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Gatunas eleva o tom político em novo álbum

publicado: 25/04/2022 09h00, última modificação: 25/04/2022 09h00
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Foto: Marla Melo

por Joel Cavalcanti*

Tempos difíceis exigem que se cante a revolta e o clamor por liberdade. E a banda paraibana Gatunas, que sempre se manifestou através de canções com a proposta de empoderamento feminino, eleva o seu tom de protesto no novo álbum Meu corpo, minhas regras, que o grupo apresenta em show de lançamento hoje, a partir das 19h30, na Sala de Concertos José Siqueira do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Apostando na catarse que o grito de revolta impulsiona, o novo trabalho da banda desloca-se dos ritmos dançantes para a crítica e a performance poética e teatral.

São oito faixas que trazem consigo uma narrativa de violências e revides, de abusos e revolta, de censura e desforra. Estão em foco os problemas que formam os discursos públicos mais atuais e que enxergam a realidade social pela perspectiva do oprimido. “Não tem nenhuma musiquinha de amor. É um álbum bastante político. Pegamos nossas músicas mais pesadas, tanto de letra quanto de som”, destaca Ruanna Gonçalves, guitarrista e vocalista das Gatunas. O disco marca a volta do grupo ao rock’n’roll no qual se originou a banda, deixando de lado o forró, o carimbó e o brega que caracterizou as apresentações mais recentes.

“Quando escrevemos esse projeto foi pela necessidade de a gente dar um grito de liberdade sobre tudo que tem acontecido no país. Se nós sentimos isso, acredito que outras pessoas também têm sentido. Espero que a gente consiga contemplar o desejo delas”, conta a guitarrista do trio formado ainda por Morgana Morais (contrabaixista e vocalista) e Marcondes Orange (baterista). Os temas abordados nas músicas incluem a indignação com a morte do povo preto e pobre, a imposição de um padrão de beleza, a resistência de quem já sofreu abusos físicos, a memória de mulheres que inspiram uma geração pelas lutas que elas empreenderam e o estado de ansiedade generalizado que aflige atualmente a população.

No palco, a apresentação das Gatunas foi pensada como um espetáculo com direção artística de Phil Menezes e figurinos de Vanessa Sunflower, que terá destaque para a iluminação e a projeção de imagens. “As músicas têm uma progressão e um discurso bastante direto. A gente pretende que o espetáculo seja também muito sensorial, misturando com performance cênica”, adianta Ruanna, que deve ainda declamar poesias e contar com parcerias no show. Esse é um formato que vai coexistir paralelamente ao show no qual a banda promovia o que chamam de ‘gréa’, marcado pela festa e descontração.

A faixa que dá nome ao novo EP é um feat com a cantora Bixarte, que estará presente na apresentação deste domingo, e traz em sua letra reivindicações à liberdade de corpos e mentes, como aponta a letra: “Não importa o teu olhar desse jeito / Pros meus quilos, pros meus pelos / Pra minha postura / Eu gosto e exijo respeito / Longe de qualquer conceito que chega a censura / Desfaz esse discurso de média / É meu corpo, minhas regras / Não há o que questionar”.

Outra parceria no álbum está presente em ‘Quebrada’, com a Sinta a liga crew e os beats de Big Jesi, em composição de Morgana e Escurinho, que é o padrinho da banda, uma vez que ela surgiu há cinco anos no projeto Ciranda Musical, idealizado pelo músico e ator paraibano.

Com trabalhos anteriores, Gatunas já havia se destacado com o de Melhor Lançamento de MPB do ano passado no Prêmio Dynamite de Música Independente, em São Paulo, através de votação popular, com o EP ‘Gata de rua’, lançado em 2020, mesmo ano em que tocaram para mais de 15 mil pessoas na abertura do show da pernambucana Duda Beat. Por isso mesmo, as expectativas com Meu corpo, minhas regras já nascem altas.

Saindo pelo selo Festival do Sol (RN), o segundo EP do grupo já parte com uma agenda que inclui cidades como Natal, Recife e Fortaleza. “Antes de ser lançado, o disco já tem aberto portas. A expectativa é que a gente consiga atingir mais espaços e entrar nesse circuito de Sesc e BnB, que são instituições que têm estrutura teatral para levar esse espetáculo. Mas continuaremos com o repertório dançante nas casas de show”, garante Ruanna Gonçalves.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de abril de 2022