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Funesc recebe exposição de xilogravura sobre o imaginário do homem nordestino

publicado: 15/07/2019 10h05, última modificação: 15/07/2019 10h05
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tags: funesc , xilogravura , exposição , artes plásticas


Fundação Espaço Cultural da Paraíba, em João Pessoa, recebe, a partir do dia 26 deste mês, a exposição Bestiário Nordestino - Um olhar sobre a gravura fantástica, dentro da programação do Festival de Artes Jackson do Pandeiro. A mostra poderá ser vista a partir das 17h, na galeria de arte Archidy Picado, reunindo um acervo de dezenas de obras de xilogravura de 18 artistas. Os trabalhos retratam, por meio da tradicional arte, o imaginário do homem nordestino. Exposição, que tem curadoria dos artistas Rafael Limaverde e Marquinhos Abu, pode ser vista até o dia 15 de setembro.

“Demônios, dragões, híbridos e amorfos são as estrelas das obras, que detalham o sobrenatural que permeia o imaginário do homem nordestino, traçando a história deste povo que desde muito tempo vem sendo contada e cantada na literatura de cordel, no entalhe da madeira e na criatividade que estipula um limite entre o homem e o animal, a realidade e a fantasia, a lucidez e o delírio. Dentro do universo da gravura nos atentamos a um tema muito particular que não é sempre abordado pelos artistas: esses seres fantásticos, assombrações e monstros, esse mundo estranho e particular”, destaca Rafael Limaverde.

Essa necessidade do irreal, ainda conforme Limaverde, foi o contraponto na busca de obras de arte que não se enquadrassem no conceito padrão de beleza e do gosto popular. E complementou: “O que veremos na exposição Bestiário Nordestino é um recorte desse tema fortemente presente no imaginário nordestino, mas ainda pouco explorado pelos artistas gravadores. Também traremos uma coletânea de cordéis que abordam esse tema”.

A exposição

O acervo da exposição é fruto, em sua maioria, do projeto Oco do Mundo. Durante 14 dias, Rafael e Marquinhos caíram na estrada em uma pesquisa sobre a gravura e um tanto de encantamento no encontro com esses artistas nordestinos. Essa saga foi vivida e desenhada entre os dias 30 de agosto e 12 de setembro de 2016, percorrendo quatro estados, dez cidades visitadas, 2.300 quilômetros. Os curadores do tiveram encontros com os artistas Adriano Brito, Guto Bitu, Carlos Henrique (Crato/CE), Nilo, Abraão Batista, Stênio Diniz (Juazeiro/CE), J.Borges (Caruaru/PE), Maurício Castro e Lourenço Gouveia (Recife/PE), José Costa Leite (Condado/PB). E o resultado desse imaginário fantástico pode ser conferido em cada obra exposta.

Entre os destaques, estão José Costa Leite, J. Borges e Abraão Batista, referências nacionais e já com uma longa história na xilogravura, e que ainda continuam produzindo. O diferencial também vai para as xilogravuras do acervo do MAUC (Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará), considerado a maior coleção de matrizes do país e que pela primeira vez obras de Damásio Paulo (Juazeiro do Norte/CE), Walderêdo Gonçalves (Juazeiro do Norte /CE), Antônio Lino (Juazeiro do Norte/CE) e Justino P. Bandeira (Juazeiro do Norte/CE) são expostas fora do museu. Serão expostos também cordéis que possuem a mesma temática da mostra.

Além da exposição em si, também será lançado na ocasião o livro-catálogo Bestiário Nordestino. De distribuição gratuita, além das obras, a publicação ainda traz trechos de cordéis clássicos, textos de artistas e estudiosos sobre o tema, como Ariano Suassuna, Muniz Sodré, Gilmar de Carvalho, Cláudia Leitão, Sebastião de Paula e Cássia Alves, além de um cordel escrito exclusivamente para o livro, de Rouxinol do Rinaré.

Artistas

Abraão Batista (Juazeiro do Norte/CE), Adriano Brito (Crato/CE), Antônio Lino (Crato/CE), Bitu (Crato/CE), Carlos Henrique (Crato/CE), Carlus Campos (Fortaleza/CE), Damásio de Paulo (Juazeiro/CE), Josafá de Orós (Campina Grande/PB), J. Borges (Bezerros/PE), José Carlos Leite (Condado/PB), Lourenço Gouveia (Recife/PE), Maurício Costa (Recife/PE) Nilo (Juazeiro/CE), Rafael Limaverde (Fortaleza/CE), Stênio Diniz (Juazeiro/CE), Sebastião de Paula (Fortaleza/CE), Walderêdo Gonçalves (Crato/CE), Justino P. Bandeira (Juazeiro do Norte/CE) .

