O poeta lusitano Luís Vaz de Camões morreu há quase cinco séculos deixando uma herança viva e em constante transformação, utilizada hoje por cerca de 300 milhões de pessoas — a língua portuguesa. Esta foi consolidada por meio de Os Lusíadas, uma das obras mais importantes da literatura ocidental. Inspirado por esse processo mutável e idiossincrático, Gregório Duvivier criou o espetáculo O Céu da Língua, que ele apresenta hoje, a partir das 21h, no Teatro Pedra do Reino. Os ingressos, disponíveis no site Meaple custam de R$ 60 (balcão/meia) a R$ 140 (plateia A inteira).
Formato híbrido entre o monólogo e o stand up comedy, O Céu da Língua tem direção de Luciana Paes e roteiro do próprio Gregório, que aborda, em tom bem humorado, aspectos próprios do português escrito e falado. O artista apresenta-se paramentado com um figurino renascentista e a tradicional gorgueira, ornamento utilizado ao redor do pescoço, numa imagem próxima das pinturas que retratam o autor de Os Lusíadas. A estréia, a propósito, foi em Lisboa, no ano passado, em meio às comemorações dos 500 anos de Camões.
O título é inspirado pela expressão “céu da boca”. O texto também analisa outros ditos similares, a partir da arbitrariedade entre os elementos e o sentido da frase, como em “batata da perna” ou “pisar em ovos”.
A reforma ortográfica também vira pauta. Ao contrário da indumentária, a direção de arte é simples, já que a peça é calcada no discurso do próprio Gregório: no palco, há apenas projeções criadas por Theodora Duvivier (irmã do ator) e o contrabaixo de Pedro Aune, que toca ao vivo e mantém a “textura musical” a cada encenação.
Em conversa com o G1, Gregório assinalou que o dinamismo da língua portuguesa é um dos “objetos de estudo” do espetáculo, mas que sua curiosidade pessoal em torno do fenômeno tem papel fundamental no texto.
“Entendo as palavras como pessoas vivas, que nascem, mudam de personalidade e morrem. ‘Irado’, por exemplo, é uma palavra que começou com uma vida braba, triste e foi ficando mais alegre, até ficar eufórica no fim da vida”, declarou ao site.
Já Luciana Paes, em entrevista ao programa Metrópolis, da TV Cultura, relatou que a intenção inicial era que os dois atores estivessem em cena, versão que foi modificada conforme a dupla entendeu que a artista estava assumindo a direção informal de O Céu da Língua, lidando, nesse ínterim, com o conhecido déficit de atenção do artista.
“Nos ensaios era sempre isso, ‘cavando’, ‘cavando’ e quando você achava que [a dramaturgia] ia para frente, ia pra dentro. A peça é o fluxo de pensamento do Gregório, mas encenado”, assinalou.
Conhecido por seu trabalho junto ao Porta dos Fundos (do qual é um dos sócio-fundadores), Gregório mantém, no canal desse coletivo de humor o videocast Não Importa, em que comenta aleatoriedades ao lado do colega João Vicente de Castro.
A carreira começou ainda na infância, mas consolidou-se na juventude, por meio de sua participação em espetáculos de improviso como o Zé – Zenas Emprovisadas. Apresentou por seis anos o Greg News: neste talk show da HBO Max, ele compartilhava suas impressões sobre sociedade e política
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de setembro de 2025.