Poeta popular e repentista, Patativa do Assaré completaria 110 anos de idade neste dia 5 de março. Antônio Gonçalves da Silva - seu nome de batismo - nasceu em 1909, no sítio Serra de Santana, uma pequena propriedade rural localizada no município de Assaré, no sul do Ceará, e morreu - já sem audição e totalmente cego - em 8 de julho de 2002, aos 93 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Ele foi apelidado de Patativa porque suas poesias eram comparadas com a beleza do canto dessa ave nativa da Chapada do Araripe.
“Ele era um cara genial, porque o que escrevia tocava bem na alma do povo. E deixou um legado cujo valor é incontestável”, disse para o jornal A União o repentista, poeta e cantador pernambucano - radicado há 43 anos na Paraíba, Estado do qual possui título de cidadania - Oliveira de Panelas, que formou dupla com Otacílio Batista, para juntamente com os repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio, participar da gravação do LP intitulado Patativa do Assaré - 85 Anos de Poesia, lançado em 1994 em tom de homenagem para marcar o aniversário que comemorava, na época, o agora saudoso poeta cearense.
“No livro Canta Lá que Eu Canto Cá, publicado em 1978, foi reunida boa parte dos poemas de Patativa do Assaré, cuja poesia é vazada na mais legítima e genuína tradição da poesia oral e popular no cancioneiro do Nordeste”, declarou, também, o poeta, escritor e crítico literário paraibano Hildeberto Barbosa Filho, ao ressaltar a importância de Patativa para a cultura brasileira, tanto que é considerado um dos principais representantes da arte popular nordestina do século XX.
"Patativa do Assaré está na mesma dimensão dos poetas paraibanos Leandro Gomes de Barros, Manoel Camilo dos Santos e João Martins de Atahyde. Ele se esmerou e se especializou na sextilha, que é a estrofe de seis versos, e na redondilha maior, que é o verso de sete sílabas. Sua morte foi uma perda vigorosa, mas deixou um legado muito rico, que precisa continuar sendo estudado. É um poeta cuja obra é estudada e pesquisada na Europa, principalmente em universidades francesas, pela associação da cultura medieval com a popular”, observou, ainda, Hildeberto Barbosa.
Hildeberto Barbosa mencionou ser um exemplo de poema de autoria de Patativa do Assaré que reúne os dois modelos - sextilha e redondilha - o que se intitula de A Triste Partida, o qual o projetou em âmbito nacional. O pernambucano Luiz Gonzaga (1912 - 1989) viu um violeiro cantando a longa letra em forma de toada - que é o lamento sertanejo em forma de gênero musical - na feira da idade de Campina Grande (PB). Interessado, o Rei do Baião o questionou sobre a obra, que relata a viagem de uma família tangida pela seca no Nordeste rumo ao Sudeste. Ao saber que era e Patativa, o procurou. Resultado: incluiu-a no LP homônimo que lançou em 1964. Hildeberto ainda disse que a temática de Patativa é diversa, pois inclui, por exemplo, uma visão crítica da ura realidade social do povo sertanejo - o que valeu ao cearense o título de “Poeta Social” e de cunho épico.
Já Oliveira de Panelas confessou ter tido a honra de não apenas conhecer Patativa do Assaré, mas também ter se apresentado para abrir mais de 10 shows do poeta popular cearense, alguns dos quais realizados pelo BNB na cidade de Fortaleza (CE) e m outros municípios, a exemplo de Petrolina (PE). Na opinião de Oliveira de Panelas, a obra de Patativa do Assaré foi escrita com uma linguagem simples, mas poética.
“A poesia não deve ser subserviente para ninguém. Ela deve se trajar pelas cores das causas, pois ela pode ser utilizada, dependendo da ocasião, para falar de questões sociais, romantismo, coisas da alma... É preciso usar a poesia para dizer as coisas com senso de justiça e sobriedade para que, assim, possa ser verdadeira. Se a poesia for feita para agradar alguns ela não será livre e é melhor não fazê-la”, afirmou Oliveira de Panelas, para quem a obra legada por Patativa do Assaré possui tais características.