Curadoria

Rafael Limaverde é xilogravurista, grafiteiro, designer e ilustrador. Teve sua primeira exposição de pinturas e infogravuras intitulada “Caos” – Fortaleza/CE (2000). A segunda sob o título “Xilofagia”, com 14 xilogravuras homenageando personalidades e manifestações importantes da cultura nordestina - Fortaleza (2002). Ex-integrante do grupo Acidum, expôs na Funarte (São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ), Salão de Abril (Fortaleza/ CE) e Mostra Sesc Cariri (Crato/CE). Foi curador da exposição Eco Barroco no CCBNB (Centro Cultural Banco do Nordeste) – Fortaleza (2011) e da exposição Bestiário Nordestino, na Multigaleria – Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar - Fortaleza (2017). Como grafiteiro, realizou trabalhos em quatro edições do Festival Concreto - Fortaleza (2013, 2015, 2016, 2017) e Festival Bahia de Todas as Cores - Candeias/BA (2017). Pesquisa, atualmente, desenhos, pinturas, gravuras e assemblages, tendo como referência a cosmovisão religiosa, tanto litúrgica (sacralizada pela igreja) como a paralitúrgica (sacralizada pela religiosidade popular).

Marquinhos Abu é Grafiteiro, arte educador, produtor e membro do Coletivo Aparecidos Políticos, participou da curadoria do Ateliê Aparecidos Políticos no Sobrado José Lourenço, em Fortaleza/CE. No município de Crato/CE, Abu desenvolveu o projeto Retratos de Memória do Gesso, com o registro e pintura em stêncil de moradores históricos da comunidade. Participou, também, da produção do projeto Oco do Mundo, gravado no sertão nordestino, e do documentário ‘Desbravadores - Street View Trekker. Compõe, ainda, a equipe de produção do Concreto Festival Internacional de Arte Urbana, além de seguir participando de festivais de grafite pelo Brasil. Recentemente, fez parte da Caravana Concreto no México, participando do Festival Ciudad Mural. Marquinhos Abu é um dos curadores da exposição Bestiário Nordestino - Um olhar sobre a gravura fantástica, que esteve em cartaz em 2017 no Dragão do Mar e que, agora, segue em circulação pelo Brasil.

O Festival

A programação cultural do Festival de Artes Jackson do Pandeiro abrangerá shows, cortejos, apresentações, performances, intervenções, espetáculos, palestras, exposições, mostras, oficinas, encontros e outras atividades de formação artístico-culturais. Serão quatro dias de atividades intensas concentradas no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. O evento contará, ainda, com shows de Lenine e Margareth Menezes.

O Espaço Cultural se dividirá em polos e cada um deles será nomeado com títulos ou trechos de canções de Jackson do Pandeiro. A Praça do Povo se chamará ‘Sebastiana’. Já a Sala de Concertos Maestro José Siqueira será o ‘Canto da Ema’ durante os quatro dias de evento. O Teatro Paulo Pontes será ‘Cabeça Feita’ enquanto o Teatro de Arena será ‘Chiclete com Banana’. O Cinê Bangüê passará a ser ‘Jack Perrin’. Até o Estacionamento entrará no ritmo com o nome ‘A Ordem é Samba’. A Feira Criativa que acontecerá ao longo do festival será ‘A Feira’ enquanto que o Planetário ganhará o sugestivo nome ‘Sputnik, a Galeria Archidy Picado será o ‘Quadro Negro’ e o Mezanino 2 ‘Luz do Saber’. A Escola de Dança é o ‘Baile da Gabriela’. ‘Sina de Cigarra’ é o nome do polo na Sala de Coro. Já o auditório da EEMAN será o polo ‘Acorda, meu povo’.

Jackson do Pandeiro – Nome artístico de José Gomes Filho, nascido em Alagoa Grande, em 31 de agosto de 1919, e que passou boa parte da vida em Campina Grande. Começou a admirar a música por meio da sua mãe, a cantadora de coco Flora Maia, que colocou o filho para tocar zabumba aos sete anos. Seu primeiro sucesso, “Sebastiana”, na década de 1950, o lançou para o Brasil e para o mundo. Jackson chegou a fazer duetos e parcerias com nomes como Luiz Gonzaga, Edgar Ferreira e Rosil Cavalcanti e ganhou o título de “Rei do Ritmo”. Ele morreu vítima de embolia pulmonar e cerebral em 10 de julho de 1982, aos 62 anos, em Brasília (DF).