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Fotos da Jurema Sagrada em Montevidéu

publicado: 19/09/2025 08h56, última modificação: 19/09/2025 08h56
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Exposição de Allan Luna recebeu apoio do Arte na Bagagem | Foto: Allan Luna/Divulgação

por Esmejoano Lincol*

No idioma kimbundu, kipupa significa “união” e malungo “companheiro”. Já para o fotógrafo Allan Luna, natural de Pernambuco, mas radicado na Paraíba, o Encontro Nacional de Juremeiras e Juremeiros, titulado, entre os adeptos, de Kipupa Malunguinho, simboliza a sua primeira exposição internacional, intitulada Encantados. Os registros desse evento, capturados entre os anos de 2015 e 2019 compõem o rol de imagens que o artista visual expõe, a partir de hoje, na Casa de la Cultura Afrouruguaya, em Montevideo, Uruguai.  

A empreitada conta com o apoio do programa Arte na Bagagem, iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), com recursos da Política Nacional Aldir Blanc. As 30 fotografias que compõem Encantados permanecerão à mostra até o dia 5 de outubro. “Não tenho religião, mas admiro muito a força e a fé deles, que gera toda essa resistência cultural. Além disso, é uma prática de muita beleza, alegria e paz. As pessoas são muito abertas e muito receptivas, mesmo com pessoas como eu que não são adeptas”, diz Allan.

A aproximação do fotógrafo com os juremeiros se deu a partir de 2014. No ano seguinte, ele passou a coletar imagens do evento — nos cliques, além dos rituais está presente a interação entre as pessoas. Com a pandemia, encontro presencial foi cancelado e, desde então, ele não acontece mais de forma unificada. As lembranças, todavia, permanecem nas fotos de Allan. “Numa delas, há uma senhora, com uma madeira ‘atravessando’ seu rosto — essa eu não esperava fazer, eu estava sentado no chão, comendo uma quentinha”, recorda

Antes de seguirem nessa exposição individual rumo ao Uruguai, algumas das imagens foram exibidas coletivamente, por Allan, na Paraíba, no Salão Municipal de Artes Plásticas de João Pessoa e no Espaço Cultural, também na capital.

“Expus, ainda, em eventos como o Festival de Inverno de Garanhuns e o Pernambuco Meu País. Mas gostaria muito de fazer uma individual dessa série tanto em Recife quanto em João Pessoa, que adotei como cidade há 14 anos”, projeta.

Celebrando a oportunidade de, pela primeira vez, compartilhar o seu trabalho com o público de outro país, Allan Luna, assevera que o faz com mais prazer no Uruguai, país que, segundo ele, recepciona muito bem os artistas visuais brasileiros e as obras do país vizinho.

“Aqui, em Montevidéu, há uma presença forte da Umbanda, apesar de ser uma religião brasileira. Há relações históricas entre os dois países. Muito feliz por esse reconhecimento, pelo apoio da Secult e feliz também por estar fazendo essa exposição circular”, resume.

Allan ressalta que o ponto mais importante de Encantados é a possibilidade de difundir as imagens da jurema sagrada e ajudar, com isso, a diminuir os preconceitos em torno da prática — nomeada como patrimônio imaterial da Paraíba em 2025. “Ainda hoje, se faz muito importante esse tipo de debate, trazer um pouco de respeito étnico e religioso, no caso da jurema”, finaliza.   

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de setembro de 2025.