Forró, patrimônio imaterial da humanidade? Sim, essa é a ideia. Os governos da Paraíba e de Pernambuco, a Associação Cultural Balaio Nordeste e o Fórum Nacional de Forró de Raiz, além de uma série de outras instâncias políticas e culturais brasileiras e internacionais, uniram-se com o objetivo de promover esse reconhecimento. Para tal, cumprirão uma agenda na França e em Portugal, a partir desta quinta-feira, de onde esperam voltar com boas notícias para a tradicional expressão artística nordestina.
A programação da comitiva brasileira começa pela manhã, em Paris, na Embaixada do Brasil na França, onde se encontrará com representantes diplomáticos, produtores culturais e artistas brasileiros e franceses, para um diálogo sobre o que vai ser proposto. Ainda na “Cidade Luz”, no período da tarde, o grupo irá à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com o objetivo de reforçar o pedido para que o forró seja reconhecido como patrimônio imaterial da humanidade.
De acordo com Joana Alves, presidente-fundadora da Associação Cultural Balaio Nordeste, que tem sede em João Pessoa, caberá à Unesco realizar consultas públicas e pesquisas para saber se existe mesmo essa expressão cultural como fonte identitária de um povo e se a comunidade local reconhece essa expressão como sendo sua. “É necessário mapear e pesquisar o tema”, argumenta.
Já o evento programado para Portugal acontecerá nos dias 1 e 2 de junho, na cidade do Porto, com a realização do Fórum Internacional do Forró Raiz, no Instituto Pernambuco Porto. Serão dois dias de eventos, com palestras, debates e mesas-redondas, pela manhã e à tarde, que discutirão a importância de fortalecer o forró como política pública e como patrimônio cultural e identitário. Também haverá shows de artistas brasileiros de forró, durante as noites do evento.
Passo a passo
Para o secretário de Estado da Cultura da Paraíba, Pedro Santos, alçar o forró a patrimônio imaterial da humanidade é um trabalho de longo prazo, que passa por uma série de análises técnicas, culturais e antropológicas. “Será uma honra, para a Paraíba, que puxou esse projeto, chegar até a Unesco e dizer que temos uma cultura que é genuinamente nossa e que ela precisa ser salvaguardada”, destaca.
A mobilização em curso é fruto de uma ação de longo prazo, que primeiro conquistou o reconhecimento dentro do Brasil — um pré-requisito necessário para se chegar à Unesco. Em 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) transformou o forró em patrimônio imaterial nacional, a partir de proposta da Paraíba — e que logo recebeu a adesão de outros 14 estados brasileiros.
Para a conquista internacional, a busca agora é por apoio internacional. Ao todo, 30 países já subscreveram um abaixo-assinado em apoio à causa nordestina e brasileira. “Chegaremos lá. Isso é certo”, diz o secretário, em tom otimista.
Joana Alves, uma das principais lideranças deste projeto, destaca que a mobilização para a salvaguarda do Iphan começou em 2012. Desta vez, porém, ela calcula que o processo será mais rápido. “Ainda assim, deve durar até 2026 ou 2027. Sabemos que é um processo lento. O Iphan, por exemplo, ainda precisa publicar e enviar, à ONU, a ação de salvaguarda do patrimônio nacional com relação ao forró”, acrescenta.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de maio de 2024.