Lucas Silva - Especial para A União
Batizada de “Tudo de Negro que existe em Mim”, a mostra traz ao hall de exposição da Usina Cultural Energisa hoje uma seleção de fotos que mostram ao público o olhar que o fotógrafo paraibano, Fernando Tavares, teve sobre os negros e sua pesquisa cultural feita durante sua volta à capital. Sendo aberta oficialmente às 19h30, as imagens que serão expostas mostram que são além de elaboradas, muito sensitivas, e que trabalham temas e significados diferentes para cada um de nós. Os interessados em contemplar as fotos têm entrada gratuita ao local.
Ao entrar no hall de exposição, o visitante irá se deparar com telas de 90x60 que traduzem a pesquisa cultural realizada pelo fotógrafo mesclada ainda à sua visão estética do meio fotográfico. Em resumo, as 30 telas expostas têm como proposta explorar a filosofia e o contexto social em que o negro se encontra atualmente no Estado.
“A questão do preconceito no Estado da Paraíba ainda é muito grande e escancarada. Embora exista aquela maquiagem por grande parte das pessoas são notórios os narizes tortos e as caras feias quando tocamos em assuntos que envolvem a cultura negra”, desabafou o fotógrafo em entrevista ao jornal A União.
Descritas por Tavares como obras de arte e não fotografias, as imagens abrem espaço para a discussão sobre os formatos estéticos e as mudanças as quais os negros vêm passando hoje, em especial com foco nos conceitos de negridute e empoderamento.
“A ideia de montar uma exposição assim surgiu, porque primeiro sou negro. Na pesquisa que fiz ao voltar a João Pessoa descobri que grande parte de minha família era negra, e segundo porque quero trabalhar o conceito da palavra 'negro' para cada um que for ver a exposição”, contou.
Durante a entrevista, o fotógrafo relembrou que antes de por a mão na massa e ver de fato todo o trabalho concretizado, criou um grupo de pessoas no aplicativo Whatsapp para debater o universo afrodescendente na capital e a partir daí selecionou modelos que estavam dispostos a levar esse debate às lentes da câmera.
“Além de fazer o trabalho fotográfico que será exposto, o conceito que cada modelo tem em sua mente sobre o universo trabalhado foi transposto, de certa maneira, para as imagens. E isso foi muito importante, porque todas as ideias acabaram dando como resultado as 30 imagens que compõem o espaço expositivo”, destacou o fotógrafo.
Como dito anteriormente, o empoderamento, que é uma ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis, está ligado à mostra. Para o artista visual, esta consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política.
Muito bem humorado durante a entrevista, Tavares definiu ainda sua exposição em apenas uma palavra – Arte. “Você pode me chamar de fotógrafo, artista plástico ou poeta que escreve com a luz, porque é isso que trago para a exposição, a amostra de um conceito de arte que foi transposto por meio das minhas lentes até as telas”, completou.
Sendo essa a primeira exposição do rapaz, o artista pensa em dar continuidade a sua série de fotografias, mas em 2017. “Passei 30 anos fora e embora não pareça, sou de João Pessoa. Agora voltei para ficar e sentir novamente todo o calor e aconchego que o público dessa cidade sabe dar aos seus visitantes e aos conterrâneos”, finalizou Tavares.
Na lista de projetos futuros do artista pensados para o ano que vem estão “Monumentos Paraibanos”, “Arte na Pele” e uma nova exposição com mulheres grávidas, mas que tiveram suas crianças prematuras. Além disso, o público pode esperar algumas oficinas, cursos, palestras e seminários voltados para temas sociais e culturais, todos com locais, horários e entrada a serem definidos ainda.