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Equipamento cultural reúne cerca de cinco mil exemplares

Gibiteca do Espaço Cultural preserva relíquias do mundo dos quadrinhos

publicado: 27/12/2021 09h29, última modificação: 27/12/2021 09h33
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Foto: Roberto Guedes/A União

por Joel Cavalcanti*

Em um dos equipamentos instalados no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, se preserva um acervo que conecta leitores com a dimensão do mundo fantástico da literatura em quadrinhos. É entre cerca de cinco mil volumes que a gibiteca Henfil reúne raridades e coleções preciosas mundiais e nacionais que estão marcadas na história dessa arte. O material também cria uma curadoria das publicações mais importantes da atualidade, com espaço para prestigiados artistas paraibanos.

A maior parte dos itens disponíveis para leitura e pesquisa, sem possibilidade de empréstimo, surgiu a partir da coleção de infância de Henrique Magalhães, professor da Universidade Federal da Paraíba, além de desenhista, editor e pesquisador de HQs. Com isso, o material cresceu a tal ponto que com o passar dos anos ele não conseguia mais ter um local para manter o acervo preservado.

“Eu juntei muito material de fanzine para as minhas pesquisas e, quando chegou no final dos anos 1980, resolvi socializar esse acervo”, lembra o pesquisador, que criou inicialmente um projeto de extensão universitária para dar acesso público a sua coleção e, em 1990, em parceria com a Funesc, abriu a gibiteca.

Com a pandemia, o número de visitantes foi reduzido, porém o local mantém uma média de 150 pessoas por mês desde a sua reabertura. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, de 8h às 12h e de 13h às 17h, aos sábados, de 8h às 17hs, e nos domingos, de 8h às 13h. Para ter acesso, é preciso ter completado o ciclo vacinal contra a Covid-19 e agendar através do site (agendamentos.pb.gov.br).

Ao contrário do que se possa imaginar, para Henrique Magalhães deixar a companhia de seu patrimônio não foi complicado para o fã de quadrinhos. Isso deu sentido à acumulação de todo o material. “Quando eu abri o acervo ao público, só fiz ganhar empatia, cumplicidade e participação das pessoas”, conta ele, que com a experiência como diretor inaugural da gibiteca passou a ter uma convivência diária com outros apaixonados pelo universo das HQs. “Vi crianças crescendo e se tornando quadrinistas a partir da convivência que tinha dentro da gibiteca”.

O conjunto literário disposto da gibiteca é formado por um material que não se tem acesso facilmente. O Homem-Aranha, que neste momento tem mais uma versão de sua franquia em cartaz e se tornou a maior estreia de um filme nos cinemas brasileiros da história, é responsável por uma das raridades na gibiteca. Está disponível ao público toda a coleção das aventuras de Peter Parker dos anos 1960 e 1970, editada pela Ebal. Para quem prefere os traços dos desenhos da Disney, a gibiteca Henfil também reserva um espaço para uma coleção dos anos 1970 que quadriniza os grandes clássicos do cinema infantil, como Peter Pan, Mogli, A espada era a lei, Bambi, Pinóquio, entre outros. “Todos os grandes filmes dos estúdios Disney saiam nessa coleção de luxo e essa coleção está na gibiteca”, destaca o colecionador. Mas o material é bastante diversificado, com os exemplares mais antigos sendo faroestes da década de 1950, e ainda Luluzinha, personagem feminina criada pela cartunista Marjorie Henderson Buell no ano de 1935. 

Ingá como cenário

Foto: Roberto Guedes/A União

Entre os exemplares, obras de um artista oriundo de Patos, no Sertão paraibano, e que fez sucesso com uma releitura de um personagem de Mauricio de Sousa, o Piteco: Shiko misturou com muita ação os elementos da história e lendas do monumento arqueológico da Pedra de Ingá ao enredo do personagem do pai da Turma da Mônica. “É uma coleção muito criativa. É uma recriação dos personagens e a proposta é uma coisa genial. O cartunista deixa na mão de outros a sua criação. É de uma generosidade que eu acho muito simpática, muito afetuosa. Ao mesmo tempo, como estratégia de marketing, ele amplia o público e o próprio conceito de seus personagens”, considera Henrique Magalhães.

A publicação de Shiko lançada em 2013 segue um formato chamado graphic novel. A característica dessas publicações foge de seu perfil de fascículo vendido mensalmente nas bancas e se tornaram álbuns com alta qualidade de impressão, capa dura, como uma obra autoral de maior nível. Elas elevaram os quadrinhos a categoria de artes, antes visto como uma subliteratura. “É uma transição no mercado que é interessante, por um lado, porque aumenta o prestígio dos quadrinhos, dá mais densidade a produção. As pessoas se dedicam mais a criar histórias longas, como romances ou aventuras, com uma perspectiva de aprofundamento. Mas, por outro lado, distancia o próprio público porque o custo é muito maior e o período de tempo de uma produção para outra é maior”, destaca Magalhães.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de dezembro de 2021