O autointitulado “pop trovador”, Gustavo Magno, cantor, compositor e poeta potiguar faleceu aos 52 anos, no domingo (30), depois de sofrer um AVC e permanecer internado por alguns dias, em um hospital de João Pessoa. Radicado na Paraíba, absorveu o que tinha de melhor da produção local, sobretudo o coletivo Musiclube. Adicionou a essa produção textual e audiovisual referências nacionais: Raul Seixas, ídolo que homenageou, num show (vestido como tal), no início da década de 1990; e Belchior, que apadrinhou um de seus discos, nos idos de 2000.
A carreira de Magno na música deslanchou a partir de seu encontro com o jornalista e “agitador” cultural Carlos Aranha, no fim dos anos 1980 — uma amizade que permaneceu até o falecimento de Aranha, em 2024; Magno detinha, inclusive, a curatela de Aranha, que sofria de sérios problemas de saúde.
Em entrevista para A União, quando da passagem do mentor, Magno destacou a gravação do LP Sociedade dos Poetas Putos, estreia de Aranha como intérprete, em 1989. “Ele gostava de incentivar os novos artistas, criando projetos e liberando apoio, por meio de verba, quando estava ocupando cargos públicos na cultura”, revelou há um ano.
Por intermédio de Aranha, então editor setorista do Correio da Paraíba, Magno tornou-se colaborador do veículo com a coluna “Todo jornal que eu leio”, cujos textos foram compilados, depois, em livro. Quem recorda esse momento é o pessoense Augusto Magalhães, também jornalista e ator.
“Eu trabalhava na editoria do Correio e desfrutava da convivência dele tanto no jornal quanto fora da redação porque tínhamos gostos em comum na música e na literatura. Uma amizade muito saudável, com conversas muito produtivas em encontros, geralmente, nas noites e nos antigos bares da Lagoa”, remonta.
Magno lançou discos com composições autorais — o primeiro deles Em Terra de Cego, de 2002. Nessa época, estreitou contato com o cearense Belchior, que veio ao lançamento do álbum, em João Pessoa. Seis anos mais tarde, trouxe a público Divina Virtude, CD que continha a versão musicada de “Versos íntimos”, clássico poema de Augusto dos Anjos.
“Gustavo tinha um domínio de palco muito bacana em sua performance cover de Raul Seixas, além de uma produção cultural própria marcante. Foi um dos artistas da nova geração que eu mais admirava. Uma pena que tenha se despedido tão cedo”, arremata Augusto.
Ana Maia, diretora da Casa da Pólvora, na capital, volta mais no tempo para recordar as expectativas que Gustavo Magno acalentava em relação ao seu futuro caminho das artes. A dupla manteve contato quando Ana atuava como repórter revisora de A União, no começo dos anos 1980.
“Ele deveria ter o quê, uns 12, 13 anos? E já sonhava transformar-se num grande músico. Nos reencontramos há dois anos. Lembro muito bem da luta dele, que, como outros artistas da Paraíba, só são valorizados quando fazem sucesso lá fora, infelizmente”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de dezembro de 2025.
