com o qual pretende circular pelo Brasil realizando apresentações e palestras para o público em geral.

“Sempre pensei na possibilidade da Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste lançar um EP autoral. Ao longo desses anos, sempre fizemos arranjos para canções nordestinas de outros compositores que tocamos em apresentações para o público e, agora, chegou o momento de aproveitarmos essa experiência que absorvemos para produzirmos nossa obra autoral”, disse Lucílio Souza. “O EP terá cerca de seis músicas, já com cara de CD, contendo basicamente forró e músicas instrumentais de sanfona de minha autoria e de outros integrantes da orquestra”.

O grupo é formado por 16 membros, na faixa etária dos 18 aos 60 anos de idade, que inclui paraibanos e componentes oriundos de outros estados, a exemplo de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte, além de uma musicista francesa, chamada Marie Claire, a única sanfoneira da orquestra, no momento.

A outra iniciativa da OSBN é, a partir da obtenção de apoio financeiro, implementar o projeto De 8 a 120 baixos. “O objetivo é trazer ao público a ideia do forró totalmente instrumental, em parceria com Luizinho Calixto. A intenção é, de início, circular pelo Nordeste e, depois, por outras regiões do Brasil, realizando apresentações e palestras para esclarecer as diferenças entre o fole de 8 baixos, que era tocado pelo pai de Luiz Gonzaga, o ‘Seu’ Januário, e a sanfona de 120 baixos, daí a razão do título. A ideia também é ter o livro com as partituras das músicas que serão tocadas”, comentou Souza.

O regente também fez um balanço positivo com relação às atividades desenvolvidas pela OSBN em 2023. “Conseguimos ampliar os espaços para nos apresentarmos em eventos, o que até então não acontecia”, resumiu ele, apontando como destaque a apresentação no aniversário da cidade de João Pessoa, em 5 de agosto, em evento organizado pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), onde, no mesmo dia, também se apresentou a Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB). “A nossa orquestra se apresentou com três cantoras convidadas: Helayne Cristine, Maria Kamila e Bella Raiane”, completou Lucílio Souza.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 06 de janeiro de 2024.