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Coletivo paraibano está em cartaz no Rio de Janeiro com ‘Alegria de Náufragos’, espetáculo que será encenado em João Pessoa no próximo mês

Grupo Ser Tão faz 15 anos

publicado: 18/04/2022 08h47, última modificação: 18/04/2022 08h56
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Foto: Eunilo Rocha/Divulgação

por Guilherme Cabral*

Em comemoração aos 15 anos de existência que completa em 2022, o grupo paraibano Coletivo Ser Tão Teatro está cumprindo temporada, pela primeira vez, na cidade do Rio de Janeiro, com o espetáculo Alegria de Náufragos, e a repercussão já é bastante positiva.

“A gente teve uma receptividade excelente para o primeiro final de semana, com casa cheia. Então, é uma oportunidade de fazer uma rede no Rio de Janeiro e, também, espalhar pelo Sudeste”, disse a atriz Cely Farias, uma das integrantes do elenco da montagem, que é dirigida por Cesár Ferrario e Giordano Castro e vem sendo encenada no Teatro Ipanema, onde permanecerá até o dia 1º de maio, mês em que também é intenção da companhia entrar em cartaz em um dos finais de semana, em João Pessoa.

“São muitos feedbacks positivos por parte de pessoas do meio artístico, produtores teatrais, diretores, atores e artistas em geral de televisão, cinema e teatro, porque as apresentações foram muito boas”, relatou Cely Farias, que abriu a temporada da peça com os atores Thardelly Lima e Rafael Guedes no último sábado (dia 9) e vai prosseguir por mais dois fins de semana. “A gente está retomando esse encontro com Thardelly Lima, pois há quase três anos não apresentávamos juntos. Fizemos uma recente temporada pela Lei Aldir Blanc pelas escolas municipais, em João Pessoa, mas foi com Poly Barros, que estava substituindo Thardelly em João Pessoa e, agora, a gente retoma essa formação inicial”, explicou a artista.

Cely Farias acrescentou que Poly Barros e o produtor José Hilton foram os responsáveis, respectivamente, pela sonoplastia e a iluminação nessa formação original. “Eles não vieram para o Rio de Janeiro, mas deram o suporte prévio na nossa pré-produção. Aqui, na cidade, a gente está contando com o apoio de outros dois amigos, que são Lucas Queiroga e Natália Sá, que estão fazendo luz e som, respectivamente, nessa nossa temporada carioca, além de estarmos contando, também, com a produção local de Maria Alice”, afirmou a atriz.

‘Uma história enfadonha’

Foto: Marina Cavalcante/Divulgação

A montagem Alegria de Náufragos, que o Coletivo Ser Tão Teatro estreou no ano de 2016 e circulou por teatros e festivais pelo Brasil, é resultado de um livre diálogo do grupo com o conto Uma história enfadonha, do russo Anton Tchekhov (1860-1904). O espetáculo estabelece pontes entre o discurso literário de mais de 150 anos e contundentes questões dos tempos atuais, mas construídas mesclando doses generosas de acidez e humor.

“O grupo faz um livre diálogo desse conto de Anton Tchekhov, recriando, desconstruindo e fragmentando para construir a cena. Basicamente, o conto fala sobre a história do professor Nicolai Stiepánovitch, um pai de família e profissional de currículo impecável, reconhecido até em outros países e que poderia ser facilmente tomado como um exemplo de vida, um homem feliz. Professor universitário da área de Medicina, ele chega ao final da vida e faz reflexões sobre as escolhas que fez, olhando para sua família, seus sonhos e, nesse momento final da vida, compartilha com o público as suas dores e agruras”, relatou Cely Farias.

O ator Thardelly Lima detalha mais a produção: “Nas primeiras leituras, a gente foi recortando as cenas que dariam pano para manga. Conseguimos fazer algumas encenações com esse texto. Quando a gente saiu do trabalho e o olhou pronto, viu que ainda não era o que a gente queria dizer. Então, a gente pausou esse trabalho, pontuou e voltamos para as pesquisas anteriores, voltamos para a sala de ensaio e não havíamos imaginado, na dramaturgia, o que a gente mais admira no César Ferrario, que é o lado romântico”, contou o artista.

Cely Farias também explicou o motivo da realização da temporada na Cidade Maravilhosa. “Nós escolhemos vir para o Rio de Janeiro porque Thardelly Lima está morando aqui, o que nos ajudou bastante na decisão, por nos permitir um certo conforto e uma certa praticidade, no sentido de tanto fazer os contatos locais quanto com relação à hospedagem, essa parte mais logística”, apontou a atriz.

Para ela, Alegria de Náufragos é o espetáculo que tem estado mais ativo, “mais fresquinho mesmo, nos últimos tempos, e por isso a gente fez essa escolha para trazer ao Rio, mas, claro, com todas as intenções de ampliar esse repertório por aqui e trazer os demais espetáculos, assim que for possível”, disse Cely.

O Ser Tão Teatro é um grupo de pesquisa formado em 2007 na cidade de João Pessoa a partir da reunião de alunos e profissionais das artes cênicas do Departamento de Teatro da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As investigações que partem do coletivo visam a valorização da dramaturgia nacional adaptada e relida para a realidade atual, o teatro como palco para o debate de ideias através da abordagem de questões pertinentes ao contexto histórico, político e social, e a busca por uma interpretação que dialogue com as manifestações populares.

“Eu faço parte do Ser Tão Teatro desde 2016 e entrei para compor o elenco de Alegria de Náufragos, mas também participei do espetáculo Flor de Macambira, com o qual a gente fez circulação com o Palco Giratório do Sesc. É um grande prazer, um aprendizado e uma colaboração permanente, numa parceria de cena e de vida que é muito instigante e me alimenta, me empolga e me impulsiona. O grupo é um espaço de muita troca, de crescimento mútuo, de colaboratividade”, afirmou Cely Farias.

O grupo tem projetos para o ano, além das apresentações em João Pessoa. “Vamos também relembrar um pouco os espetáculos que o grupo já fez e com os espetáculos atuais. Então, esse é um ano de celebrar e estamos com alguns planos, ainda engatinhando com eles, mas, até o final do ano, certamente virá coisa boa por aí”, declarou a atriz.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de abril de 2022